Literatura Infantil (1880-1910)
O Rio Da
mata no seio umbroso, No
verde seio da serra, Nasce
o rio generoso, Que
é a providência da terra. Nasce
humilde, e, pequenino, Foge
ao sol abrasador; É
um fio d’água, tão fino, Que
desliza sem rumor. Entre
as pedras se insinua, Ganha
corpo, abre caminho, Já
canta, já tumultua, Num
alegre burburinho. Agora
o sol, que o prateia, Todo
se entrega, a sorrir; Avança,
as rochas ladeia, Some-se,
torna a surgir.
Recebe
outras águas, desce As
encostas de uma em uma, Engrossa
as vagas, e cresce, Galga
os penedos, e espuma.
Agora, indômito e ousado, Transpõe
furnas e grotões, Vence
abismos, despenhado Em
saltos e cachoeirões. E
corre, galopa. cheio De
força; de vaga em vaga, Chega
ao vale, larga o seio, Cava
a terra, o campo alaga... Expande-se,
abre-se, ingente, Por
cem léguas, a cantar, Até
que cai, finalmente, No
seio vasto do mar...
Mas
na triunfal majestade Dessa
marcha vitoriosa, Quanto
amor, quanta bondade Na
sua alma generosa! A
cada passo que dava O
nobre rio, feliz Mais
uma árvore criava, Dando
vida a uma raiz. Quantas
dádivas e quantas Esmolas
pelos caminhos! Matava
a sede das plantas E
a sede dos passarinhos...
Fonte
de força e fartura, Foi
bem, foi saúde e pão: Dava
às cidades frescura, Fecundidade
ao sertão...
E
um nobre exemplo sadio Nas
suas águas se encerra; Devemos
ser como o rio, Que
é providência da terra:
Bendito
aquele que é forte, E
desconhece o rancor, E,
em vez de servir a morte, Ama
a Vida, e serve o Amor! |