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Seguindo os passos do jogador. Sem ‘chute’

Método validado  na FEF determina com precisão a distância percorrida por atletas em jogo de futebol

MANUEL ALVES FILHO

O educador físico Milton Shoiti Misuta: “Dados podem ajudar tanto na definição tática quanto na preparação física" (Fotos: Divulgação/Antoninho Perri) Quantos quilômetros os jogadores de futebol percorrem durante uma partida? Até recentemente, a resposta a esta pergunta era dada por estimativa. Não é mais. Graças a um método validado por pesquisadores da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, esse tipo de “chute” acabou. Por meio de um sistema de rastreamento automático, os cientistas são capazes de determinar com precisão tanto a distância percorrida durante os 90 minutos quanto a velocidade e aceleração empregadas por cada um dos atletas num dado instante do jogo. “Devidamente interpretados, esses dados podem ajudar tanto na definição tática quanto na preparação física de uma equipe”, afirma o educador físico Milton Shoiti Misuta, que defendeu recentemente tese de doutorado sobre o tema. Segundo ele, embora tenha sido validado com o futebol, o método pode ser aplicado a outros esportes coletivos e até mesmo individuais.

Misuta vem trabalhando com o sistema desde a iniciação científica, sempre sob a orientação do professor Ricardo Machado Leite de Barros, da FEF. O rastreamento automático de jogadores, segundo o autor da tese, é objeto de investigação de pesquisadores tanto da área da biomecânica quanto da computação. No caso em questão, o desenvolvimento metodológico foi realizado com a colaboração de especialistas do Instituto de Computação (IC) da Unicamp. A partir da obtenção das informações relacionadas ao jogo, o estudo contou também com a cooperação de pesquisadores das áreas de matemática, estatística e bioquímica para o desenvolvimento das formas de análise.

Dito de maneira simplificada, o rastreamento automático dos esportistas segue as seguintes etapas. Primeiro, o jogo é filmado por um conjunto de quatro ou cinco câmeras, que são dispostas em pontos estratégicos do estádio ou ginásio. O autor da tese explica que os equipamentos devem ser distribuídos de modo a cobrir todo o campo ou quadra. Em seguida, as imagens são processadas no Sistema Dvideo, que foi desenvolvido no laboratório de Instrumentação para Biomecânica, para a obtenção da posição em função do tempo de todos os jogadores durante toda a partida. “A partir daí, nós fazemos as análises e calculamos a distância percorrida, as velocidades máximas e mínimas e a aceleração utilizada em cada momento do jogo”, detalha.

De acordo com Misuta, o sistema já foi aplicado em cerca de dez partidas de futebol. “Também testamos o método em jogos de futebol de cinco [praticado por deficientes visuais], rúgbi sobre cadeiras de rodas e handebol. Em todos eles o sistema se mostrou bastante confiável. Entretanto, somente no futebol foi possível rastrear automaticamente cerca de 90% dos movimentos dos atletas. Em alguns casos, parte do trabalho teve que ser feita manualmente”, observa. Questões técnicas explicam essas distinções. Um dos fatores que dificultam o rastreamento automático consiste nas situações de oclusão mútua entre jogadores. É o que normalmente acontece quando da cobrança de escanteio no futebol, ocasião em que atacantes e zagueiros ficam “embolados”. “Nesse caso, há a necessidade da intervenção do operador, que faz o rastreamento de forma manual”, diz.

No caso do rúgbi sobre cadeiras de rodas, conforme o educador físico, o índice de rastreamento automático é bem menor. “Os fatores brilho da quadra e surgimento de sombras, que estão relacionadas com a influência da iluminação, interferem na qualidade da imagem. Além disso, as cadeiras são grandes e muito parecidas umas com as outras, o que faz com que o sistema tenha dificuldade em identificar os atletas. Esse tipo de problema, porém, pode ser resolvido com o aprimoramento da ferramenta ou com a adoção de uniformes e equipamentos que diferenciem um time do outro”, assegura Misuta.

Os dados fornecidos pelo método, prossegue ele, podem ser muito úteis a treinadores e preparadores físicos, desde que sejam devidamente interpretados. “Nós apresentamos o sistema a técnicos que não demonstraram grande entusiasmo por ele. Outros, no entanto, o consideraram muito interessante. Acho que com o tempo esses profissionais perceberão a importância desse tipo de recurso, assim como já vem acontecendo na Europa”, infere o autor da tese. Para ilustrar como as informações fornecidas pelo sistema de rastreamento automático de jogadores podem ser úteis, Misuta cita o caso do preparador físico da seleção brasileira de futebol de cinco. A partir do relatório com as informações (distância percorrida, velocidade, entre outros) de todos os jogadores, o profissional redimensionou o treinamento de toda a equipe com vistas à disputa do campeonato mundial da categoria.

A informação precisa da condição física do elenco em cada etapa do treinamento, relatada o educador físico, foi fundamental para que o técnico traçasse estratégias táticas em função do condicionamento dos jogadores. “Naquele campeonato, a seleção brasileira apresentou um padrão de jogo com muita velocidade em todas as partidas e sagrou-se campeã da competição”, lembra. Informações sobre o rendimento dos atletas durante os jogos também podem ser utilizadas de outra forma, como assinala Misuta. Ao analisar o comportamento de um atacante numa determinada partida, o preparador físico pode, por hipótese, verificar que o zagueiro percorreu seis quilômetros durante o primeiro tempo e reduziu para quatro, no segundo. “Se essa mudança não tiver sido por orientação do treinador, que decidiu manter o jogador mais plantado, isso pode ser sinal de que o defensor demonstrou cansaço e que talvez seja recomendável trabalhar mais a sua resistência”, teoriza.

A tendência, reflete o pesquisador, é que o sistema de rastreamento evolua a ponto de gerar dados em tempo real. Caso isso se confirme, será possível ao treinador, por exemplo, utilizar as informações para corrigir o posicionamento ou deslocamento de um jogador com a partida em andamento. O sistema validado pelos pesquisadores da FEF não se limita à análise de atletas de esportes coletivos, como faz questão de destacar Misuta. Segundo ele, o método também pode ser aplicado a praticantes de modalidades individuais como atletismo, natação etc. “Claro que isso pode exigir alguma adaptação, mas não vejo problema em estender esse uso”, diz. O maior desafio dos cientistas envolvidos com o projeto, acredita o educador físico, será aprimorar a tecnologia para que o rastreamento automático de atletas de outros esportes alcance o mesmo índice obtido com os jogadores de futebol, algo como 90%. “Já temos gente trabalhando nesse aspecto”, revela.

Na sequencia de imagens, o sistema que marca deslocamento dos jogadores para mensurar distância, velocidade e aceleração



 
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