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Campinas, junho de 2001 - ANO XV - N. 162.........
     
   
 

LUIZ SUGIMOTO

Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Lesões por Traumas Cumulativos (LTC), Distúrbios Músculoligamentares Relacionados ao Trabalho (DMRT), Distúrbios Ósteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). A doença, que ganhou várias e complicadas nomenclaturas durante as duas últimas décadas, quando se tornou um dos maiores problemas de saúde ocupacional no mundo, afeta músculos, tendões, sinóvias, nervos e ligamentos, com ou sem degeneração dos tecidos, principalmente dos membros superiores, ombros e pescoço. Causas mais freqüentes: atividades repetitivas ou esforço exagerado sobre esses grupos musculares, ou ainda a postura inadequada. Alguns patrões e mesmo colegas de serviço, ignorantes quanto ao assunto, ainda a chamam de “LERdeza”, atribuindo-a a uma suposta preguiça do trabalhador, já que as lesões não são aparentes.

“É um termo pejorativo cada vez menos usado, mas ainda em voga dentro de empresas mal estruturadas, que visam apenas ao lucro e não pensam na importância da capacidade intelectual e da saúde física de seus funcionários”, afirma o médico Luiz Fernando Macatti, coordenador de saúde ocupacional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Ele concedeu palestra sobre o tema na 1ª Semana de Saúde Ocupacional, evento oferecido em maio pela Unicamp ao seu quadro de servidores.

O fato é que a DORT – definição tida como a mais correta a partir de 1997 – tornou-se uma questão bastante séria. Os estudos aprofundados acerca da doença começaram em 1980 na Austrália, país onde o serviço de seguridade quase quebrou e se viu obrigado a alterar a normatização relacionada a licenças e indenizações, frente ao processo de evolução muito grande das lesões. Nos Estados Unidos, que possuem estatísticas confiáveis, são acometidos de 3,2 a 3,5 trabalhadores em 100. O tempo médio de afastamento é de 25 dias. O American Journal aponta que os norte-americanos gastaram, em 97, US$ 418 bilhões em custos diretos com a DORT. O montante alcança US$ 837 bilhões com os custos indiretos e a cifra impressionante de US$ 1,2 trilhão se somados os tratamentos, reclamações trabalhistas, perda de produção, dias parados e perda de capacidade produtiva dos empregados.

Em 1995/96, as atividades de escritório respondiam por 65% dos ocorrências e, as industriais, por 35%. Mas as coisas estão mudando. “Houve uma forte diminuição no número de trabalhadores na indústria e, quem ficou, está trabalhando e se expondo mais. Em pouco tempo teremos o equilíbrio em 50% entre as linhas de escritório e de produção. A quantidade de processos trabalhistas nas indústrias já atingiu o mesmo nível”, observa Macatti.

Mal antigo – O médico lembra que, em princípio, as LER/DORT não são uma doença, e sim lesões que ocasionalmente adquirem a conformação de uma doença. Não advêm necessariamente das atividades de trabalho. A maioria dos casos é totalmente curável e apenas uma minoria progride para a incapacitação. Também não são uma novidade, pois tem-se conhecimento delas desde 1950. “O termo tenossinovite ocupacional é apenas uma constatação contemporânea de um fenômeno mais antigo. O número de pessoas que utilizavam máquinas de escrever era pequeno no passado e, por conseguinte, as reclamações. Comparativamente, podemos afirmar que 95% das pessoas hoje mexem com computador, quando há duas décadas somente 20% estavam digitando”, ilustra Macatti.

Um terço das ocorrências se deve ao trabalho e um terço a fatores extra-profissionais. Os fatores causais do outro terço são de difícil identificação, podendo estar relacionados com problemas hormonais e alterações psicológicas. “É possível imaginar a dificuldade para esta identificação com o fato de que antes pensávamos apenas em hormônios femininos e hoje sabemos que os homens têm andropausa e, portanto, dificuldades hormonais, que podem influenciar à DORT”, compara o especialista.

Luiz Macatti ressalta um outro equívoco, cometido inclusive por médicos mal informados, que vêm LER/DORT apenas como dor. “Nas fases iniciais a característica básica é a fadiga nos membros, um peso e um dolorimento. A pessoa sente dificuldade de se acomodar para dormir, uma sensação estranha, um incômodo no membro superior. As dores só aparecem em fase mais adiantada”, adverte o médico. Ele acrescenta que nos níveis 1 e 2 a DORT regride na maioria dos casos, com o uso de antiinflamatórios e analgésicos, repouso e exercícios fisioterápicos.
Nos níveis 3 a 4 a situação complica, caminhando-se para a incapacitação física. “Não há chance de reverter o quadro, a não ser que surjam mecanismos novos. Com o envolvimento da genética, por exemplo, talvez possamos curar um paciente no nível três, evitando que alcance o nível quatro e se torne incapaz para sempre”, confia o médico.

Afastamento – Macatti garante que médicos, fisioterapeutas e psicólogicos já possuem informações suficientes para diagnosticar o paciente com LER/DORT e afirmar com certeza se seu quadro é reversível ou não. São freqüentes, contudo, as denúncias contra o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) de que o órgão estaria determinando o retorno ao trabalho de funcionários lesionados e com dor, aparentemente para diminuir custos do governo com esses afastamentos.

“Há dois anos tivemos 300 ou 400 casos desse tipo somente em Campinas”, recorda o médico. “Mas creio que aquela determinação foi uma tendência momentânea e deixou de existir. A questão é que o médico do INSS não parece ter as mesmas condições que seus colegas de fora. O processo para afastamento é bastante dificultado, porque ele precisa ter a certeza da ocorrência de DORT. E esta certeza não se obtém apenas com diagnóstico e exames médicos; é preciso ir às empresas para avaliar as condições de trabalho no local, procedimento que raramente um médico do INSS pode tomar”, conclui.

 

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