Edição nº 581

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 28 de outubro de 2013 a 03 de novembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 581

Hemocentro comemora 20 anos de transplantes de medula óssea

Pioneira no Interior, unidade da Unicamp atingiu a marca de 1.122 procedimentos

Há 20 anos, o Brasil discutia entre acadêmicos e membros da equipe econômica do governo Itamar Franco, propostas para combater a inflação – de 206% ao mês – através de choques heterodoxos. As altas taxas de inflação, que marcaram o ano de 1993, levaram o governo a editar a medida provisória que criou o Cruzeiro Real e um ano depois seria transformado em Real. A inflação (IPCA) despencou em 1993 de 2.477,15% para 916,46% (94), e para 22,41% em 1995.

Nesta mesma data, acontecia no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, o primeiro transplante de medula óssea do interior do Estado, em uma paciente com diagnóstico de leucemia mielóide crônica (LMC). Como boa parte dos componentes laboratoriais e medicamentos eram importados, a instituição enfrentava, ainda, o desafio de vencer uma inflação diária para salvar vidas. A primeira paciente faleceu alguns meses depois, mas Severina Gomes, a segunda pessoa transplantada, conseguiu vencer uma anemia aplásica depois de uma doação do irmão. Hoje, aos 57 anos, leva uma vida normal.

Exatos 20 anos depois, a enfermeira Maria Aparecida dos Santos recebeu alta do HC da Unicamp após um transplante bem-sucedido. Foram 14 anos, depois do diagnóstico de leucemia mielóide crônica, aguardando um doador compatível não aparentado. Apesar de o Brasil ser hoje o terceiro maior banco de doadores do mundo, com 3 milhões de pessoas, ainda é um desafio o baixo número de doadores compatíveis. Até agora, o Hemocentro da Unicamp realizou 1.122 transplantes (740 transplantes alogênicos e 382 autólogos).

“É um casamento indissolúvel pelo resto da vida”, diz Afonso Vigorito, coordenador do serviço de transplantes de células-tronco hematopoéticas (TCTH) - denominado genericamente de transplante de medula óssea, se referindo ao transplantado que precisa de um acompanhamento constante da equipe médica. O transplante de medula e de células-tronco sanguíneas aumentou a taxa de sobrevivência para alguns tipos de câncer hematológico para 90%. Antes, as chances de cura beiravam zero.

Para a coordenadora do Hemocentro da Unicamp, Sara Saad, as equipes do Hemocentro e do HC da Unicamp desenvolveram uma larga experiência na estruturação do grupo multidisciplinar com médicos e enfermeiros, treinados no Brasil e no exterior. “Nosso centro está entre os melhores da América do Sul em pesquisa científica e atendimento”, enfatiza Saad. Nesse período, foram 31 teses de mestrado, 20 de doutorado e quatro de pós-doutorado relacionados aos transplantes de células-tronco hematopoéticas. A produção científica se completa com 58 trabalhos publicados em revistas internacionais indexadas.

Trinta e quatro anos após a realização do primeiro transplante no Brasil, realizado pelo professor Ricardo Pasquini, em Curitiba, existem no país mais de 40 centros, concentrados principalmente nas regiões Sul e Sudeste. São Paulo é o Estado com o maior número de procedimentos ao ano, cerca de 45% do total. No mundo todo são cerca de 60 mil transplantes feitos todos os anos.

De acordo com Cármino Antônio de Souza, que foi o responsável pela criação da unidade na Unicamp, o serviço de transplantes de células-tronco hematopoéticas começou a ser planejado em 1991, a partir do momento em que o Hemocentro estava preparado para a área assistencial e com o laboratório de HLA montado. Segundo ele, a estruturação da unidade na Universidade custou, na época, cerca de U$S 250 mil financiados pela Secretaria de Estado da Saúde. “Esse valor correspondia a um transplante realizado nos Estados Unidos”, recorda.

No entender do médico Afonso Vigorito, a limitação nos transplantes na Unicamp é estrutural, pois desde o início atua com um módulo hospitalar com sete apartamentos e nove leitos no quarto andar do Hospital de Clínicas. Só para lembrar, diz o hematologista, hoje a Unicamp realiza mais transplantes em leucemias agudas, procedimento habitualmente mais oneroso e de maior permanência hospitalar do que há 20 anos. “Além disso, ocorreu uma importante modificação no cenário dos transplantes com a implantação de novas técnicas, como o transplante de intensidade reduzida e a utilização de novas fontes como o sangue de cordão umbilical e de célula-tronco do sangue periférico”.

Foi aí que a ideia de montar um hospital hemoterápico e hematológico tornou-se mais concreta. Ao longo dos anos, o Hemocentro desenvolveu um projeto de construção de sua unidade de assistência ambulatorial e hospitalar, que vai triplicar o número de leitos aos pacientes hematológicos e para os transplantes. A área e as fundações estão prontas e o custo total para conclusão da obra é de cerca de R$ 35 milhões.

Para que se realize um transplante de medula é necessário que haja total compatibilidade tecidual entre doador e receptor, caso contrário, as células transplantadas podem iniciar um processo de rejeição ao receptor. Esta compatibilidade tecidual (histocompatibilidade) é determinada por um conjunto de genes localizados no cromossomo 6 – que contém genes ligados à defesa do corpo contra bactérias e vírus – por isso, devem ser iguais entre doador e receptor. Esta análise é realizada em testes laboratoriais específicos a partir de amostras de sangue de doador e receptor, chamados de exames de histocompatibilidade (HLA). Com base nas leis de genética, as chances de um indivíduo encontrar um doador ideal entre irmãos (mesmo pai e mesma mãe) são de 35%.

Quando não há um doador aparentado (um irmão ou outro parente próximo) disponível, como foi o caso de Maria Aparecida dos Santos, a solução é procurar um doador compatível entre os grupos étnicos semelhantes. Desta forma, surgiram os primeiros Registros de Doadores de Medula, em que voluntários de todo o mundo são cadastrados e consultados para pacientes de todo o planeta. Hoje, já existem mais de 20 milhões de doadores nos registros mundiais.

Afonso Vigorito enfatiza que o Hemocentro da Unicamp, através do serviço de TCTH, definiu uma linha de investigação local e internacional muito relevante em que o grupo foi associado ao European Bone Marrow Transplantation Group e pelo Registro Internacional de TMO (CIBMTR). “Estes registros têm como objetivo avaliar, em reuniões anuais, os resultados dos transplantes no mundo e discutir o aperfeiçoamento do procedimento”, ressalta Vigorito.

Novas tecnologias de laboratórios empregadas em serviços na Europa e nos Estados Unidos, como exames de quimerismo – STR, PCR quantitativo para diagnóstico de infecção viral e PCR quantitativo para monitoramento da LMC, são disponibilizadas pela Unicamp mesmo sem a cobertura do SUS. “Olhar o passado nos permite um diagnóstico mais aproximado do futuro. Tudo isso faz do Hemocentro da Unicamp uma instituição fundamental para o sistema público de saúde e para formação de profissionais qualificados”, afirma Sara Saad.

 

Medula óssea 

Um tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos, sendo conhecida popularmente por “tutano”. Na medula óssea são produzidos os componentes do sangue: as hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas.

As hemácias transportam o oxigênio dos pulmões para as células de todo o nosso organismo e o gás carbônico das células para os pulmões, a fim de ser expirado. Os leucócitos são os agentes mais importantes do sistema de defesa do nosso organismo.

O médico E. Donnall Thomas, pioneiro no uso de transplante de medula óssea para tratar pacientes com leucemia e ganhador do Nobel de medicina em 1990, fez os primeiros transplantes na década de 60 e, em 1970, publicou o primeiro trabalho relatando um grande número de transplantes. Ele morreu no ano passado, em Seattle, nos EUA, aos 92 anos.

No transplante autólogo, utiliza-se a célula-tronco do próprio paciente, que é retirada após um processo de mobilização, para ser recolocada depois de uma quimioterapia de alta dose. Com este processo, espera-se destruir o tumor alvo do procedimento e restaurar o sistema imunológico e sanguíneo do paciente. Já no transplante alogênico, os médicos utilizam células de irmãos ou dos bancos públicos.

Comentários

Comentário: 

Oi meu nome é camila de souza sou moradora de Junqueirópolis- SP tenho 19 anos. Tenho um filho que se chama Ygor Aparecido de Souza oliveira ele tem 2 anos. Ele é portador de uma doença rara que se chama ADRENOLEUCODISTROFIA ele precisa urgentemente de um transplante de medula. Estou mandando esse tecado pois meu cunhado que mora ai em Campinas falo para mim que a universidade é muito Boa.. E que vocês podem mi Ajuda. Conto com a atenção de vocês. Obrigada!

camilasouza_junk@hotmail.com