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As Sinfonias de Anton Bruckner 
(uma sinopse das diversas versões)

(C) 1996, 1998, 2000, 2012

por José Oscar Marques

jmarques@unicamp.br


Este é um texto simples, para ser usado como uma referência introdutória em questões sobre as múltiplas versões das sinfonias de Bruckner. Eu o redigi para meu próprio uso e aprendizagem, mas acredito que possa ser de utilidade para outras pessoas com as mesmas dúvidas que eu tinha quando comecei a pesquisar o assunto. A maior parte das informações aqui relacionadas deve-se a conversações com David Griegel, Henry Fogel e Juan Cahis. É claro que eles não são responsáveis pelas imprecisões que ele possa conter.

Este texto foi redigido originalmente em inglês (versão original)

Uma excelente e atualizada discografia das sinfonias de Bruckner, mantida por John F. Berky, pode ser consultada em:  http://www.abruckner.com. Para facilitar a consulta, adicionei um link para a parte da discografia correspondente a cada sinfonia.


 


Sinfonia em fá menor "Studiensymphonie" (n. 00)

Versão original
(e única), iniciada em 15 de fevereiro de 1863 e completada em 26 de maio do mesmo ano. Primeira execução por Franz Moissl em 18 de março de 1924. Publicada por Nowak (1973) .

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Sinfonia em ré menor "die Nullte" (n. 0)

Versão original
(e única), completada em 1869. É duvidoso que tenha existido uma versão anterior (1863) desta sinfonia, como se acreditou. Primeiro edição (1924, Universal) por J. Wöss, não fidedigna porque contém mudanças introduzidas por Wöss. Primeira execução em 12 de outubro de 1924 em Klosterneuburg sob a direção de Franz Moissl. Edição crítica por Nowak (1968) .

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Sinfonia n. 1 em dó menor

Versão original
, composta em Linz entre maio de 1865 e abril de 1866. Estreada em Linz em 9 de maio de 1868, sob a direção de Bruckner. Haas não publicou uma edição desta versão mas forneceu uma descrição. Uma reconstrução completa foi preparada por William Carragan em 1998.

Versão de 1877
, também chamada "Versão de Linz" (erroneamente, dado que Bruckner havia deixado Linz em 1868). É o resultado de uma revisão rítmica realizada em 1877, embora inclua talvez pequenas mudanças feitas até 1884. Esta é a versão comumente executada. As edições Haas (1934) e Nowak (1953) desta versão não têm nenhuma diferença significativa.

Versão revisada preparada por Bruckner em 1889/1891, também chamada "Versão de Viena". Primeira execução em Viena em 13 de dezembro de 1891 por Hans Richter. A edição crítica moderna desta versão é de G. Brosche (1980).

A primeira edição da sinfonia, publicada por Doblinger em 1893 sob supervisão de Hynais, baseia-se nesta versão revisada, embora com pequenas mudanças em relação à partitura manuscrita de 1891 (algumas destas mudanças foram aceitas por Haas como autênticas em sua edição (1934) da versão de Viena).

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Sinfonia n. 2 em dó menor

Versão de 1872
(versão da primeira concepção), composta entre 11 de outubro de 1871 e 11 de setembro de 1872. Edição crítica por William Carragan para a Sociedade Bruckner.

Versão de 1873
(versão da primeira execução) preparada para a première em 26 de outubro de 1873 pela Filarmônica de Viena sob a direção de Bruckner. Houve muitas mudanças nesta revisão. A ordem dos movimentos internos foi invertida; o solo de trompa ao final do Adagio foi mudado para um solo de clarinete, e, ainda no Adagio, acrescentou-se um solo de violino. As repetições do Scherzo e do Trio foram canceladas, uma passagem no Finale foi completamente reescrita, e um quarto trombone foi acrescentado nos compassos finais para reforçar a linha do baixo. Versão crítica por William Carragan (ainda inédita).

Versão de 1876
, preparada em 1875-76 e executada em 20 de fevereiro de 1876 também pela Filarmônica de Viena dirigida por Bruckner. Desta vez as mudanças foram poucas. No Finale, foi restaurado algum material da versão de 1872 que havia sido cortado em 1873, e foi encurtada a nova passagem acrescentada em 1873, o quarto trombone foi removido dos compassos finais e, em seu lugar, foram introduzidas cordas em uníssono.

Versão de 1877, apresenta mudanças mais significativas. Comparada à versão de 1872, houve um corte no primeiro movimento (embora esse corte possa ter sido feito em 1876). Também houve um corte no Adágio, e o solo de violino foi removido. O Scherzo foi modificado ligeiramente, com alguns compassos sendo repetidos ao término do Scherzo e de sua reprise. No Finale a nova passagem (que fora encurtada em 1876) foi removida e substituída por outra passagem diferente. Os compassos finais foram mais uma vez modificados, principalmente as partes de trompete, e os últimos compassos de primeiro movimento foram um pouco alongados.
Nem a edição de Haas (1938) nem a de Nowak (1965) representam versões puras. Ao contrário do que ainda se diz comumente, Haas não apresentou a versão original, mas baseou-se principalmente na versão de 1877, com alguns elementos da versão de 1872. A edição Nowak é, na realidade, uma aproximação mais exata da versão de 1877, desde que os cortes sejam observados e corrija-se um erro nas partes de trompete ao final do primeiro movimento. A nova edição definitiva de William Carragan (1997) remove da edição de Nowak as anomalias que ela herdara de Haas.

Versão de 1892
, com pequenas revisões feitas por Bruckner entre 1891 e 1892. Os compassos finais alongaram-se um pouco mais, e novas partes de trombone, semelhantes às partes de trompete de 1877 foram introduzidas nos últimos momentos do Finale. Esta versão é usada na primeira edição, publicada em 1892 por Doblinger sob a supervisão de Hynais, e depois republicada muitas vezes. A edição de Doblinger foi considerada não autêntica por muito tempo, mas hoje é reconhecida como como sendo uma realização mais acurada da versão de 1877 do que as próprias edições de Haas ou Nowak.

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Sinfonia n. 3 em ré menor

Versão original de 1873
, composição iniciada em 23 de fevereiro de 1873, partitura completa concluída em 31 de dezembro de 1873. Um esboço anterior fora apresentado a Wagner em Bayereuth em setembro 1873, quando o Finale ainda não tinha sido orquestrado. Uma cópia final completa foi enviada mais tarde a Wagner, na primavera de 1874, e esta é a base da edição de Nowak (1977).

Versão de 1874
, representou, de acordo com Bruckner, "uma melhoria considerável da primeira versão ". Não publicada e não gravada.

Versão de 1876, é o resultado de uma revisão rítmica; só o Adágio desta versão foi publicado até agora, por Nowak.

Versão de 1877
, realizada entre 1876-77. As citações de Wagner foram suprimidas, o Finale encurtado e o Scherzo ganhou uma nova conclusão. Executada em Viena em 16 de dezembro de 1877, sob a direção de Bruckner. A primeira edição foi publicada em 1880 por Rättig, com algumas pequenas diferenças em relação ao autógrafo da versão de 1877, como a eliminação da coda do Scherzo (de fato a coda leva a indicação "não imprimir" no autógrafo). Não há uma edição Haas desta sinfonia, e a primeira edição crítica para a Sociedade Bruckner foi preparada por Oeser em 1950. A edição de Oeser é uma mistura da versão de 1877 e da edição de 1880, pois está baseada na partitura manuscrita mas segue a partitura impressa ao deixar de fora a coda do Scherzo. A edição Nowak da versão de 1877 (incorporando a coda do Scherzo) apareceu em 1981 e desde então tornou-se a edição mais aceita da obra.

Versão de 1888/89
, é uma revisão feita com ajuda de Franz Schalk durante os anos 1888-89. A obra foi ainda mais abreviada, e a Coda do Scherzo foi mais uma vez abandonada. Mudanças na orquestração modificaram todo o clima da obra, tornando-a mais próxima do mundo sonoro das últimas sinfonias. Esta versão foi publicada com algumas modificações por Rättig em 1890 (segunda edição). Executada pela primeira vez em 21 de dezembro de 1890 pela Filarmônica de Viena sob a direção de Hans Richter. A edição crítica desta versão é de Nowak (1959). Antes da recente proeminência da versão de 1877 versão, esta era a versão mais executada.

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Sinfonia n. 4 em mi bemol maior "Romântica"

Versão original
, composta entre 2 de janeiro e 31 de outubro de 1874, orquestração terminada em 22 de novembro. Editada por Nowak (1975).

Versão de 1878
- O Scherzo e o Trio foram substituídos por peças inteiramente novas. O primeiro movimento, o Andante e o Finale foram completamente revisados. Este Finale de 1878 (Volksfest) foi publicado separadamente por Haas (1936 app.) e Nowak (1981).

Versão da primeira execução
- Em 1880 o Finale foi substituído pelo que conhecemos hoje. Essa foi a versão usada na première da obra, em 20 de fevereiro de 1881 por Hans Richter. Não publicada e não gravada.

Versão de 1881 - foram feitas revisões logo após a primeira execução, incluindo um corte no Andante e uma reconstrução não-trivial do Finale. Essa foi a versão apresentada (com alguns cortes) na segunda execução da obra em 10 de dezembro de 1881 por Felix Mottl em Karlsruhe. Usualmente denominada "versão de 1878/1880". Publicada por Haas (1936). (Em 1944 Haas publicou outra edição que é de fato uma mistura das versões de 1881 e 1878).

Versão de 1886
- Algumas pequenas modificações, antes de enviar a partitura para Anton Seidl em Nova York. É possível que as modificações tenham sido completadas já em 1882. A versão publicada por Nowak (1953) baseou-se nessa partitura, decoberta na Universidade de Columbia. Também usualmente denominada "versão de 1878/1880".

Versão revisada de 1887-88
, instigada por Loewe mas hoje admitida como sendo principalmente trabalho do próprio Bruckner. Essa é a versão usada na primeira edição da sinfonia, publicada em 1889 por Guttmann em Viena. Executada em Munique (Levi?) em 10 de dezembro de 1890.


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Sinfonia n. 5 em si bemol maior

Versão original
composta entre fevereiro de 1875 e maio de 1876. A revisão posterior foi feita sobre a mesma partitura, assim, não é possível recuperar esta versão original, embora Haas tenha fornecido algumas indicações nessa direção.

Versão de 1878.
Uma revisão completa foi concluída em novembro de 1878. As edições Haas (1935) e Nowak (1952) desta versão não apresentam nenhuma diferença significativa entre si.

Versão revisada
feita em 1892-4 por Franz Schalk e usada na estréia da obra (Graz, 8 de abril de 1894). Foi publicada em 1896 por Doblinger (primeira edição). Bruckner teve muito pouco a ver com esta revisão, que efetua grandes cortes, especialmente no Finale.

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Sinfonia n. 6 em lá maior
Versão original composta de setembro de 1879 a setembro de 1881. Nunca foi modificada por Bruckner. As edições Haas (1935) e Nowak (1952) não apresentam nenhuma diferença significativa.

Versão ligeiramente revisada
por C. Hynais para a publicação por Doblinger em 1899 (primeira edição). Embora o trabalho de Hynais tenha sido meticuloso, o texto final impresso contém muitos erros e mudanças introduzidas por mão desconhecida. Uma outra edição desta versão, preparada por Wöss, foi publicada em 1927.

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Sinfonia n. 7 em mi maior

Versão original
, composta entre 23 de setembro de 1881 e10 de agosto de 1883. Estréia em Leipzig em 30 de dezembro de 1884 (regida por Arthur Nikisch). A revisão posterior foi mais uma vez realizada sobre o texto original, de modo que não é possível preparar uma edição da versão de 1883, embora a edição de Haas (1944) tenha restabelecido algumas partes dela.

Versão de 1885
- Algumas modificações foram introduzidas por Bruckner sob a influência de Schalk, Loewe, e Nikisch (entre outras coisas, a ínclusão de pratos, triângulo e tímpanos no Adagio). Estas mudanças foram feitas logo após a estréia e estão incorporadas à primeira edição da obra, publicada por Gutmann (1885). Algumas das mudanças de andamento e dinâmica, embora não tenham sido feitas pela mão de Bruckner, foram sancionadas por Nowak em sua versão (1956) ecolocadas entre parênteses. Se forem omitidas, resta pouca diferença entre as versões de Haas e Nowak. A percussão é igualmente mantida por Nowak no Adagio, enquanto Haas a omite. Uma passagem famosa é a batida dos pratos (acompanhados do triângulo) no climax do Adagio, que alguns regentes incluem, outros não.

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Sinfonia n. 8 em dó menor

Versão original
, composta de outubro de 1884 a agosto de 1885. Numerosas e importantes revisões foram feitas até julho de 1887. A primeira publicação desta versão raramente executada é de Nowak (1977). 

Versão de 1890
, preparada por Bruckner e Josef Schalk. A edição crítica é de Nowak (1955). Inclui uma reconstrução do final do primeiro movimento (que passa de altissonante para tranqüilo), e mudanças substanciais no Adagio e no Trio. Além disso, alguns cortes foram feitos a conselho de Schalk. A edição de Nowak inclui todas essas mudanças e cortes, e os considera como representando as decisões finais de Bruckner. A edição de Haas (1935), se deixarmos de lado algumas complicações menores, pode ser considerada basicamente uma combinação das versões de 1887 e 1890. Haas aceitou as reformulações e mudanças como sendo genuínas decisões de Bruckner, mas restaurou todos os cortes introduzidos sob a suposta influência de Schalk. Por causa disso, ela é um pouco mais longa que a de Nowak. Esta, entre todas as sinfonias de Bruckner, é a que apresenta as maiores diferenças entre as edições de Haas e Nowak, e as preferências dos regentes distribuem-se uniformemente entre elas.

Versão revisada de 1892
, preparada para a publicação da primeira edição por Robert Lienau, naquele mesmo ano. Cortes adicionais foram feitos por sugestão de Schalk, que também introduziu mudanças de dinâmica, fraseado e orquestração.

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Sinfonia n. 9 em ré menor

Ao morrer, em outubro 1896, Bruckner tinha completado os primeiros três movimentos e deixado copiosos esboços para o Finale.


Versão original
Os primeiros três movimentos foram compostos entre setembro de 1887 e novembro de 1894. Edição crítica por Orel (1932). A edição de Nowak (1951) só corrigiu alguns poucos erros tipográficos de menor importância na edição de Orel.

Versão revisada de 1903
preparada por Loewe para a primeira edição, publicada por Doblinger no mesmo ano. Contém um grande número de mudanças que Bruckner jamais autorizou.

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(Foi a execução da 9a. sinfonia em 1932, num concerto semi-privado pela Filarmônica de Munique sob a direção de Siegmund von Hausseger, nas edições Loewe e Orel, que proporcionou o impulso inicial para apoiar e financiar a Sociedade Bruckner no preparo de versões autênticas de todas as sinfonias.)


O Finale da Sinfonia n. 9

A história das tentativas de comlpletar do Finale da Nona Sinfonia a partir do material deixado por Bruckner é complexa, e não pretendo cobri-la aqui. Limito-me a indicar as duas completações mais conhecidas.

Entre 1981 e 1983, William Carragan preparou sua completação do Finale, que foi publicada em 1984, e revisada sucessivamente em 2003, 2006 e 2010. Todas essas versões foram gravadas.

Entre 1983 e 1985, Nicola Samale e Giuseppe Mazzuca prepararam outra completação do Finale, publicada em 1987. Posteriormente dois outros membros (John A. Phillips e Benjamin-Gunnar Cohrs) juntaram-se à equipe e preparam uma nova completação, publicada em 1992 e revisada em 1996. Em 2005 Samale e Cohrs publicaram uma nova edição dessa completação, e ainda uma nova revisão foi publicada em 2008. Por fim, uma revisão final (?) foi concluída em 2011. Todas essas versões foram igualmente gravadas.


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