| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU |Edição 343 - 13 a 19 de novembro de 2006
Leia nesta edição
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Artigo: A festa dos ex-alunos
Cartas
Prêmio Capes de Tese
Países Africanos
Arqueologia da repressão
Ex-alunos: feliz retorno
Eletromiografia
Menopausa
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Esclerose 1
Esclerose 2
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Painel da semana
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Livro da semana
RMC
Ciência na Escola
 

6-7

Unicamp reúne 2.000 ex-alunos de várias
gerações para que contem suas experiências de vida

Um feliz retorno

Formatura geral de alunos da Unicamp em 1995, no Ginásio Multidisciplinar (Fotos: Antoninho Perri/Divulgação)Estima-se que a Unicamp esteja recebendo neste sábado, 11 de novembro, aproximadamente 2.000 ex-alunos que saíram dos campi para seguir trajetórias profissionais por todas as áreas do conhecimento. A volta para casa, carregada de sentimentos, dispensa cerimônias. Por isso, a programação preparada para o Ginásio Multidisciplinar será bastante simples. “O objetivo principal deste primeiro Encontro de Ex-alunos é resgatar o vínculo sentimental e mostrar a eles como a Universidade cresceu e ficou bonita nesses 40 anos. Alguns, como eu, fizeram carreira na instituição, outros a visitaram depois de formados, mas muitos nunca mais voltaram ao campus. Queremos que os ex-alunos sintam que as portas da Unicamp continuam abertas”, afirma a professora Maria Teresa Rodrigues, coordenadora do Serviço de Apoio Estudante (SAE) e da organização do evento.

O reencontro na Unicamp, idealizado pelo reitor José Tadeu Jorge, guarda também suas segundas e boas intenções. Pretende canalizar para dentro da instituição a experiência vivida por ex-alunos, viabilizando, por exemplo, fóruns de discussão sobre aprimoramento do currículo diante das necessidades do mercado. “Eles conhecem as dificuldades e facilidades de inserção, o que é muito importante. Em meados de outubro, realizamos um conjunto de palestras em que ex-alunos contaram suas trajetórias e percebemos uma empatia enorme com os graduandos, muito maior do que trazendo a experiência de gente de outras escolas. Ex-alunos servem como espelho, é uma questão de identidade”, observa Maria Teresa.

As portas de reaproximação estão abertas, mas ainda são desconhecidas pela maioria dos que partiram. Segundo a coordenadora, o próprio SAE, como órgão gestor de estágios, possui perto de 1.200 empresas cadastradas, várias delas com ex-alunos que participam de ciclos de palestras para falar de seus serviços e do perfil dos especialistas que necessitam. Outra porta aberta há três anos é a Agência de Inovação – Inova, onde estão inscritas 100 empresas criadas por professores e ex-alunos, chamadas por isso de “filhas” da Unicamp. “Queremos buscar outras empresas e ampliar este vínculo com profissionais formados aqui dentro”, diz a professora.

Maria Teresa Rodrigues aponta ainda as portas da Escola de Extensão – onde o ex-aluno, além de passar por cursos de aprimoramento, também pode atuar como professor – e o Núcleo de Empresas Juniores – que congrega as EJs da Unicamp e representa mais um canal para troca de experiências e desenvolvimento de projetos. Mesmo sem apresentar o mesmo caráter, a Cori (Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais) oferece a intermediação para estágios e cursos de especialização no exterior. “É significativo o número de ex-alunos que estão vivendo fora do país e com os quais a Universidade pode se relacionar”, informa.

Alumni – No reencontro deste sábado, a organização espera colher informações suficientes para consolidar um veículo permanente de reaproximação e interação com ex-alunos. “A Universidade já tomou iniciativa similar há cerca de três anos, com a criação do portal Alumni, que deveria servir como ferramenta de contato, mas que não apresentou o dinamismo necessário por uma série de razões. Queremos disponibilizar um novo portal, redesenhado, que permita aos ex-alunos navegarem mais facilmente em busca de informações sobre seus pares e a universidade”, conta Maria Teresa.
O portal também servirá para divulgar e aglutinar iniciativas espalhadas pelo campus, como as associações de ex-alunos mantidas em algumas unidades. A associação mais ativa e com maior tradição é a Assex, da Faculdade de Ciências Médicas, que possui inclusive estatutos e promove eventos com regularidade. O Instituto de Computação mantém registros de ex-alunos e já organizou um encontro. O pessoal da Estatística, na comemoração dos 15 anos de sua empresa júnior, também conseguiu reunir muita gente no mês passado.

“No entanto, o que vemos geralmente são ações ainda tímidas, por causa da dificuldade de manter atualizados os dados e os contatos dos ex-alunos. Na página de inscrições para o encontro da Unicamp temos recebido inúmeras solicitações de contatos com turmas de dez ou vinte anos atrás. Nosso portal pode ajudar bastante neste processo, principalmente depois das informações que colhermos junto aos participantes do evento, facilitando o trabalho das associações já existentes e estimulando a criação de outras”, diz a coordenadora do SAE.

Por meio do portal será possível ainda o resgate de fotografias e vídeos – a TV Unicamp guarda vários registros de formaturas –, oferecendo mais um ponto de referência aos ex-alunos. “Minha turma da Engenharia Química vai completar 27 anos de formatura e será nosso segundo encontro este ano. Como sou filha da Unicamp e continuei aqui juntamente com outros colegas, a sensação é de que todos estão muito próximos, quando na verdade boa parte da turma se espalhou, inclusive pelo exterior. É um feedback extremamente prazeroso e é este o espírito que vai dar o tom do evento”, afirma Maria Teresa.

Até o início desta semana, mais de 1.700 ex-alunos já haviam confirmado presença, havendo uma mesma proporção de mensagens perguntando sobre o próximo encontro, pois muitos não puderam programar a sua participação. “Este evento precisa fazer parte do calendário da Unicamp, sendo promovido talvez a cada dois anos e com mais tempo para elaboração da agenda. Muita gente que vive em outros estados ou no exterior precisa se preparar para vir”.

Programação – Os ex-alunos serão recepcionados às 9 horas no Ginásio Multidisciplinar. Às 10 horas, a abertura do evento pelo reitor José Tadeu Jorge. Em seguida haverá uma pequena homenagem a ex-alunos, que foram escolhidos sem critérios específicos. “Tivemos pouco mais de um mês para organizar o evento e a comissão escolheu pessoas, renomadas ou não, que pudessem representar o conjunto de ex-alunos de cada unidade por várias razões, inclusive pela disponibilidade”, esclarece Maria Teresa. O evento da manhã, no Ginásio Multidisciplinar, incluirá a apresentação de um grupo musical formado também por ex-alunos.

Entre 12h e 14h, enquanto for oferecido um churrasco de confraternização, ocorrerão dois encontros nos auditórios do Centro de Convenções. Um deles promovido pelo Núcleo das Empresas Juniores. O outro será o I Encontro de Empreendedores, quando a Inova vai apresentar as empresas “filhas” da Unicamp e criar um grupo para fortalecer o relacionamento entre empresários egressos da Universidade.

A partir das 14h30, os ex-alunos serão recepcionados em suas faculdades e institutos de origem, onde eles poderão reencontrar professores, funcionários e ex-colegas para contar o que estão fazendo na vida. Nessas duas páginas, alguns ex-alunos antecipam suas histórias.

Os desafios do
empreendedorismo
 
Quatro cursos até
chegar à música



FABRÍCIO BLOISI

Sou graduado em Ciência da Computação e estarei no encontro de ex-alunos. Ingressei no curso em 1995. A graduação na Unicamp foi muito importante para mim. Na época do vestibular, a Unicamp chamava a atenção pela filosofia de uma universidade aberta, que congregasse as várias áreas de conhecimento e que equilibrasse excelência nos estudos com um ambiente de idéias e de pessoas diferenciado – e foi isto que encontrei. Por isso, tenho ótimas lembranças e até hoje tento manter contato com a universidade como ex-aluno.

No final da graduação, eu e me sócio Fábio Povoa (também formado em Computação pela Unicamp) criamos a Compera, que é uma empresa de tecnologia e serviços móveis, destinados a telefones celulares e computadores de mão. Atuamos desde entregando entretenimento móvel (como vídeos, portais para celular, músicas, podcast) até automatizando equipes de campo através de telefones celulares.

A Unicamp foi fundamental profissionalmente, não apenas pelo embasamento técnico que me ofereceu, mas para a própria formação da Compera. Participei por três anos da empresa júnior de computação (Conpec) e isto me ajudou muito a entender os desafios do empreendedorismo. Uma sugestão que eu daria aos alunos de hoje é não se preocupar apenas com ferramentas e tecnologias especificas: elas passam. Fundamental é entender o processo de evolução das tecnologias, o processo de aprendizado e de desenvolvimento tecnológico, e estar pronto para continuar sempre aprendendo coisas novas.

 

ESDRAS RODRIGUES SILVA

Graduei-me em 1987 e tenho excelentes recordações dos tempos de estudante. Passei por quatro cursos de graduação para finalmente graduar-me em musica. Isso acabou me permitindo conhecer muita gente, com muitos dos quais ainda mantenho contato. Foi uma época boa, de muita música e muita gente interessante, tudo ajudava, inclusive a idade. Minha passagem pela Unicamp foi decisiva. Até então havia estudado a música muito informalmente a musica, para fazer engenharia. Aqui as coisas realmente começaram a acontecer e eu acabei totalmente imerso na vida musical. Por influência de alguns professores do Departamento de Musica acabei indo aos Estados Unidos para um mestrado e doutorado em Boston.

Além de ex-aluno sou professor no Departamento de Musica, o que me permite influenciar os alunos de hoje de modo mais incisivo. Acho que uma coisa que me marcou foi a interdisciplinaridade forçada a que me submeti passando por quatro cursos distintos. Vejo nisso algo muito positivo na universidade e insisto com meus alunos para que tirem proveito disso (mesmo sem passar por quatro cursos!). A abertura e inquietação intelectual provocada acabam sendo muito benéficas na vida profissional.

A reaproximação com os ex-alunos neste encontro de sábado é importante. Por ser algo que nos marcou muito, precisamos trocar idéias sobre nosso período de formação na Unicamp. Por ainda estar na Universidade, só que agora na condição de docente, minhas experiências passadas ajudam-me muito na relação com os alunos. Além disso, para os atuais alunos, compartilhar das experiências profissionais de ex-alunos é sempre inspirador. Na música isso acontece com uma certa freqüência e é sempre estimulante.

     
Do barracão à criação da Assex
 
Classe de um aluno só

FERNANDO CORDEIRO

Cheguei a Campinas em 1972, vindo de São Paulo, com recém-completados 18 anos e fui direto para a Unicamp. Estrada de mão dupla, cheia de caminhões da Replan, um ônibus atrás do outro, uma fila interminável até a porta da Universidade. Depois de uma volta completa pelo campus (alguns prédios do lado do Básico, alguns prédios do lado da Reitoria, inclusive o correio), chegamos à Faculdade de Ciências Médicas. Literalmente um barracão! Nunca mais vou esquecer a felicidade de entrar naquele prédio.

Sou da 10ª turma, formada em 1977, ainda no prédio da Santa Casa de Misericórdia. Fiz residência em cirurgia geral por dois anos, em acordo com a Université Louis Pasteur, onde passei os últimos quatro meses desta pós-graduação, e fiz mais dois anos de cirurgia digestiva. Voltando para o Brasil completei a minha formação em coloproctologia. Fiz mestrado e doutorado na FCM, enquanto ministrava aulas de cirurgia na PUC de Campinas.

No 15º aniversário de formatura, a 10ª turma iniciou o trabalho de formação da Associação dos Ex-Alunos da FCM, a Assex Unicamp, com intuito de manter uma relação constante com a Faculdade e com a Universidade. Nosso interesse ampliou-se e hoje não tem mais limites: queremos estar presentes dentro e fora da FCM para que todos nós, ex-alunos, sejamos lembrados não como tendo passado pela unidade, mas como parte integrante da sua alma.

Os ex-alunos realizam reuniões anuais e a Assex tenta manter o elo entre as diversas turmas através da sua listagem de endereços e e-mails (é verdade que com dificuldade, pois a mídia eletrônica é muito rápida e as trocas freqüentes de endereços nos fazem perder alguns amigos de vista, obrigando-nos a sair à cata deles por todos os rincões deste país).

Lembro-me das nossas festas na rua Boaventura do Amaral, da caça ao pato no laguinho da Praça Carlos Gomes e da convivência com as repúblicas dos alunos da faculdade. Nossa política de boa vizinhança com as alunas da Psicologia da PUC e das nossas reuniões nos poucos bares da cidade (Voga e City Bar). Hoje atuo como professor titular da FCM e da PUC, como vice-presidente do Sindicato do Médicos de Campinas e Região, e como Delegado Superintendente da Delegacia Regional do Conselho Regional de Medicina. Apesar de todas estas atividades profissionais, uma das mais importantes é ser ainda presidente da nossa Assex, mais pela generosidade de nossos colegas do que por meus méritos.

 

FRANCISCO PESSINE

Ingressei na primeira turma da Unicamp, em 1967. Os cursos regulares tiveram início em abril, numa segunda-feira após o domingo de Páscoa. Os dois primeiros anos foram básicos para todos os 120 alunos que entraram. Não poderia imaginar que, a partir do terceiro ano, eu seria o único aluno da química. Lembro-me da inexistência de uma biblioteca – que não era culpa de ninguém, pois a universidade estava começando –, das aulas no prédio semiconstruído da Maternidade de Campinas, no prédio onde hoje funciona o Cotuca e, depois, num anexo também semiconstruído do Colégio Aníbal de Freitas, local que não existe mais. Escolhi a química por influência de um professor excelente do colegial, na cidade onde eu morava, que era Capivari.

Quando me formei em 1970, o diretor associado, professor Jayr de Paiva Campello, praticamente exigiu que eu ficasse. O instituto precisava de professores. Suponho que tive um desempenho acadêmico que justificou o convite para ficar. Comecei como professor no dia 1º de março de 1971 e, como não havia a pós-graduação, aproveitei para terminar o curso de física. Esperei pela criação da pós, que era um projeto do diretor associado e do professor Giuseppe Cilento, e fiz aqui o mestrado e o doutorado. Meu pós-doutorado foi feito parte na Universidade do Sul da Califórnia e parte no Instituto de Tecnologia da Califórnia.

Acompanhei toda a evolução do Instituto de Química e da Unicamp. A reaproximação dos ex-alunos é uma coisa que faz falta. O aluno passa por aqui e depois até esquece que fez a universidade, cuja função principal é formar bem os recursos humanos. Acho que esta ligação deveria ser mais forte, similarmente aos Estados Unidos, onde o aluno guarda uma grande afeição pela universidade onde fez a graduação. O ex-aluno precisa conservar esse vínculo, voltar ao campus de vez quando para uma visita, um curso de especialização, uma pós-graduação.

Esta reaproximação é extremamente importante inclusive para a universidade saber onde eles estão atuando e convidá-los para dar palestras aos alunos matriculados hoje, alertando como é o ambiente de trabalho aí fora, que é muito diferente do ambiente informal universitário. O mundo hoje está tão competitivo que só sobreviverão os melhores qualificados. E qualificação o aluno só consegue estudando, se dedicando às disciplinas e se formando no menor prazo regulamentar possível, a fim de ingressar o mais rapidamente no mercado de trabalho, justamente por causa da competição que existe aí fora.

Uma vantagem é que Campinas está se tornando um pólo na área de química, que atrai grande quantidade de profissionais. Existem várias indústrias farmacêuticas: a EMS-Sigma Pharma em Hortolância, o Laboratório Cristália em Itapira, a Medley perto da Unicamp. A Natura vai criar um centro de desenvolvimento em frente ao Alphaville. Temos a Petrobras, Rhodia, 3M – onde vários ex-alunos estão empregados –, a Gessy Lever em Valinhos, a Procter & Gamble em Indaiatuba. Isto sem falar nos institutos de pesquisa como o Ital, o IAC, o Instituto Biológico e a Embrapa de Jaguariúna. Acredito que o mercado é muito bom, depende do aluno.

     
Ajuda do SAE e venda de bombons
 
Mudança de rota dentro da Unicamp

WILSON BOTER JÚNIOR

Eu fui aluno do curso de química do IQ da Unicamp, onde ingressei em 1981, portanto há 25 anos. Naquela época as matrizes curriculares eram bastante flexíveis, podíamos cursar disciplinas de licenciatura e/ou bacharelado e/ou química tecnológica. Eu acabei cursando todas as disciplinas. Assim, sou licenciado em química, bacharel em química e bacharel com atribuições tecnológicas. Ainda antes de terminar a última modalidade da graduação, ingressei na pós através do processo seletivo, tendo feito mestrado e doutorado também no IQ.

A década de 1980 foi um período meio estranho de nossa história recente. Como a economia estava marcando passo, ganhar dinheiro ficou mais difícil. Assim, os anos de graduação não foram muito fáceis para mim. A bolsa do SAE foi decisiva para continuar estudando na Unicamp. Minha família não tinha condições de me manter em Campinas e prossegui por pura teimosia, não desisti nem quando me vi sem dinheiro para tomar o ônibus da Barão de Itapura até o campus. Ia e voltava de carona.

Quando comecei a receber a bolsa, aquele “pequeno” auxílio (me lembro até hoje: 20 vales de refeição, 40 vales de ônibus e uma pequena quantia em dinheiro) fez toda a diferença. Já dava, por exemplo, para eu pagar a minha parte do aluguel da república e complementava o orçamento dando aulas particulares. Algumas vezes, quando estava muito apertado, fiz bombons e vendi na saída do Restaurante Universitário; arrumei até clientes fixos. Mas afirmo que, se não fosse o apoio do SAE, não teria conseguido permanecer na Universidade naqueles anos.

Apesar de tudo, me recordo com muito carinho daquela época em que me dedicava quase que exclusivamente ao aprendizado. O período de graduação foi de grande riqueza cultural, graças ao ambiente na Unicamp. Lembro-me, também, que gostava de andar pelo campus, de deitar embaixo dos eucaliptos do jardim do Básico, do jogo de truco na cantina da Química.

Em 1992, quase no final de meu doutorado, prestei concurso na Universidade Federal de Goiás, tendo assumido o cargo de professor. Atualmente, atuo na graduação e pós-graduação em química. Sou presidente do Conselho Regional de Química da XII Região (Goiás, Tocantins e Distrito Federal). A trajetória de um profissional depende de inúmeros fatores: a formação não formal, a formação acadêmica, os tipos de escolhas que fez, entre outros. A área da química mudou muito nos últimos 20 anos. Nós temos hoje equipamentos e profissões que sequer existiam quando ingressei na Unicamp. Minha sugestão aos estudantes de hoje é que tirem muito proveito dos anos de graduação e de tudo o que esta Universidade lhes oferece. Não tenham pressa em terminar a graduação; não tenham pressa em se especializar.

 

RODRIGO GONÇALVES DIAS

Sou graduado pela Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp e atualmente faço doutorado pelo Instituto de Biologia, em parceria com o Instituto do Coração (Incor), onde também sou pesquisador da área de genética e fisiopatologia cardiovascular. Talvez tenha sido convidado para representar os ex-alunos da FEF por causa do vínculo que mantenho com os diretores, que foram professores meus. Eles ficaram felizes quando, na semana passada, minha pesquisa foi escolhida como uma das oito melhores entre quatro mil trabalhos selecionados para o Congresso Sul-Americano de Cardiologia, em Recife. Eu estudo um gene específico dos cerca de 20 mil que o ser humano possui. Lendo o código genético de 1.500 pacientes, descobri que 8% da população brasileira têm o código alterado numa determinada posição do DNA, o que as deixa mais propensas a doenças cardíacas.

Esta área da medicina preditiva está chamando muita atenção, justamente porque permitirá prognosticar a propensão a doenças. Digo isso porque o encontro de ex-alunos é uma oportunidade para mostrar os mais variados caminhos que os formados em educação física estão seguindo, além do tradicional, que é dar aulas em escolas e que atraiu uma parcela da minha turma. Outra parcela menor, na qual me encaixo, foi desenvolver pesquisa em medicina desportiva, que por si tem suas ramificações. Eu trabalho com reabilitação cardiovascular, prescrevendo atividades físicas para indivíduos com cardiopatias variadas. Outro colega está em um clube de futebol da primeira divisão da Holanda, trabalhando com sucesso para melhorar a performance física de atletas.

Esta reaproximação com a Universidade é importantíssima para transmitir nossas experiências aos alunos de hoje. Se você perguntar aos ingressantes porque estão fazendo educação física, vai ouvir de 99% que é porque têm um vínculo com algum esporte e não querem parar de praticá-lo. Eu dizia o mesmo, já que pratico triathlon (natação, corrida e ciclismo). Mas fui descobrindo a possibilidade de diversificar a atuação dentro de uma instituição do gabarito da Unicamp, que oferece oportunidade, por exemplo, de desenvolver um projeto de iniciação científica na Medicina e o doutorado na Biologia.

Um problema é que ninguém passa essas informações para quem entra na universidade. Seria muito interessante que as empresas juniores propiciassem essa reaproximação com profissionais que estão atuando em áreas diversificadas, a fim de mostrar aos graduandos este grande potencial na Unicamp. Digo a todos que um dos meus grandes orgulhos é ter estudado nesta Universidade, que me garantiu bolsas e laboratórios para chegar onde estou hoje. Por isso, esta reaproximação precisa ser mais forte.

 


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