| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 338 - 25 de setembro a 1 de outubro de 2006
Leia nesta edição
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Candidatos e Sustentabilidade
Canoa antiga
Cartas
10 mil teses digitais
Ceset
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Yaro Burian
Som da orelha
Monja Coen no Caism
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ARTIGO

Os candidatos e a sustentabilidade

LEILA DA COSTA FERREIRA

Leila da Costa Ferreira é professora titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp e presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ambiente e SociedadeÀs vésperas das eleições presidenciais, é notória a lacuna nos programas de governo dos candidatos em relação à sustentabilidade. No entanto, especialmente no caso brasileiro, a reflexão sobre a relação entre a sustentabilidade e a política deveria permear o debate, seja na esfera federal, na estadual ou municipal. Inserido em um continente com os maiores índices de biodiversidade do planeta e, ao mesmo tempo, alguns dos maiores indicadores de desigualdade social do mundo, o Brasil é uma democracia recente e em construção. Ao demonstrar a necessidade de utilizar recursos naturais e o patrimônio sociocultural de forma planejada, e com vistas ao bem-estar das gerações atual e futuras, assim como ao equilíbrio ambiental global, a jovem democracia brasileira estaria ensinando uma boa lição a outras nações.

Infelizmente, não é o que se vê nas preocupações dos candidatos. Mas não porque a sustentabilidade não possa ser associada à política. O conceito de sustentabilidade comporta várias dimensões, tornando-se transversal e abrangendo todas as dimensões da vida humana, e não apenas as relações diretas com a natureza. A idéia de sustentabilidade pode ser fortemente associada a outras três dimensões sociais consagradas no pensamento político do século XX: democracia, eqüidade e eficiência.

Em uma sociedade democrática, o governo é escolhido em eleições livres e competitivas e regras escritas na forma de lei regulam efetivamente as relações sociais. Além disso, os direitos individuais têm correlatos nos deveres coletivos, e esses têm predomínio sobre os individuais.

Em uma sociedade eqüitativa, todos os indivíduos – independente de gênero, origem social, raça, idade, credo e ideologia – têm as mesmas oportunidades para se desenvolverem. O que se herda tem importância mínima, em contraposição ao que se adquire.

Por fim, as dimensões fundamentais de uma sociedade eficiente são a avaliação custo-benefício na tomada de decisões, uma equilibrada combinação de competição e cooperação nas regras do jogo e a promoção contínua do desenvolvimento científico-tecnológico.

Uma sociedade sustentável é aquela que mantém o estoque de capital natural, ou compensa uma reduzida depleção natural pelo aprimoramento do capital tecnológico, permitindo o desenvolvimento das gerações futuras e colocando o interesse coletivo acima de todos os outros. Em uma sociedade sustentável, o progresso é medido pela qualidade de vida – saúde, longevidade, maturidade psicológica, educação, ambiente limpo, espírito comunitário e lazer criativo que, espera-se, sejam acessíveis a todos – em vez do puro consumo material.

É preciso lembrar que tanto os padrões de consumo da pobreza como os da riqueza, juntos, contribuem para a deterioração da capacidade de suporte do planeta. No entanto, a força propulsora dominante do esgotamento dos recursos naturais situa-se no padrão de consumo dos países altamente industrializados e detentores de alta tecnologia. Conseqüentemente, a atenção deve ser deslocada da questão tecnológica como solução da escassez absoluta – que se refere ao esgotamento propriamente dito do estoque de recursos – para uma abordagem política e sociológica como forma de enfrentar a escassez relativa – quando padrões insustentáveis de produção e consumo atuam como fatores determinantes do esgotamento.

É um erro enxergar a finitude dos recursos, e sua conseqüente escassez e esgotamento, como parte de uma relação linear de causalidade, em que a variável determinante é o quantum tecnológico da sociedade. O otimismo tecnológico é bastante elevado na corrente que segue o padrão da fraca sustentabilidade – onde a substituição absoluta do capital natural pelo capital material é feita por meio da tecnologia, que absorve a totalidade dos recursos oriundos do crescimento econômico.

Em contraposição, no padrão da forte sustentabilidade, as duas formas de capital não são substituíveis e o crescimento econômico, portanto, depende da manutenção constante do estoque de capital natural. Ou seja, é preciso manter as bases físicas da natureza inalteradas por intermédio de instrumentos políticos.

É possível, portanto, transcender a dimensão puramente ambiental da sustentabilidade, e envolver parâmetros políticos que dizem respeito às normas e critérios sociais para apropriação do capital natural. De outro lado, a questão da sustentabilidade tem, graças a sua especificidade interdisciplinar, o mérito de apresentar ao pensamento político alguns “problemas” de ordem conceitual, no mínimo, instigantes. É preciso reconhecer as várias formas de conhecimento e as práticas que as sustentam para incorporá-las em uma relação horizontal, não-relativista, argumentativa.

A sustentabilidade constitui uma posição especial para este tipo de reflexão: é uma análise que se constrói temporalmente, que recusa o império da fragmentação e dispersão, que não substitui sem mais os objetos de reflexão política consagrados, mas coloca-se em um outro campo epistemológico – o da contemporaneidade radical dos acontecimentos.

Canoa antiga vem à tona

GLÓRIA TEGA (*)

Uma canoa feita de um só tronco de árvore escavado (monóxila) foi encontrada por moradores que pescavam no rio Jaguari, entre as cidades de Vargem (SP) e Extrema (MG). O achado só foi possível devido à estiagem, que deixou o nível do rio bem mais baixo e parte da embarcação exposta. Os pescadores fizeram a canoa flutuar, fotografaram e, como nunca haviam visto uma parecida, resolveram escondê-la novamente sob a água, desconfiando de sua importância histórica. Foi o pescador Felisberto Alves de Oliveira quem comunicou o Museu Municipal de Bragança Paulista, que repassou a informação ao arqueólogo Gilson Rambelli, pesquisador do Centro de Estudos de Arqueologia Náutica e Subaquática, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp.

Pesquisadores do Nepam, com apoio do Corpo de Bombeiros e guiados por Felisberto, retiraram, mediram, desenharam e fotografaram a canoa em 1º de setembro, mas não havia condições apropriadas para removê-la. “Protegemos a canoa com uma tela de náilon para assegurar a integridade do casco e procuramos um local com pouca correnteza para acomodá-la no fundo do rio, obedecendo a critérios internacionais de conservação. A madeira está encharcada e, se o casco secar, pode rachar e quebrar”, explica Gilson Rambelli.

Uma nova expedição fará um estudo mais detalhado da canoa e do local onde foi encontrada, definindo-se então quem se responsabilizará por sua salvaguarda. A embarcação remete a outra encontrada em 1998, no mesmo Jaguari, mas em Bragança Paulista, e exposta no museu da cidade. Ela foi identificada como indígena devido às técnicas de confecção e datada em 250 anos. “A canoa vai contar a história da região”, diz animado o pescador Felisberto de Oliveira.

(*) Glória Tega é jornalista do Centro de Estudos de Arqueologia Náutica e Subaquática, do Nepam/Unicamp

 

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