Mesa Temática Viagens e viageiros dos séculos XVIII e XIX
27 de julho de 2000
VII Congresso da Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC)
UFBA, Salvador

Coordenação: Karin Volobuef (UNESP)

Comunicações:

1. Do "Brasil" de Defoe ao "Brasil" de Rousseau: Indivíduo e Novo Mundo
    Raquel de Almeida Prado (USP)

Resumo: Tanto St.-Preux, o herói do romance de Rousseau (A Nova Heloísa), quanto o Robinson Crusoe de Daniel Defoe passam pelo Brasil no início da viagem que deve levá-los, no primeiro caso, à sociedade ideal instituída por Júlia e Wolmar, e no segundo, à ilha deserta onde o “homo economicus” consuma o seu destino de conquistador. A maneira segundo a qual essa passagem é referida nos dois romances, ora servindo de pretexto para uma reflexão crítica, que denuncia a exploração do homem pelo homem, ora ilustrando essa mesma exploração – Robinson é engajado no Brasil a vender escravos -, permite uma comparação que revela o abismo ideológico que separa o filósofo genebrino do romancista inglês. Diante dessa constatação, ainda resta imaginar o que teria levado Rousseau a eleger Robinson Crusoe como única leitura de Emílio, no seu tratado de educação; a partir daí, podemos concluir, propondo dois modelos divergentes da afirmação individualista na história da formação do romance moderno.
2. Um romântico em viagem científica
    Karin Volobuef (UNESP) - Coordenadora
Resumo: A fama de Adelbert von Chamisso (1781-1838), um dos grandes românticos alemães, repousa em sua Espantosa história de Peter Schlemihl, cujos elementos mágicos contrastam com seu interesse pela medicina e botânica. Em 1815-18 correu o mundo, escrevendo a seguir os Comentários e opiniões durante uma viagem de descoberta, que inauguram em língua alemã a narrativa de viagem com fins científicos. Os dados e impressões colhidos por Chamisso compõem um rico filão para os estudos comparados que até agora não recebeu a atenção merecida. Analiso aqui esses Comentários sob dois aspectos: a) construção como diário de viagem dedicado à investigação e registro do mundo natural, em oposição à narrativa de viagem de cunho fantástico característica da literatura romântica alemã; b) representação do impacto sofrido pelo europeu confrontado com o estrangeiro e o desconhecido. Como o itinerário incluiu uma passagem por Santa Catarina, serão analisadas mais detidamente as anotações do autor sobre flora, fauna e paisagem brasileiras
3. Notas de viagem, passeios reflexivos
    Maria Valderez de Colletes Negreiros (UNESP)
Resumo: Propomos analisar pensamentos, escritos epistolares e as viagens de Montesquieu, que representam a imagem de um “flâneur” ilustrado e crítico. As anotações de viagem testemunham esses esboços esparsos nos quais encontramos reflexões filosóficas que permeiam sua atenção de geógrafo. A paisagem natural é captada pelo olhar disperso entre idéias e imagens que recriam o quadro estético, poético e ético. A leitura epistolar ou a cartografia improvisada dos viajantes “persas” revelam a natureza e o homem, o mar e a terra e mapeiam os povos pelas suas diferenças: o outro das civilizações.


4. Protestantes e pietistas na América: Ina von Binzer
    Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas (UNESP)

Resumo: Os sofrimentos e alegrias de uma educadora alemã no Brasil, de Ina von Binzer, cidadã alemã que permaneceu no Brasil de 1881 a 1884 como preceptora, é obra na qual se pode reconhecer a tensão entre as concepções pedagógica e moral da tradição protestante frente a uma incipiente “sociedade brasileira”. Classificada por Paulo Duarte sob o gênero “brasiliana”, o diário de von Binzer alia a perspectiva da literatura de viagem a um subjetivismo pietista que certamente lançou raízes em algumas regiões do país. Nesta intervenção, pretendo estabelecer uma genealogia histórico-literária na qual se inserem o diário de von Binzer, o “Robinson Crusoe” de Defoe e o diário de viagem de Hans Staden, relatos no qual a narrativa de viagem e o subjetivismo religioso aliam-se para descrever a América que os europeus protestantes então descobriam.