Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 254 - de 31 de maio a 6 de junho de 2004
Leia nessa edição
Capa
Artigo: O Vestibular
Impactos: atuação de lobistas
Colírio para olho seco
HC: balanco positivo
Programa inédito: Vestibular
Perfil Social do estudante
 da Unicamp
Purificação da água
  Castanha na farinha de
   mandioca
Velocidade dos nanocristais
Painel da semana
Unicamp na mídia
Oportunidades
Teses da semana
Transferência de tecnologia
Fóruns permanentes
A Arte mais brasileira
 

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Estudo traça perfil social
dos estudantes da Unicamp


Mais de 60% dos estudantes de graduação da Unicamp têm renda familiar per capita até cinco salários mínimos. Estudo feito pelo Gabinete do Reitor e reproduzido a seguir demonstra que é errônea a crença de que, no Brasil, os ricos estudam na universidade pública e os pobres nas universidades privadas


1- Presença da escola pública

2- Participação de grupos minorizados

3- Presença de acordo com as características de renda

4- Isenções das taxas de inscrição no vestibular

5- De 1987 a 2003 a Unicamp dobrou as vagas de graduação


1- Presença da escola pública

Aproximadamente um terço dos alunos matriculados na Unicamp são oriundos da escola pública. A tabela 1 mostra que a proporção dos alunos aprovados fica muito próxima da proporção dos candidatos inscritos no vestibular, indicando que o vestibular da Unicamp não discrimina contra os alunos originários das escolas públicas.


Tabela 1. Porcentagem de candidatos inscritos e matriculados oriundos da escola pública na Unicamp no período 1996 a 2004

Observa-se, pela porcentagem de candidatos oriundos de escolas públicas, que parece ocorrer um fenômeno que tem sido denominado de “auto-exclusão”: o jovem não se candidata ao vestibular por considerá-lo uma barreira insuperável ou porque tem outras restrições, como por exemplo a necessidade de trabalhar em período integral para seu sustento e/ou de sua família. A Unicamp tem organizado iniciativas para estimular mais candidaturas de alunos de escolas públicas: isenção nas taxas para inscrição (ver seção 4, abaixo), programas de vistas e interação com alunos das escolas públicas (Ciência na Escola e Ciência nas Férias), Formação de Professores, Universidade de Portas Abertas, e outras).

Recentemente a Comissão de Vestibular da Unicamp analisou comparativamente o rendimento acadêmico de alunos procedentes de escolas públicas e privadas de nível médio que ingressaram no período 1994­1997. Utilizando-se técnicas estatísticas, constatou-se de maneira inequívoca que entre os estudantes que tenham ingressado com a mesma pontuação no exame vestibular, aqueles oriundos da escola pública apresentaram um desempenho acadêmico superior a seus colegas procedentes da escola privada.

2- Participação de grupos minorizados

A Unicamp não realizava levantamento sobre a cor (critério IBGE) de seus alunos antes de 2003. Portanto são disponíveis dados de 2003 e 2004, apresentados na Tabela 2.

Em 2003, 10,4% dos candidatos se declararam pretos ou pardos e 10,1% ingressaram na Unicamp. Em 2004, 13,6% dos candidatos se declararam pretos ou pardos e 11,3% ingressaram na Unicamp. Observando-se também os dados para a cor amarela e indígena, constata-se que para cada cor a proporção entre os candidatos inscritos e ingressantes em geral é a mesma, indicando que o exame vestibular da Unicamp não descrimina segundo a cor. Esta constatação permite concluir que o ingresso na Unicamp de grupos étnicos minorizados (notadamente pretos e pardos) poderia crescer na medida em que tais grupos se façam mais presentes entre os candidatos a seus cursos de graduação.

Os dados levantados pela PNAD mostram a presença de 71,9 % de brancos no Estado de São Paulo, 22,0 % de pardos, 4.8 % de pretos, 1,3 % de amarelos e 0,1 % de índios. Estes percentuais se alteram quando se consideram os concluintes do ensino médio, que constituem o universo de candidatos para o ingresso ao Ensino Superior. Neste caso há (PNAD, 2001) 75% que se declararam brancos, 2% pretos, 21% pardos e 1% amarelos. Comparando-se este último conjunto de dados com aqueles mostrados na Tabela 2 para o caso da Unicamp, observa-se que:

  • a) a porcentagem de pretos entre os inscritos e entre os ingressantes na Unicamp é bastante semelhante à porcentagem de pretos entre os concluintes do ensino médio no Estado (2%).
  • b) entre os auto declarados pardos, ocorre uma diferença notável: eles são 21% dos concluíntes do ensino médio e apenas 10,9% dos inscritos e 9,6 dos aprovados na Unicamp.
  • c) entre os autodeclarados amarelos a porcentagem de inscritos e de ingressantes na Unicamp (aproximadamente 7%) é bem maior do que a porcentagem entre os concluintes do ensino médio (1,3%).

A universidade pública não pode ser responsabilizada pela pouca inclusão de pretos e pardos em seu corpo discente. A exclusão se dá antes, pela distribuição de renda e a menor participação deste grupo étnico no ensino fundamental e médio.

Tabela 2. Cor declarada (critério IBGE) dos candidatos e ingressantes no Vestibular da Unicamp


3- Presença de acordo com as características de renda
Os dados apresentados a seguir correspondem ao período pós-2001 pois nossa base de dados passou a registrar a renda individual (per capita) dos andidatos após esta data. A tabela 3 mostra a distribuição de renda dos alunos que ingressaram na Unicamp no período 2001 a 2004. Com os dados da tabela foram 2 construídos os gráficos das figuras 1. O salário mínimo usado como referência em cada caso foi aquele praticado no ano em questão.

Tabela 3. Renda per capita dos alunos ingressantes na Unicamp no período 2001 a 2004





Na Tabela 3 e nas Figuras 1, 2 , 3 e 4 observa-se que tem aumentado a porcentagem de alunos ingressantes com menor renda familiar per capita. Por exemplo, tomando-se como referência a renda familiar per capita abaixo de 3 SM, observa-se que para o período integral a porcentagem de ingressantes aumentou de 27,7% em 2001 para 39,85%,em 2004.

Para o período noturno, para estes mesmos anos, o percentual de ingressantes com renda per capita inferior a 3 SM passou de 39,4% em 2001 para 54,3% em 2004.. Os resultados também indicam que a renda per capita dos alunos do período noturno é menor do que a renda dos alunos do diurno, mostrando que o aumento do número de vagas no período noturno é uma forma eficiente de aumentar a inclusão social.

Dos 19 cursos noturnos hoje em atividade na Unicamp, 18 foram implantados no período pós-autonomia (1989-2003). Abrindo as portas da Universidade a um número maior de alunos que precisam trabalhar no período diurno, esta medida tem grande alcance social. O aumento de vagas no período noturno foi muito grande. De 90 vagas existentes em 1987, chegou-se a 885 vagas em 2004, o que equivale à decuplicação da oferta de vagas no período noturno. A Unicamp foi, ao final da década de 90, a primeira universidade pública paulista e brasileira a cumprir o dispositivo constitucional que determina que um terço das vagas na graduação nas universidades públicas sejam oferecidas no período noturno.

Os dados apresentados também desmistificam a idéia equivocada de que os estudantes da Unicamp são privilegiados em termos socioeconômicos. Por exemplo, no ano de 2004, aproximadamente 66 % dos ingressantes do período diurno ou do noturno tem uma renda per capita inferior a 5 ou 4 salários mínimos, respectivamente. Para apoiar a presença e o desempenho destes estudantes,a Unicamp oferece um sistema de assistência estudantil que inclui bolsas-trabalho, bolsas de iniciação científica, subsídio à alimentação e transporte, vales reataurante e vale-transporte e bolsas emergenciais.

É generalizada e errônea a crença de que, no Brasil, os ricos estudam na universidade pública e os pobres nas universidades privadas. Desde que o MEC começou a examinar seriamente a demografia do ensino superior, isto é, desde a reestruturação do INEP na década de 90, esta crença se desmentiu. A verdade é que até então o Brasil media pouco e mal o principal vetor para o seu desenvolvimento, que é a educação. Estudo realizado recentemente pelo Prof. Simon Schwartzman verificou que há mais pessoas pobres nas universidades públicas do que nas universidades privadas (Simon Schwartzman, “Ricos e pobres nas universidades”, jornal O Estado de São Paulo, página 3, 9 de setembro de 2003).

Figura 1
Figura 1
Figura 1. Distribuição dos alunos da Unicamp segundo a renda individual (per capita) para os matriculados em Período Integral (acima) e no Período Noturno (abaixo) em 2001.
Figura 2
Figura 2
Figura 2. Distribuição dos alunos da Unicamp segundo a renda individual (per capita) para os matriculados em Período Integral (acima) e no Período Noturno (abaixo) em 2002.
Figura 3
Figura 3
Figura 3. Distribuição dos alunos da Unicamp segundo a renda individual (per capita) para os matriculados em Período Integral (acima) e no Período Noturno (abaixo) em 2003.
Figura 4
Figura 4
Figura 4. Distribuição dos alunos da Unicamp segundo a renda individual (per capita) para os matriculados em Período Integral (acima) e no Período Noturno (abaixo) em 2004.

4- Isenções das taxas de inscrição no vestibular
Para estimular a participação de estudantes de baixa renda, a Unicamp tem oferecido isenções da taxa do vestibular a estudantes que se qualifiquem por critérios sócio-econômicos. Os requerimentos para qualificação para isenção são, cumulativamente, que:

  • a) renda mensal familiar per capita comprovadamente inferior a R$ 389,60;
  • b) ter cursado o ensino fundamental e médio em escola pública;
  • c) A Tabela 4 demosntra o número de isenções oferecidas, as solicitações recebidas, as concessões qualificadas, quantos destes efetivamente se inscreveram no vestibular e, finalmente, o número de aprovados. Desde que este sistema entrou em operação o número de isenções tem crescido a cada ano, até que em 2004 o número de solicitações foi inferior ao número de isenções oferecidas.

Tabela 4. Quadro comparativo dos dados sobre isenção do pagamento de inscrição nos vestibulares de 2000, 2001, 2003 e 2004.

Figura 4

5- De 1987 a 2003 a Unicamp dobrou as vagas de graduação
O esforço de expansão dos cursos de graduação realizado pela Unicamp foi orientado por três estratégias simultâneas:

  • a) criação de cursos noturnos;
  • b) criação de mais vagas em cursos existentes;
  • c) criação de novos cursos em áreas modernas do conhecimento.

Ao crescimento da demanda correspondeu uma expansão de 105% no número de vagas nos cursos de graduação – de 1.380 em 1987 para 2.810 em 2004 – com um aumento correspondente do número de cursos: de 26 para 58. A relação média candidato/vaga, que foi de 9,6 no primeiro ano, é hoje de aproximadamente 19, com um pico de 22,1 em 1994.

Figura 1. Expansão no número de vagas oferecidas no exame vestibular para os cursos de graduação na Unicamp de 1987 a 2004. O número de vagas oferecido em 2003 é mais do que o dobro daquele oferecido em 1987.

Figura 4

O mais recente esforço de expansão, fruto da combinação das três estratégias acima, teve lugar em 2002 e resultou num aumento de 15% do número de vagas na graduação da Unicamp a serem oferecidas no vestibular de 2003. Esta expansão foi possível graças ao Programa de Expansão do Ensino Superior Público estabelecido pelo Governo do Estado e pela Assembléia Legislativa. Destinando uma suplementação de recursos de R$ 17,5 milhões para a Unicamp, este programa garantiu o investimento necessário para 360 novas vagas aprovadas pelo Conselho Universitário da Unicamp em Dezembro de 2002.

6- De 1987 a 2003 as vagas no período noturno decumplicaram na Unicamp
Dos 19 cursos noturnos hoje em atividade na Unicamp, 18 foram implantados no período pós-autonomia (1989-2003). Abrindo as portas da Universidade a um contingente grande de alunos que precisam trabalhar no período diurno, esta medida tem grande alcance social.

Figura 2. Evolução do número de vagas oferecidas em cursos noturnos na Unicamp. O número de vagas nestes cursos quase decuplicou neste período.

Figura 4

Desde o início do processo de implantação dos cursos noturnos, o aumento do número de vagas foi impressionante. De 90 vagas existentes em 1987, chegou-se a 885 vagas em 2003, o que equivale, praticamente, à decuplicação da oferta de vagas.

Tabela 5. Cursos no período noturno criados na Unicamp desde 1989.

Figura 4

A Unicamp foi, ao final da década de 90, a primeira universidade pública paulista e brasileira a cumprir o dispositivo constitucional que determina que um terço das vagas na graduação nas universidades públicas sejam oferecidas no período noturno.

Os cursos noturnos da Unicamp incluem vários de grande prestígio profissional, refletindo-se na alta demanda pelos candidatos ao Concurso Vestibular. Além disso, o perfil sócioeconômico dos ingressantes nestes cursos é bastante distinto daquele dos cursos diurnos correspondentes, incluindo maior parcela de alunos oriundos de escolas públicas e de faixas mais baixas de renda familiar, como se vê na Tabela. Isto se contrapõe ao mito, muitas vezes pro-palado até mesmo por especialistas em educação, de que os cursos noturnos são irrelevantes, por serem de baixo valor como formadores profissionais ou, caso contrário, por só admitirem alunos oriundos dos extratos mais altos da pirâ-mide socioeconômico.

Tabela 6. Comparação entre alguns cursos diurnos e noturnos oferecidos pela Unicamp, a partir da qual se verifica o enorme efeito dos cursos noturnos em incluir estudantes oriundos da escola pública, de camadas menos favorecidas economicamente e trabalhadores.

Figura 4

Como exemplos para comparações, selecionamos alguns cursos, de diversas áreas, oferecidos pela Unicamp tanto no período diurno como no noturno, com demanda de pelo menos 10 candidatos por vaga no Vestibular de 2003, demonstrados na Tabela 6 . Apresentamos, para estes cursos, alguns dados sócioeconômicos dos estudantes matriculados para mostrar a relevância social da existência dos cursos noturnos. Incluímos as porcentagens de matriculados com renda familiar total (não per capita) até 10 salários mínimos, que fizeram todo o ensino médio em escolas públicas, que trabalhavam parcial ou integralmente e cujos pais tinham formação escolar até a 8ª série do ensino fundamental, ao se inscreverem para o concurso vestibular. Os mesmos dados consolidados para todos os cursos da Unicamp, para os do diurno e para os do noturno, também são apresentados, como referências de comparação.

Notem-se, em geral, as diferenças bastante acen-tuadas nas porcentagens entre diurno e noturno nos itens escolhidos, que são indicadores importantes da situação socioeconômica da família e do próprio aluno, e em particular nas porcentagens de alunos trabalhadores dos cursos no-turnos, todas com pelo menos o dobro dos valores para os cursos diurnos correspondentes.

Concluímos reafirmando o compromisso da Unicamp com os cursos noturnos, em particular aqueles considerados importantes para a progressão cultural e profissional do candidato cuja única opção viável de estudo se situa no período noturno, por ter que trabalhar para o próprio sustento ou mesmo para ajudar no sustento de sua família.

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