Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 233 - de 13 a 19 de outubro de 2003
Leia nessa edição
Capa
Educação: futuro sustentável
Desenvolvimento da Unicamp
Vestibular: recorde de inscritos
Farmácias de manipulação
Pesquisa: risco de hipertensão
Incontinência urinária
Pesquisa: subproduto da cana
Quilombos: ensinar e aprender
Plástico biodegradável
Livros sobre leitura
Trabalhos com o Nobel
Unicamp na Imprensa
Painel da semana
Oportunidades
Teses da semana
Entrevista: Contardo Calligaris
Fotografia: clicar e teclar
 

3

Vestibular da Unicamp
registra recorde de inscritos
Inscrição vai passar a ser feita exclusivamente pela Internet a partir do ano que vem

CLAYTON LEVY

Criado há 18 anos, o Vestibular da Unicamp sempre se destacou como um dos mais concorridos do país. Entretanto, o novo recorde de inscrições registrado esse ano para o processo seletivo de 2004 superou todas as expectativas.São 50.307 candidatos de todo o território nacional, número 8,2% maior que as 46.492 inscrições contabilizadas no ano anterior. Ao todo, eles disputarão 2.934 vagas distribuídas em 58 cursos. Três deles são novidades: Midialogia, Farmácia e Telecomunicações. Ao realizar o seu primeiro vestibular, em 1987, a universidade teve 13.260 candidatos.
Outras duas novidades também marcaram o processo de inscrições. Pela primeira vez a Internet foi utilizada como meio para fazer a pré-inscrição, e outras duas capitais, Goiânia e Porto Alegre, passaram a integrar o circuito de cidades credenciadas para a realização das inscrições e das provas, aumentando a cobertura territorial do processo. Com isso, subiu para 19 o total de municípios onde os candidatos puderam se inscrever, entre eles sete capitais. Diante do novo recorde alcançado e das mudanças introduzidas, o Jornal da Unicamp decidiu ouvir o coordenador da Comissão Permanente para o Vestibular (Comvest), Leandro Tessler.

Graduado em física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com mestrado na Unicamp e doutorado na Tel Aviv Universit, esse gaúcho de Porto Alegre fala com segurança sobre os números alcançados e anuncia mudanças para o futuro. Entre elas, um sistema de inscrições totalmente via Internet e uma possível renovação do atual modelo de prova, que poderá apresentar novidades já a partir do vestibular 2005.

-------------------------------------------------------------

O coordenador da Comvest, professor Leandro Tessler: prova privilegia raciocínio e espírito crítico

JU - Em sua opinião, a que se deve esse novo recorde no número de inscritos para o vestibular?
Leandro Tessler – Há vários aspectos. Se analisarmos com cuidado a origem dos inscritos, constataremos que houve um aumento significativo na capital do estado e na Grande São Paulo, e também na região Centro Oeste do país, onde o número praticamente dobrou. Houve ainda um esforço da Unicamp para facilitar a inscrição. Esse foi o primeiro ano em que a Internet foi usada como forma de pré-inscrição. Isso fez com que um terço dos inscritos adotassem a Internet para o preenchimento do formulário.

JU - O senhor citou o caso da Grande São Paulo, onde se concentrou praticamente metade do acréscimo registrado nas inscrições. Haveria alguma razão específica para esse fato?
Tessler – São Paulo foi realmente um ponto de destaque. É possível que o pessoal de São Paulo esteja em busca de uma melhor qualidade de vida no interior do estado aliada a um curso superior de qualidade. A abertura de cursos com perfis diferenciados, como Midialogia, Telecomunicações e Farmácia, pode ter também despertado o interesse das pessoas em São Paulo.

JU - Historicamente, cerca de um terço dos inscritos vêm da escola pública. Curiosamente, cerca de um terço dos aprovados também vêm da escola pública. Como o senhor analisa esse fato?
Tessler – Isso certamente tem a ver com o tipo de prova que a Unicamp faz. O modelo de vestibular criado há 18 anos busca ser inclusivo. Ou seja, o tipo de prova que propomos privilegia o raciocínio e o espírito crítico frente ao conhecimento informativo. Estamos interessados em candidatos capazes de raciocinar perante um problema novo. Como imaginamos que essa capacidade está distribuída homogeneamente entre alunos de escolas públicas e particulares, nada mais natural que essa proporção se mantenha entre os inscritos e os matriculados.

JU - O senhor está afirmando que o vestibular da Unicamp é inclusivo. Que outros fatores de inclusão poderiam ser apontados?
Tessler – Além do modelo de prova há outros mecanismos de inclusão que estamos utilizando. Por exemplo, as isenções e meias isenções. Neste ano atendemos toda a demanda por isenções. Todos os solicitantes que atendem aos requisitos para receber o benefício (renda familiar de até R$ 390,00 por membro do domicílio, ter realizado todo o seu ensino básico e médio em escola pública e ser residente no estado de São Paulo), foram aceitos. No total, foram 4.592 candidatos que tiveram isenção total da taxa de inscrição. Desses, 3.939 efetivamente se inscreveram. A maior concentração ocorreu em São Paulo, com 1.811. Em Campinas, foram 1.084. Outra iniciativa que favorece a inclusão é a política de buscar os talentos onde eles estiverem. Temos o Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), que é muito eficiente e nos permite buscar alunos em todo o Brasil. Alunos com necessidades sócio-econômicas conseguem se manter durante todo o curso com apoio institucional.

JU - E em relação à cor ou raça, tema que vem concentrando boa parte do debate no país sobre o vestibular?
Tessler – Até 2002 a Comvest não perguntava no questionário sócio-econômico qual era a raça ou cor do candidato. A partir desse ano, incluímos essa pergunta. Usamos a tabela do IBGE para perguntar como o candidato se auto-declara. Entre os candidatos, 10,5% se declararam pretos ou pardos, ou seja, afro-descendentes. Em relação aos matriculados, 10,3% são pretos ou pardos, ou seja, nosso vestibular, assim como mantém a proporção de escola pública, também mantém a proporção de raça. Isso mostra que, ao contrário do que muitos acreditam, o mais importante mecanismo de exclusão é a auto-exclusão. A pessoa nem se inscreve. E nós estamos trabalhando fortemente para que esse pessoal se inscreva e tente entrar na Unicamp, porque tem boas chances de ser aprovado.

JU - Qual o número mínimo de candidatos que tornaria viável a realização do vestibular em outros estados?
Tessler – Praticamente todas as provas feitas em outros estados acabam se pagando. O processo de aplicação não é muito caro. Por isso, é difícil falar de um número mínimo. Se houver dez candidatos e todos forem talentosos, então vale a pena irmos buscá-los. Costumamos pensar nos inscritos de outros estados não do ponto de vista financeiro. Subvencionamos fortemente o processo porque achamos fundamental facilitar a inscrição para candidatos que vêm de outros estados.

JU - Há perspectivas de ampliação do número de cidades em que o vestibular é realizado?
Tessler – Nosso sonho é realizar as provas em todas as capitais do país, mas ainda não estamos conseguindo. Mesmo assim, já estamos com uma cobertura geográfica abrangente. Este ano ainda incluímos Porto Alegre e Goiânia. No futuro, gostaríamos de incluir uma capital da região Norte e outra da região Nordeste. Assim praticamente todo o país ficará coberto.

JU - Qual a principal novidade para o próximo ano?
Tessler – Vamos acabar com a inscrição através do papel. Todo o processo será via Internet. Com isso, imaginamos que aumentará ainda mais o número de inscritos.

JU - Vai chover gente...
Tessler – A gente quer que chova gente porque no meio dessa gente toda é que estão os mais talentosos.

JU - Embora no geral tenha aumentado o número de inscritos, observa-se uma queda significativa em Brasília, que é uma capital importante. A redução foi de 82% em relação ao vestibular anterior, caindo de 608 para 107 inscritos. Ao mesmo tempo, em Goiânia, que está na mesma região e entrou pela primeira vez no circuito, a inscrições explodiram, chegando a um total de 736. Há alguma relação entre esses dois fatos?
Tessler – Claro que sim. Em geral, o número de inscritos oriundos de outros estados é grande quando não há uma boa universidade nas proximidades. Brasília tem a UnB, que é de excelente qualidade. Devido a isso, muitos inscritos em Brasília na verdade vinham de Goiânia ou até mesmo de locais ainda mais distantes, como Manaus. Além disso, há alguns anos, a UnB tem feito as suas provas nas mesmas datas que a Unicamp.

JU - Se essa tendência de queda não se alterar, Brasília continuará recebendo o vestibular da Unicamp?
Tessler – Ainda manteremos por mais algum tempo, mas a tendência é sair dos locais onde há poucos inscritos. Por outro lado, estamos apostando em novos lugares.

JU - E no caso de Porto Alegre, que entrou pela primeira vez no circuito e também teve um número pequeno de inscritos, apenas 63?
Tessler – Embora tendo realizado um bom trabalho de divulgação, parece que ainda não conseguimos chegar ao interior do Rio Grande do Sul. Muitos dos inscritos em Porto Alegre vieram do interior. Acho que o nosso verdadeiro alvo no Rio Grande do Sul deveria ser o interior e não a capital. Não tivemos, por exemplo, nenhum inscrito de Caxias do Sul, onde há um excelente ensino médio segundo os dados do INEP. Temos de considerar, ainda, que é o início de um trabalho naquela região. No caso de Porto Alegre, se dos 63 inscritos tivermos 15 aprovados (no ano passado, dos 27 aprovados em Curitiba 15 eram do Rio Grande do Sul), já valeu a pena. Esperamos que no próximo vestibular, com as inscrições pela Internet, isso possa melhorar.

JU - O atual modelo de vestibular será mantido ou pode haver mudanças?
Tessler – Nós nos demos conta de que o nosso modelo de prova para a primeira fase, com doze questões e uma redação, chegou ao seu limite. O número de 50 mil candidatos para esse modelo é exagerado. Não há outro vestibular no Brasil que corrija um número tão expressivo de redações e o faça garantindo a homogeneidade entre todas as provas. É fundamental que o critério aplicado na primeira correção seja exatamente o mesmo aplicado na última. Então já iniciamos uma discussão na Câmara Deliberativa para buscar uma nova opção.

JU - Quais as possibilidades existentes?
Tessler – Há várias. Uma possibilidade mais ou menos óbvia é tirar a redação da primeira fase e levá-la para a segunda. Assim o número de redações a corrigir cairia para menos de 15 mil. Outra possibilidade é corrigir primeiramente as questões e só corrigir as redações daqueles candidatos que atingirem uma determinada média nas questões. Há muitas coisas em discussão, mas claramente o modelo atual muito provavelmente não poderá ser repetido por uma questão de logística. Nossa banca de correção de redação já conta hoje com 132 pessoas. Não dá para aumentar porque não há onde colocar mais corretores. Por outro lado, se estendermos o prazo da correção a qualidade pode cair, porque todos são humanos e têm de manter os mesmos parâmetros da primeira à última correção. Então, vamos ter de trabalhar num novo modelo, porém sem sacrificar as características de inclusão e de qualidade do vestibular.


SALA DE IMPRENSA - © 1994-2003 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP