Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 264 - de 30 de agosto a 12 de setembro de 2004
Leia nessa edição
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Diário da cátedra
Luta contra discriminação
Beleza se vê pelos dentes
Homem de fibra
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Sistema elétrico da Amazônia
Envase de leite
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Unicamp na mídia
O Lugar da história
Fóruns
Novos acordes
 

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Curso de música popular da Unicamp projeta
nacionalmente dezenas de profissionais


Novos acordes


MARIA ALICE DA CRUZ


Tiago Costa, tecladista de Maria RitaEm 2003, o instrumentista Chico Saraiva fatura o Prêmio Visa de Composição. Em 2004, o grupo Choro Elétrico é classificado para a final do 7º Prêmio Visa Instrumental, que se realizará em 16 de setembro, no Teatro Municipal de São Paulo. O violonista Alessandro Penezzi, por seu talento, chegou até a semifinal do mesmo prêmio, enquanto o percussionista e professor da Unicamp Rogério Boccato percorre o Brasil pela Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo, e o tecladista Tiago Costa participa de CDs de grandes nomes da música brasileira, entre os quais a cantora Maria Rita.

O que esses artistas têm em comum? A resposta está no diploma do primeiro curso universitário de música popular do Brasil, criado pela Unicamp em 1989. A iniciativa transformou a Universidade num celeiro de grandes talentos, pois hoje eles compõem uma inumerável lista de músicos graduados pela Unicamp inseridos no meio artístico e no mercado fonográfico. Muitos tiveram formação erudita pela Unicamp, mas conseguiram destaque no gênero popular.

A exemplo da ex-professora Luciana Souza, cantora consagrada nos Estados Unidos, outros ex-alunos se lançaram no Exterior. Entre eles Felipe Salles, saxofonista; Douglas Fonseca, guitarrista e arranjador; e Alexandre Lunsqui, pianista e compositor.

No Brasil, artistas como Marcel Rocha e Uliana Dias, do duo Eribêra, também fazem muito bem sua parte, conquistando espaço não só no mercado fonográfico, mas também na mídia. Chico Saraiva, Aléxis Bittencourt, Alessandro Penezzi, Eduardo Ribeiro, Euclides Marques, Fernando Barbosa (Barbatuque), Zan e Naná: Unicamp como celeiro Pablo Lapiduzza, Guilherme Ribeiro e Alberto Lucas também compõem a lista de ex-alunos que produziram CDs.

Os quatro anos de faculdade foram muito úteis também para a carreira de Chico Saraiva. Segundo o compositor, não só pela quantidade e pelo conteúdo das informações, mas pela troca que pôde fazer com quem encontrou na Unicamp. Quando ingressou no curso, em 1992, teve a oportunidade de conhecer e tocar com alunos da primeira turma que estavam se formando, entre eles, Bude Garcia, Ricardo Funazi e José Alexandre Carvalho. O CD do Trio Água, formado por ele, Eduardo Ribeiro e José Nigro, foi concebido na Unicamp. Apesar de cada um seguir seu caminho, ele e Eduardo Ribeiro se reencontraram para a gravação do álbum Trégua, recentemente. Edu Ribeiro é baterista de Yamandu Costa, Rosa Passos, entre outros nomes.

Integrantes do "Choro Elétrico", grupo finalista do Prêmio VisaA interpretação de Tiago Costa, ao piano ou ao acordeon, no CD de Maria Rita Mariano surpreendeu outros músicos e produtores. “A participação no primeiro disco da cantora fez com que meu trabalho tivesse uma grande projeção”, afirma Thiago. O convite para participar de CDs e shows vem de Goiânia e do Rio de Janeiro, por exemplo. O curso de música popular, na sua opinião, não tem um enfoque estritamente musical, mas insere o aluno em outro contexto, colocando-o em contato com produtores e historiadores. “Coloca o estudante em contato com pessoas da área de produção para conseguir espaço no meio.”

Aos 32 anos, Costa gravou CDs com Pedro Mariano, Paula Lima, Vânia Bastos, Sá Rodrix e Guarabira, Jair Rodrigues, Bocato, Trio Mocotó, Vânia Abreu, Oswaldinho do Acordeon, Luciana Melo e Chico Pinheiro.

Prontos para encarar o mercado fonográfico, outros bons frutos da Unicamp acabam se aproximando de renomados como Eduardo Dusek, Mônica Salmaso, Dori Caymi. Aléxis Bittencourt é o guitarrista que acompanha, atualmente, Johnny Alf na gravação de CDs e em shows. Também é formado pela Unicamp, onde integrou a Bandarra com Tiago Costa, Felipe Salles, Nonato Mendes e Pepa D´Elia, baterista de Toquinho.

Chico Saraiva Visa – Lucas da Rosa, 26; Danilo Penteado, 22; e Eduardo Lobo, 23, esperarem alguns anos para conhecer o interior do Teatro Municipal de São Paulo. Valeu a pena. No dia 16, o Choro Elétrico entra, por uma porta especial, a das estrelas, e melhor, para tocar entre os cinco melhores do 7º Visa. Daniel Muller, 24 anos, é o único do grupo que já conhecia o teatro.

A classificação é uma parte do conjunto de acertos do grupo. A agenda de shows, revelam os músicos, ficou mais apertada, e a indicação para a final influenciou na decisão da gravadora de produzir o primeiro CD do grupo. Antes mesmo de se graduar, esses jovens talentos começaram a atuar em eventos nacionais e internacionais de música popular e em big bands e grupos de música instrumental brasileira, como o Comboio.

Como aconteceu com Chico Saraiva, Edu Ribeiro e José Nigro, eles decidiram se unir após uma primeira apresentação juntos durante a disciplina prática instrumental do curso de música da Unicamp. A partir daí, todo o cachê era destinado a uma conta de poupança, usada para a gravação do CD submetido ao júri do Visa.

 Euclides e Luizinho: shows e CDs gravadosConcorrência – A procura crescente pelo vestibular em música popular também comprova o sucesso do curso. Hoje, a proporção candidato/vaga (17 por um) compara-se ao curso de engenharia elétrica da mesma universidade, segundo o professor de trilha sonora Claudinei Carrasco.

Música popular é uma modalidade do curso de música da Unicamp. Desde o início, a proposta é promover a reflexão de música e sociedade, mercado fonográfico e a indústria de disco, que entrou no Brasil no século 20. De acordo com o diretor do Instituto de Artes (IA da Unicamp), José Roberto Zan, a configuração oferece uma formação articulada à indústria do disco. “Há várias disciplinas que trabalham esta questão”, explica Zan.

Sociólogo e estudioso de música, Zan diz que a inserção de novos profissionais no mercado fonográfico é conflituosa, pois, se de um lado, o fazer música é um negócio para a indústria, para o músico não. Mas ele reconhece que a indústria mantém todo o suporte tecnológico necessário para a difusão do trabalho do músico. Os alunos são chamados a refletir sobre a interferência que o desenvolvimento tecnológico associado à produção do disco pode ter no fazer musical.

“A partir do momento em que a música está empregada nesse universo da indústria, torna-se necessária a experiência no campo da questão fonográfica”, acentua Zan.

A opinião dele é compartilhada por Chico Saraiva, Daniel, Danilo, Lucas, Eduardo, Thiago: além de oferecer toda a formação necessária para a inserção no mercado de trabalho, o curso funciona como um ponto de encontro, em que jovens músicos de diferentes Estados brasileiros acabam se relacionando, trocando experiências. “Quantos quartetos, trios, duos formados aqui não destacaram? Isso deve-se ao fato de o curso ter disciplinas que permitem essa integração”.

Pioneirismo – A primeira experiência em forró universitário, ritmo que estourou no Brasil no final da década passada, foi feita na Unicamp, pelo grupo Jambêndola, formado por alunos de graduação. Os nomes dos integrantes são Jorge Lampa (voz e percussão), João Erbetta (guitarra), Marcelo Effori (bateria), Rogério Rochlitz (teclados) e Zé Nigro (baixo). O CD Jambêndola foi gravado em 1996, com o selo Roadrunner Brasil, uma produtora independente, mas, por falta de recursos, o grupo parou no primeiro disco.

Muitos grupos formados dentro do espaço universitário se mantêm até hoje, como o Comboio e o Barbatuque, conhecidos dentro e fora do Brasil, dos quais grande parte dos músicos citados no texto já participou ou participa. O Barbatuque já participou de vários programas de TV, como o Jô Soares e Altas Horas, da Rede Globo, onde tocou com Naná Vasconcellos. No momento, de acordo com o proprietário da loja de discos localizada na cantina do IA, Antonio Dias dos Santos (Naná), outros grupos já estão se formando, graças ao talento e à força de vontade de alunos do primeiro ao quarto ano.

Naná – Reunidas, as histórias bem-sucedidas de músicos do Instituto de Artes da Unicamp exigem uma publicação nos moldes de um livro. A cada conversa, o proprietário da loja de discos e livros localizada na Cantina do IA, Antonio Dias dos Santos (Naná), lembra de mais dez nomes. Muitos deles atravessaram fronteiras, não atuam mais no Brasil. É o caso do saxofonista Felipe Salles, do guitarrista e arranjador Douglas Fonseca e do pianista e compositor Alexandre Lunsqui.

São relíquias que Naná faz questão de guardar a lembrança das happy hours que promovia, os CDs que produziu pelo selo Gravita, de sua propriedade, e um conjunto de fotos, que revela momentos em que os músicos se conheceram, montaram bandas e grupos e realizaram shows.

Ele se orgulha de estar há 12 anos buscando o material fonográfico, didático e literário que os alunos precisam para auxiliar sua formação. E o reconhecimento é recíproco, segundo Chico Saraiva: “Naná é responsável pelo que sou hoje. As festas foram o ponto de encontro entre alunos que hoje estão no mercado, acompanhando grandes profissionais, tocando em grupos importantes e fazendo carreira solo. Tenho saudades da Unicamp”.

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