| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 310 - 28 de novembro a 4 de dezembro de 2005
Leia nesta edição
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O tamanho do preconceito
DIU
Rabiscos na França
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Mortadela e salsicha de tilápia
Ecologia: teoria deve se
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Livro mostra que em ecologia a teoria deve se sobrepor à prática

LUIZ SUGIMOTO

O doutorando Rafael Dias Loyola, do IB: expectativa dos editores é de que a publicação se torne uma referência pra alunos e professores (Foto: Antoninho Perri)Teoria é uma palavra de origem grega e que possui o mesmo radical de theos – deus. Rigorosamente, significa “um olhar superior sobre as coisas”. Usada pelos imperadores romanos como “norma vinda de cima” para regular o comportamento de seus políticos, a palavra entrou em nosso vocábulo como um conjunto de normas que rege todo o conhecimento científico. “Causa certo espanto que biólogos em geral não prestem atenção à estrutura da teoria ou teorias com as quais trabalham. A esses seria recomendável lembrar que o livro de Darwin, Origem das Espécies, chamado por ele de longo argumento, foi um dos principais exemplos da aplicação do método hipotético-dedutivo da biologia, tendo resultado da elaboração de sua teoria mais importante”, escrevem os professores Rogério Martins, da UFMG, e Francisco Ângelo Coutinho, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sete Lagoas.

Produção no Brasil ainda é incipiente

Os dois professores assinam um dos artigos reunidos em Ecologia Teórica – Desafios para o aperfeiçoamento da Ecologia no Brasil, livro que tem como um dos organizadores o doutorando Rafael Dias Loyola, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. É o primeiro livro em português que aborda especificamente a ecologia teórica. Esgotada a primeira tiragem (modesta) em agosto, os organizadores já preparam uma segunda edição e também o segundo volume com novos temas. “A idéia do livro surgiu devido à insipiência da produção de teoria ecológica no Brasil e da inexistência de uma publicação nacional que levantasse o tema para discussão: quanto os ecólogos brasileiros têm avançado na elaboração de novas teorias?; quais foram as suas contribuições teóricas mais relevantes nos últimos anos?. A nossa produção de conhecimentos ecológicos é muito dependente de trabalhos descritivos, de dados empíricos, apesar da obviedade de que esses dados só adquirem importância em um contexto teórico”, afirma Rafael Loyola.

O doutorando lembra quando ele e as outras duas editoras do livro, Angelita de Souza Coelho e Maria Betânia Gonçalves Souza, promoveram o primeiro simpósio sobre ecologia teórica do Brasil, realizado na UFMG, com a presença de sete pesquisadores brasileiros que atuam nesta vertente teórica, e convidando cada especialista a escrever um capítulo para o livro. “Pedimos que mencionassem as teorias que vinham utilizando em suas pesquisas e sugerissem melhorias nesta área para se produzir uma ciência de melhor qualidade”, explica. A expectativa dos editores é de que a publicação se torne uma referência para alunos e professores, e “contribua para mudar a opinião corrente de que ecologia teórica é um assunto apenas para ecólogos-matemáticos/estatísticos, distante e até oposto à compreensão da realidade”.

Sobre esse ponto de vista que predomina entre os pesquisadores de campo, os professores Martins e Coutinho fazem sua crítica: “Preocupar-se com operações lógicas e normas epistemológicas que fundamentam o conhecimento científico é, em geral, considerada pelos cientistas tarefa exclusiva de lógicos e filósofos da ciência. É curioso, mas nem tanto, que isso seja aceito sem crítica alguma. Atribuir a lógicos e filósofos a tarefa de pensar a ciência deixa os cientistas livres para produzir uma ciência cuja natureza ignoram e talvez desejem realmente ignorar. Cientistas ‘produtivos’ não gostam de despender seu precioso tempo em ‘divagações filosóficas’”.

Robusta – Na opinião de Rafael Loyola, os ecólogos brasileiros devem procurar expandir seus horizontes e se esforçar para utilizar, criar e desenvolver teorias robustas. Como exemplo de teoria robusta, ele cita a da “biogeografia das ilhas”. Em síntese, ela prevê que ilhas maiores terão mais espécies do que ilhas menores, e que ilhas mais próximas ao continente também terão mais espécies do que as mais distantes, assim como o número de espécies em equilíbrio de cada ilha. “A partir daí, pode-se estimar quantas espécies se espera encontrar numa ilha. Definimos essa teoria como robusta porque ela pode ser extrapolada para outro sistema, por exemplo, saindo das ilhas para fragmentos florestais. Fragmentos daquilo que foi uma grande floresta, separados sobre uma matriz de pasto, funcionam como ilhas no oceano. Usando a mesma teoria podemos inferir sobre o número de espécies em cada fragmento”, ilustra.

Nos oito capítulos do livro, os autores discorrem sobre temas como nicho ecológico e metapopulação. Nicho ecológico, segundo Rafael Loyola, é um conjunto de condições necessárias para uma espécie sobreviver, como água, luz, temperatura, número de predadores, tipos de alimentos. Metapopulação é um modelo utilizado para estudar populações de espécies em fragmentos, por exemplo. O livro conta também com um artigo do professor Thomas Lewinsohn, do IB da Unicamp, a respeito da “ecologia de comunidades”, que é o estudo integrado de várias populações em seus sistemas, e que reflete uma preocupação dos teóricos do Brasil: como unir teorias para se obter uma teoria robusta. “A idéia básica que queremos transmitir é de que qualquer pesquisa ecológica precisa estar amparada por uma teoria. Não é possível testar uma hipótese em campo que não advenha de uma teoria. Se a hipótese não for confirmada, pode-se modificar a teoria. É substituindo ou melhorando teorias que a ciência caminha”.

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