| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 336 - 11 a 17 de setembro de 2006
Leia nesta edição
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Surda e alfabetizadora
Kaingang
Carlos Gomes
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Unicamp Aberta
 

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Faculdade foi a primeira do país a
introduzir o bacharelado entre os
cursos de Educação Física

FEF integra corpo,
mente e sociedade

Tojal discursa na inauguração do prédio da FEF em 1986; Pinotti (esq) era o reitor (Fotos: Arquivo FEF)Criada em 1971, a Assessoria Técnica da Reitoria para a Educação Física e Esportes (Atrefe) funcionou durante muitos anos sob as asas do reitor Zeferino Vaz. Sua instalação cumpria determinações legais. Decreto federal de 1971 tornava obrigatória a Educação Física em todos os níveis e, no ensino superior, deveria ser desenvolvida como prática desportiva. Zeferino sempre soube fazer uso das atividades esportivas. Hoje, com bom humor, pioneiros daqueles tempos lembram que não raro o reitor esvaziava greves e manifestações de alunos e funcionários organizando concorridíssimos campeonatos. Oferecia premiação, árbitros e muitas medalhas. As quadras da universidade ficavam lotadas; a tribuna dos manifestantes, normalmente erguida no Ciclo Básico, nem tanto. Embora soubesse que na Atrefe estava nascendo o embrião da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, Zeferino sempre fazia vista grossa para as propostas de instalação da unidade. Ofícios nesse sentido voltavam com o recado curto e grosso: “lamento, mas impossível atender”.
Na realidade, a resistência era coletiva. O curso era visto pelo conjunto da Universidade como “coisa de tecnólogo”. O preconceito, em parte, vinha do fato de o curso de Educação Física só ter adquirido o status de nível superior na segunda metade da década de 50. O tempo mostrou que o preconceito era mais do que infundado. Criada em 1985, a Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp nasceu estabelecendo paradigmas. Foi a primeira do país a propor e introduzir o bacharelado na área da Educação Física nacional. O curso da Unicamp já começou com a duração de quatro anos, enquanto todas as demais faculdades adotavam programa de três.

O fim da licenciatura como única opção formativa fez com que o governo federal, por meio do MEC/CFE (pelo parecer 215/87 e da Resolução 03/87), mudasse a legislação. Foi pioneira também na abordagem multidisciplinar por meio da qual investiu na relação do aluno com a sociedade. É hoje, com folga, o curso de Educação Física que mais forma mestres e doutores no Brasil.

Idílio Abate, da Atrefe, que pediu e obteve locais para a prática esportiva O núcleo inicial do que mais tarde seria a FEF começou a se delinear em 1968/69, quando os professores João Batista Tojal e Carlos Luiz Mossa davam aulas de treinamento esportivo para as turmas de Medicina no Clube Fonte São Paulo, localizado no Guanabara. Três anos depois, quando foi criada a Atrefe, cuja sede funcionava no Colégio Técnico Bento Quirino (Rua Culto à Ciência), as aulas passaram a ser ministradas na então longínqua praça de esportes do bairro São Bernardo. A situação dos alunos e dos professores só não era mais desconfortável porque, na época, algumas unidades funcionavam na região central de Campinas, e a universidade oferecia ônibus fretados para esse deslocamento. O campus não passava de um canavial sem fim. Entretanto, o rápido crescimento da Universidade, com a instalação das primeiras unidades em Barão Geraldo, tornava urgente uma solução.

Quadras – Atento à crescente demanda, o primeiro coordenador da Atrefe, professor Idílio Alcântara de Oliveira Abate, solicitou a Zeferino um local adequado para a prática esportiva. Em dois anos – 1972 e 1973 – foram construídas 13 quadras, dois vestiários e um prédio para abrigar a sede da unidade, cujo funcionamento teve início em 1974. Três professores foram destacados para auxiliar Tojal e Mossa: Maria Lúcia Guedes Pinto Francischetti, Otávio Nogueira de Camargo – que já atuavam no Colégio Técnico – e Milton Arrivabene, que foi contratado. À medida que novos cursos foram sendo criados, à Atrefe eram incorporados professores para dar conta do grande número de alunos, a tal ponto que o órgão vinculado à Reitoria chegou a ter 33 profissionais para ministrar aulas de Educação Física nos campi de Campinas, Limeira e Piracicaba.

Paralelamente ao incremento das atividades, Tojal mantinha firme seu propósito de criar uma unidade de nível superior. Uma das ações implementadas por seu grupo, tendo à frente o professor Ídico Luiz Pelegrinotti, serviu de laboratório para essa aspiração. No começo dos anos 80, os professores iniciaram um programa envolvendo alunos de todos os cursos da Universidade – os quais cumpriam quatro semestres obrigatórios de Educação Física. Nessa experiência, o estudante aprendia fundamentos de condicionamento físico aeróbico, de esforço cardiológico, utilização de sobrecarga, entre outros conceitos da atividade física e esportiva. No início e no final do curso, testes de rendimento eram feitos na avenida de entrada do campus, e o aluno recebia um livreto com orientações para se exercitar em casa.

Em 1981, durante um jantar na casa do cirurgião vascular John Cook Lane, que naquele dia defendera sua tese de doutorado, Tojal revelou ao médico José Aristodemo Pinotti, então diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a intenção de criar uma faculdade. Disse a ele que estava estudando alguns conceitos formulados pelo teórico espanhol José Maria Cagigal, os quais cairiam como uma luva em seu projeto de implantar uma faculdade diferente de todas instaladas no país. Algum tempo depois do jantar, em abril de 1982, Pinotti seria empossado reitor. Logo depois de sua posse, numa visita à Atrefe, Pinotti perguntou a Tojal se seus planos estavam ainda em pé. Diante do entusiasmo do professor, o reitor recomendou que ele estudasse e formulasse um projeto, com justificativa para o curso, pavimentando o pedido para a sua criação.

Durante dois anos, Tojal e os professores Wagner Wey Moreira, Ídico Luiz Pelegrinotti, Bráulio Araújo Júnior e Milton Arrivabene se debruçaram sobre as diretrizes do futuro curso. João Batista Tojal redigiu de próprio punho o texto que foi entregue ao Conselho Universitário em agosto de 1984, propondo a criação da unidade. A proposta teve acolhida favorável do então Conselho Diretor da Universidade, em dezembro do mesmo ano. Pinotti incumbiu o coordenador geral dos institutos, professor Ubiratan D’Ambrosio, de cuidar dos trâmites burocráticos da implantação. D’Ambrosio disse a Tojal que seria difícil transformar o curso em instituto, mas não em faculdade, o que realmente viria a ocorrer.

A piscina em construção no final dos anos 80: período de consolidação da unidadeFaculdade – Foi realizado a toque de caixa um exame seletivo em março de 1985, sendo utilizadas as instalações esportivas da Escola de Cadetes do Exército, fora do vestibular integrado da Unicamp. No mês seguinte, o curso, ainda subordinado à Reitoria, já estava funcionando. Logo viraria faculdade, conforme previra D’Ambrosio, por meio de decreto estadual de 10 de julho de 1985. As instalações para as aulas teóricas eram precárias. A administração da nova unidade funcionava ainda no prédio da Atrefe. Havia pouco ali: dois vestiários, um ambulatório médico, uma sala onde funcionava a administração e outra para cuidar dos créditos. As aulas teóricas eram ministradas no Ciclo Básico. Iniciou-se a construção do prédio principal da unidade, que seria inaugurado em abril de 1986.

Indicado diretor, Tojal convocou os 33 professores do antigo núcleo e perguntou a todos se pretendiam permanecer como docentes do curso. Do grupo original, cerca de 15 foram envolvidos imediatamente. Alguns docentes foram contratados e outros, pertencentes a outras unidades da Unicamp, passaram a prestar colaboração: Antonia Dalla Pria Bankoff (IB); o historiador e professor de Educação Física Ademir Gebara (IFCH); o médico e matemático Euclides Custódio de Lima Filho (IMECC); e os biólogos Antonio Carlos Boschero e Aníbal Vercesi (IB). Em abril de 1986, com a posse do reitor Paulo Renato Costa Souza, João Tojal decidiu entregar o cargo que exercia por indicação. Estava fresca em sua memória a rejeição enfrentada por diretores indicados pela Reitoria em anos anteriores. Foi então eleito nas urnas, permanecendo à frente da FEF até 1990. O período coincidiu com a consolidação da faculdade. Três departamentos foram criados e o curso de pós-graduação, implantado em 1988, contou com a colaboração de outros docentes, entre os quais o educador Sérgio Goldenberg.

Também no período, a piscina recebeu os últimos retoques e o edifico principal foi concluído. Foram construídas outras instalações, como um prédio para abrigar a biblioteca e laboratórios, uma sala para a Congregação, três quadras poliesportivas cobertas, duas quadras de tênis, e a pista de atletismo. Por meio de convênio com o BID, foram obtidos recursos para a aquisição dos equipamentos para os laboratórios. Investiu-se, por outro lado, na reformulação do programa curricular. Se houve predomínio nos dois primeiros anos da Técnica Desportiva – devido ao bacharelado – depois desse período grandes inovações seriam introduzidas.

Visão das quadras e da pista em construção: freqüência atual é de 2 mil pessoas/diaA primeira delas foi a passagem pela FEF (1986/97/98) do filósofo português Manuel Sérgio Vieira e Cunha, cujo trabalho sobre a Ciência da Motricidade Humana influenciaria fortemente as primeiras pesquisas desenvolvidas na faculdade. A preocupação do corpo docente era a de formar um profissional de Educação Física que, antes e além de ser professor escolar e técnico desportivo, conseguisse interagir com o cidadão comum e, conseqüentemente, com a sociedade, visando resolver as questões de qualidade de vida. O estudante, assim, tinha contato com diferentes áreas do conhecimento – antropologia, biologia, sociologia, história, medicina, educação, nutrição, e claro, com todas as modalidades esportivas.

Pesquisas – Essa linha foi mantida pelo sucessor de Tojal, professor Ademir Gebara e pelos diretores subseqüentes. O reflexo mais visível desse caráter interdisciplinar foi o grande número de políticas públicas formuladas pela FEF na área esportiva. Nesse contexto, destacaram-se as pesquisas coordenadas pelo professor Nelson Carvalho Marcelino no campo da política do lazer. Ex-alunos da FEF comandam hoje instituições universitárias em todo o país. Ao longo de sua história de 21 anos, a FEF destacou-se nacionalmente por abordagens e pesquisas seminais nas áreas de educação física escolar, treinamento desportivo (biomecânica, fisiologia do esforço e metodologia do treinamento), pedagogia do esporte, de portadores de necessidades especiais, atenção a deficientes e de conceitos de lazer e recreação, entre outras.

Primeiro exame seletivo da FEF, em março de 85, na Escola de Cadetes: no mês seguinte, o curso já funcionavaA unidade conta atualmente com 33 docentes doutores, 650 alunos de graduação, 170 na pós e 220 em cursos de especialização. Possui quatro departamentos: Ciências do Esporte, Estudos da Atividade Física Adaptada, Estudos do Lazer e Educação Motora. Quatro laboratórios funcionam em suas dependências, além de cerca de uma dezena de grupos de pesquisa, os quais se dedicam a estudos que vão do futebol à epidemiologia e atividade física.

Em fase de expansão, o curso de Pós-Graduação é hoje referência no país. A qualidade do corpo docente, as linhas de pesquisa e o nível dos alunos, que passam por uma rigorosa seleção, contribuíram para esse quadro, de acordo com o atual diretor, professor Paulo César Montagner. O programa, interdisciplinar, contempla desde as pesquisas mais tradicionais – focadas no campo das ciências biológicas – até outras disciplinas vinculadas à área das ciências humanas, com uma forte tradição no campo da educação física escolar e do lazer. A pós da FEF obteve nota 5 na avaliação da Capes, a maior entre os cursos de Educação Física do país.

A unidade, tradicionalmente uma das maiores prestadoras de serviço da Universidade, vem experimentando um crescimento exponencial na extensão universitária, oferecendo uma gama de diferentes linhas de trabalhos na área de atendimento à comunidade. Ocupando uma área de 93 mil metros quadrados, suas dependências são freqüentadas diariamente por cerca de duas mil pessoas, da Unicamp e da comunidade externa.

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