193 - ANO XVII - 7 a 13 de outubro de 2002
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RAQUEL DO CARMO SANTOS

"Começar a fazer ciência o mais cedo possível", aconselha João Carlos Setúbal, pesquisador que se destacou na criação do Laboratório de Bioinformática do Projeto Genoma, aos estudantes interessados em ciência que estão ingressando na Universidade. "Trata-se de uma estrada tortuosa. Por isso acredito na importância de realizar projetos de Iniciação Científica, preferencialmente, desde o primeiro ano do curso", estimula o pesquisador, relembrando sua própria trajetória. Ao longo de sua saga para se tornar um dos mais importantes cientistas brasileiros da atualidade, o pesquisador contabilizou erros, conquistas, frustrações e percalços. Foi somente no 5o ano do curso de Engenharia da USP, em 1979, que João Setúbal resolveu perseguir sua grande paixão de infância: ser cientista.

Começava, então, a primeira tentativa do jovem estudante. Matriculou-se em um curso de extensão no Instituto de Astronomia da USP durante o período de férias e, mais do que simpatizar com a área, Setúbal gostou da atenção dada pelo professor João Evangelista Steiner. Este havia acabado de defender sua tese de doutorado e estava partindo para o pós-doutoramento na Universidade de Harvard, Estados Unidos. Antes de sua partida, porém, o "quase" engenheiro procurou o professor para propor um trabalho de iniciação científica em Astrofísica. "Achei incrível, mas ele não estranhou o fato de estar matriculado no curso de engenharia. Até me incentivou". Por causa dos compromissos já assumidos, Steiner não pôde ser o orientador de Setúbal e apresentou o jovem aos colegas Augusto Damineli Neto e Laerte Sodré para orientar o estudante no projeto de iniciação sobre Estrelas Novas Anãs.

A experiência de um ano foi positiva para lançar o pesquisador no mundo da ciência. Entretanto, Setúbal acabou percebendo que astrofísica não era sua verdadeira vocação. Chegou, enfim, o final do curso e com ele aumentaram as dúvidas do engenheiro. "Sem muitas alternativas, tive que procurar um emprego" lembra. Durante cinco anos, Setúbal trabalhou como engenheiro e se entusiasmou com computação. Decidiu fazer mestrado nesta área e novamente começou a vislumbrar um novo horizonte: fazer carreira acadêmica. Seus planos, no entanto, se desfizeram quando se deparou com as portas fechadas. "Procurei pessoas na USP e estas me informaram que seria necessário, no mínimo, ter o título de mestre para poder dar aulas".

Meses mais tarde, o engenheiro conheceu o professor da Unicamp Claúdio Lucchesi, com quem compartilhou suas aspirações. Em 1986, aconteceu o apoio esperado. Foi contratado como auxiliar de ensino no Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática, Estatística e Ciência da Computação. Fez mestrado na Unicamp e partiu para o doutorado nos Estados Unidos. "A esta altura estava apaixonado por computação e ainda não conseguia imaginar a utilização desta área na ciência". Quando retornou, em 1992, Setúbal começou uma amizade promissora com seu colega João Meidanis, que também retornara dos Estados Unidos com o título de doutor. Meidanis havia desenvolvido um trabalho na área de Biologia Computacional que chamou a atenção de Setúbal. Juntos criaram, ainda em 1992, o Grupo de Estudos em Biologia Computacional.

"Desde o início dos trabalhos, sabíamos que o projeto só teria sucesso se tivéssemos contato com biólogos". Mais uma vez as portas se fecharam, pois os pesquisadores em biologia procurados não tinham necessidade de problemas teóricos de computação em suas linhas de pesquisa. Foi com o Projeto Genoma que o trabalho dos dois professores exerceu papel decisivo no seqüenciamento da bactéria Xylella fastidiosa. De lá pra cá, Setúbal colhe os frutos da carreira, que como ele próprio afirma, foi "tortuosa". Por isso, aconselha, desta vez, os estudantes já envolvidos com a iniciação científica. "Coragem! O caminho é difícil, mas rende frutos".