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Jornal da Unicamp 178 - Páginas 2
24 a 30 de junho de 2002

Agora semanal

Entrevista

Vogt assume presidência da Fapesp

Ex-reitor diz que vai trabalhar para ampliar a capacidade de investimento da instituição

O lingüista e poeta Carlos Vogt, ex-reitor da Unicamp, é o novo presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ele substitui o professor Carlos Henrique de Brito Cruz, que deixou o cargo para assumir a Reitoria da Universidade. A nomeação de Vogt, que assume o cargo no dia 27 de junho, em cerimônia a ser realidada na sede da Fapesp, em São Paulo, foi publicada no último dia 13 de junho no Diário Oficial do Estado. Seu nome foi escolhido pelo governador Geraldo Alckmin a partir de uma lista tríplice elaborada por conselheiros da Fapesp, composta ainda pelo historiador José Jobson de Andrade Arruda e pelo físico Nilson Dias Vieira. Atual coordenador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), o lingüista afirma que dará prosseguimento ao bom trabalho que vem sendo feito pela Fundação e que concentrará esforços para que, cada vez mais, o conhecimento científico possa ser transformado em riqueza. Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao Jornal da Unicamp.

Jornal da Unicamp – O senhor acaba de tomar posse na presidência da Fapesp. Já tem algum plano de trabalho em perspectiva?

Carlos Vogt – A Fapesp é uma instituição com uma solidez muito grande, que vem desenvolvendo um trabalho que é considerado referência nacional e internacional no que se refere aos mecanismos de financiamento e fomento à pesquisa. Isso vem sendo feito graças a um trabalho de sintonia entre a diretoria e o conselho da Fundação. Ao longo dos últimos anos, a Fapesp não só continuou na linha consistente de concessão de bolsas de estudos e de apoio à pesquisa, mas inovou criando uma série de programas importantes. Meus planos são, primeiramente, dar continuidade ao que tem sido feito, dentro do espírito criativo que tem caracterizado a atuação da Fundação. A Fapesp tem uma publicação importantíssima, que é a Pesquisa Fapesp, que nós procuraremos aprimorar cada vez mais. Procuraremos, ainda, reforçar o equilíbrio entre o financiamento da pesquisa básica, da pesquisa aplicada e do desenvolvimento tecnológico. Se pudermos, em situações econômicas mais favoráveis, vamos trabalhar também para aumentar o ingresso de recursos, ampliando, portanto, a capacidade de investimento da instituição, que já não é pequena (cerca de R$ 550 milhões em 2001). A Fapesp, mais do que uma agência de fomento, é uma das principais instituições formuladoras de políticas públicas do país na área de ciência e tecnologia.

Dos programas criados pela Fapesp, quais o senhor destaca?

A Fapesp mantém programas importantes na área de inovação tecnológica, como o apoio as micro e pequenas empresas, bem como no âmbito das políticas públicas. Também é responsável por iniciativas de vulto como os Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), além, é claro, do grande e importante Programa Genoma, consubstanciado na Rede Onsa, de pesquisa na área. São programas que visam apoiar não apenas o desenvolvimento do saber, mas também criar condições para transformar esse conhecimento em riqueza. Um dos grandes desafios para a instituição, além de continuar na linha tradicional de fomento a pesquisa, é justamente procurar incentivar cada vez mais o desenvolvimento de mecanismos que contribuam efetivamente para esse processo de transformação.

Que outros desafios o senhor espera encontrar à frente da Fapesp?

Eu assumi a Fapesp diante de um primeiro desafio. Recentemente, quando completou 40 anos, a fundação recebeu um presente do presidente Fernando Henrique Cardoso. No seu discurso, o presidente anunciou a doação para a instituição do terreno onde funciona a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), que deverá se mudar para área próxima ao Rodoanel. Isso vai requerer uma atenção grande por parte da Fundação. Além das tratativas com os organismos federais, para que a doação se concretize, também será necessário discutir a questão com a USP, a Unicamp e a Unesp, bem como com a Prefeitura de São Paulo. Faremos um trabalho de organização, objetivando o melhor uso da área, que tem 700 mil metros quadrados, para o favorecimento da pesquisa e dos benefícios sociais que esse tipo de incorporação pode trazer.

Como ex-conselheiro da Fapesp e ex-reitor da Unicamp, como o senhor avalia a importância da Fundação no desenvolvimento da pesquisa na Universidade?

A Unicamp é um dos grandes usuários da Fapesp. Na ordem, aparece a USP, depois a Unicamp e a seguir a Unesp. A Unicamp recebe cerca de 25% dos recursos de fomento destinados às instituições de pesquisa, o que é um volume grande. Penso que a Unicamp, assim como as demais universidades, têm potencial para aumentar essa participação.

O senhor é um homem voltado para a ciência, mas é sobretudo um humanista. Isso fará com que o senhor dê uma ênfase diferente ao seu trabalho à frente da Fapesp?

Acho que não. Meu interesse pela ciência é o interesse do humanista pelo conhecimento. Considero que a ciência faz parte da construção ética e estética que dá um sentido forte à existência. O conhecimento científico como um todo faz parte do processo de evolução e transformação cultural, que permite ao homem buscar cada vez mais condições para a sua sociabilidade. Penso que estar na presidência de uma instituição de financiamento à pesquisa me dará condições de associar o interesse da ciência à poesia da existência.

A Fapesp é uma instituição paulista, mas que tem uma importância fundamental para o desenvolvimento científico e tecnológico do País. Como o senhor vê a participação da instituição no cenário nacional?

Do ponto de vista do sistema de financiamento, a Fapesp tem um papel fundamental, dada às suas condições de bom funcionamento. Além de dispor de um orçamento significativo (1% da receita tributária do Estado), a Fundação tem uma gestão muito adequada. Isso faz com que, no cenário nacional, ela funcione como uma agência que promove o equilíbrio no que diz respeito às ações das instâncias federais. CNPQ, Capes e Finep têm atuações importantíssimas em nível nacional. Entretanto, a produção científica está muito concentrada no Sudeste, em particular em São Paulo, o que faz com que a Fapesp tenha um papel importante do ponto de vista da capacidade de produção científica e tecnológica do País. Ser uma agência paulista não representa conceder recursos apenas a instituições paulistas, mas a instituições federais que estejam em São Paulo. O critério é mais geográfico do que de filiação institucional. Além disso, a Fapesp serviu de modelo para a criação de várias agências estaduais. Nesse sentido, ela é uma instituição exemplar, pois funciona como um paradigma para a comunidade nacional. A aspiração é que, no quadro da capacidade econômica de cada Estado, tenhamos outras instituições cujo funcionamento e regularidade sejam semelhantes aos da Fapesp.