| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 305 - 10 a 17 de outubro de 2005
Leia nesta edição
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O poder da audição

Durante o ensaio de uma orquestra o maestro interrompe intempestivamente a execução da sinfonia para dar uma bronca em um dos violinistas: “ Você desafinou levemente no segundo Dó do compasso 43!”. Como ele fez para reconhecer, no meio de tantos músicos, apenas um que desafinou ligeiramente? Além da localização sonora, que praticamente todos temos, existem algumas pessoas que possuem uma habilidade extraordinária de reconhecer a freqüência fundamental de um som (altura, ou ainda pitch, em inglês) sem a necessidade de um som de referência. Essa habilidade, muito rara (provavelmente presente em menos de 0,01% da população), é denominada “ouvido absoluto”.

É interessante comparar essa habilidade com o reconhecimento absoluto da cor sem comparação com padrões. Reconhecer o vermelho, por exemplo, é uma habilidade comum em aproximadamente 98% da população (excetuando apenas 2% daltônicos em algum grau). Por outro lado, o sistema auditivo tem uma incrível capacidade de comparação de alturas, que não tem similar em outros sentidos. Quase todas as pessoas conseguem dizer se um tom é mais agudo ou mais grave que outro, e após algum treino, podem-se reconhecer intervalos entre tons com variados graus de precisão. No entanto, nós não conseguimos julgar se uma cor tem o dobro da freqüência de uma cor de referência, por exemplo.

Apesar de ser objeto de estudo há muitos anos e das diversas teorias já propostas, os cientistas ainda não foram capazes de entender completamente o “ouvido absoluto”. Na realidade, apesar de anos e anos de pesquisas ainda não se sabe ao certo como o nosso ouvido é capaz de discriminar tantas freqüências com tanta precisão e velocidade, e muitos fenômenos auditivos, conhecidos como ilusões acústicas (como o mistério da “altura fantasma”, por exemplo), permanecem ainda sem uma explicação definitiva. Assim como esses, outros fenômenos peculiares da nossa audição seguem intrigando os pesquisadores da área (e qualquer curioso que pare para pensar sobre a incrível acuidade e versatilidade do sistema auditivo).

Além da altura, somos capazes de identificar a intensidade e o timbre (qualidade) de um som e a localização da fonte sonora. Partes das funções da audição são realizadas no órgão periférico auditivo. O som que chega na orelha é conduzido até a cóclea, que o transforma em impulsos elétricos. O sistema nervoso central tem um papel decisivo no processamento desses dados, que são avaliados, filtrados e reoganizados até adquirirem significado.

E de que mais o sistema auditivo humano é capaz? A orelha responde a estímulos de pressão sonora que variam enormemente. A potência de um som muito forte pode chegar a ser doze ordens de grandeza superior que a do som mais fraco que podemos ouvir. O sistema auditivo ainda inclui um engenhoso sistema de proteção contra pressões sonoras elevadas (mas não suficientemente eficaz para evitar perdas auditivas por exposição a sons mais intensos que os encontrados na natureza). O intervalo de freqüências que ouvimos varia muito entre as pessoas, mas em geral considera-se que o ser humano é capaz de ouvir sons entre 20 e 20.000 Hz, embora a sensibilidade varie bastante com a freqüência. Em algumas freqüências as vibrações do tímpano chegam a ter amplitudes da ordem atômica, e mesmo assim conseguimos identificar o estímulo!

Outra qualidade interessante do sistema auditivo é a seletividade. Dos sons misturados de uma orquestra somos capazes de selecionar o som de um único instrumento. Em um ambiente barulhento, com muitas pessoas falando simultaneamente, é possível focar a atenção em um único interlocutor. E, mesmo durante o sono, uma mãe (ou pai, se for mais atento!) pode responder a um leve soluço de um bebê, mas não acordar com um temporal. Conseguimos “filtrar” sons neutros, como o barulho de uma geladeira, ou do ar-condicionado, mas reclamar do som de uma torneira pingando, por exemplo.

O sistema auditivo humano é complexo em sua estrutura e impressionante em seu funcionamento. A possiblidade de escutar, analisar, interpretar, reconhecer e processar informações sonoras como parte do processo de comunicação é uma característica peculiar que devemos aprender a admirar e preservar. E para os cientistas representa ainda uma vasta área para explorar e entender.

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