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O papel de Pinotti na consolidação da Unicamp


EUSTÁQUIO GOMES

Pinotti iniciou a institucionalização da Unicamp e mais que duplicou a área construída do campus de Campiunas.  Mesmo nas universidades a memória é curta e seletiva. É possível que para muitos a lembrança predominante de José Aristodemo Pinotti, falecido no último dia 1 de julho, seja a da celeuma que se estabeleceu durante todo o primeiro semestre de 2007, quando o ex-reitor, então à frente da Secretaria de Ensino Superior do Estado, entrou em rota de colisão com as expectativas das três universidades estaduais - Unicamp, USP e Unesp.

De fato não foi das mais felizes aquela passagem. Vindo de sucessivos mandatos parlamentares e distante dos campi universitários, ficou a impressão de que Pinotti sintonizava já em frequência distinta daquela em que as universidades estavam situadas, após duas e décadas e meia de transformações internas, entre as quais a conquista da autonomia de gestão financeira em 1989.

Seria um grande erro julgar sua biografia por um episódio que talvez o próprio Pinotti gostasse de não ter vivido. Em 1982 ele passara por algo semelhante, uma espécie de julgamento público do qual, ao contrário do que ocorreu em 2007, saiu fortalecido e mostrou a que viera. Parte da comunidade da Unicamp relutou em respaldar um reitor que na lista da comunidade era apenas o décimo segundo colocado. Na época, a consulta interna ainda não era regimental e a resistência durou pouco. Pinotti não precisou de muito tempo para demonstrar que seria um reitor à altura daquele momento histórico.

Momento dos mais delicados, aliás. A Unicamp tinha apenas quinze anos de existência e estava sob intervenção havia meses. As atividades acadêmicas estavam paralisadas e a rotina do campus era a de uma assembleia permanente. Aquele estado de coisas poderia ter selado o início do declínio da Unicamp, mas não foi o que aconteceu. Pinotti compreendeu que a grande crise de 1981 - como a crise institucional que já se esboçara em 1972 - havia penetrado pelas brechas regimentais e que era necessário dar início imediato a um projeto de institucionalização cuja discussão devia abranger não só as instâncias superiores mas toda a universidade. Foram colocados em debate todos os grandes temas institucionais que eram motivo de controvérsia. Depois de debatidos em assembleias e nas congregações das unidades, essas matérias regimentais subiam para o então Conselho Diretor, onde eram novamente discutidas e votadas. E assim, uma a uma, as arestas institucionais foram substancialmente aparadas.

A reforma institucional deflagrada por Pinotti, muito semelhante a uma constituinte, não se esgotou com o fim de seu mandado em 1986. Teve continuidade nos dois mandatos seguintes e experimentou seu ponto culminante com a instalação do Conselho Universitário em 1990, no final da gestão de Paulo Renato Souza. Carlos Vogt consolidaria o processo nos quatro seguintes.

Com o processo de institucionalização em marcha, Pinotti atirou-se a um projeto de reconstrução física do campus que, no início de 1986, significava o acréscimo de 114% em obras físicas sobre o que Zeferino Vaz havia construído. Foi como se emergisse um novo campus dentro do já existente. Em meados de seu mandato, quando o governador Franco Montoro pretendeu incorporá-lo a seu secretariado, os alunos e professores que o haviam combatido de início subiram à Reitoria para pedir que ele ficasse. Havia um sentimento geral de que um importante processo estava em marcha na Unicamp e que a presença de Pinotti naquele momento era indispensável. Um dos estudantes que o havia vaiado na solenidade de posse falou pelos colegas nestes termos: "Protestamos quando o sr. entrou pela porta dos fundos; agora exigimos que o sr. saia pela porta da frente".

Creio que Pinotti nunca se iludiu com a ideia de que, com o reconhecimento de seus méritos como administrador, gozasse de popularidade irrestrita. Na verdade sempre houve críticos dispostos a ver nele o autocrata que, mesmo quando tomava decisões acertadas, errava ao tomá-las sem consultar a comunidade. Compreende-se: era ainda o tempo de um assembleísmo desacostumado com o poder representativo. O país vivia o fim do arbítrio e era comum que todo establishment fosse confundido com a ditadura. Pinotti era assim criticado muito mais frequentemente por tomar decisões que por não havê-las tomado.

Era quase incompreensível que, em meio ao ritmo turbilhonante de sua gestão, ele ainda encontrasse tempo para fazer cirurgias e publicar um artigo atrás de outro. Seu memorial acadêmico era de dimensões monumentais e continuou a crescer até o fim de seus dias. Leio nos jornais que ele somou 1.300 publicações, entre as quais 37 livros científicos e mais de 450 artigos em revistas e jornais especializados nacionais e estrangeiros. Em meio a tudo isso é bom não esquecer que Pinotti salvou milhares de vidas no curso de sua trajetória como pesquisador e médico, e esta talvez seja a maior de suas realizações, que, sejamos justos, não foram poucas nem pequenas.

Repercussão

"Como reitor no período de 1982 a 1986, o professor José Aristodemo Pinotti desenvolveu um trabalho fundamental para a consolidação da Unicamp após as bases lançadas pelo seu fundador, Zeferino Vaz. Sua trajetória foi marcante sobretudo porque dissipou a crise institucional de 1981 e iniciou o processo de institucionalização da universidade, cujos desdobramentos se refletem positivamente até hoje, dando sólida base para as atividades acadêmicas, científicas e administrativas".
Fernando Ferreira Costa, reitor da Unicamp

"O professor Pinotti foi o grande responsável pela elaboração das bases de institucionalização da Unicamp. Entre os principais aspectos desse processo, destaco a consolidação da carreira docente e do Estatuto dos Servidores da Unicamp, discutidos e organizados em sua gestão. Ele assumiu o cargo quando a Universidade estava saindo de um processo de intervenção do governo no contexto de uma crise institucional e percebeu que era importante trabalhar com a institucionalidade. São essas bases que sustentam a Unicamp até hoje. Esse foi seu grande mérito como reitor, além, claro, de pesquisador de qualidade inquestionável".
José Tadeu Jorge, secretário municipal de Educação em Campinas e ex-reitor da Unicamp de 2005 a 2009.

"O prof. Pinotti teve um papel fundamental na institucionalização da Unicamp. Assumiu a Reitoria após uma extensa e complicada crise institucional e, com uma gestão de visão e atenta aos objetivos acadêmicos e institucionais, soube tranquilizar a comunidade universitária abrindo um amplo e participativo debate sobre a elaboração dos Estatutos e Regimento Geral".
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp e ex-reitor da Unicamp de 2002 a 2005.

"O professor Pinotti assumiu a reitoria da Unicamp num momento bastante difícil e em quatro anos conseguiu apaziguar a Universidade. À época, eu era professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e fiquei muito sensibilizado com o seu desempenho naquele episódio. Quando assumi o cargo de reitor, de 1998 a 2002, Pinotti era deputado federal e nessa qualidade prestou serviços inestimáveis à Unicamp".
Hermano Medeiros Ferreira de Tavares, engenheiro eletrônico, ex-reitor da Unicamp de 1998 a 2002.

"Pinotti foi um grande médico, cancerologista, ginecologista, professor , político e empreendedor. A Unicamp e particularmente a Faculdade de Medicina devem muito a ele, que ajudou a montar , expandir e qualificar mais ainda. Foi seu sucessor na Diretoria da Faculdade de Medicina e posteriormente na Reitoria da Universidade. Pinotti foi meu orientador da tese doutoral, em 1972, a primeira que se realizou na pediatria da Unicamp.Tinha um espírito público invejável e tremendamente empreendedor. Era pragmático em seus conceitos, sempre tomava as decisões que achava serem melhores e mais adequadas para a Instituição. Foi um criador de professores de ginecologia e de mastologistas. Eu o acompanhei sempre de perto e pude sentir sua capacidade de dedicação à causa pública. Grande perda para a Unicamp, para a educação e para a medicina. Minha família se junta ao luto que se abate sobre a Unicamp e sobre a USP".
José Martins Filho, pediatra, ex reitor da Unicamp de 1994 a 1998.

"Se Zeferino Vaz foi o pioneiro da fundação da Unicamp, o professor Pinotti foi o pioneiro da sua institucionalização. Foi por iniciativa dele, enquanto reitor, que a Unicamp efetivamente deu inicio ao processo de institucionalização da universidade, criando as condições do que viria a ser nos anos seguintes o seu desenho institucional e o seu projeto definitivo de grande universidade no contexto nacional e internacional".
Carlos Vogt, secretário de Estado de Ensino Superior e ex-reitor da Unicamp de 1990 a 1994.

"O Pinotti era meu grande amigo, médico das mulheres da minha família. Sua morte é um fato que me entristece muito, é difícil não me emocionar. Ele foi um lutador. Fizemos muitas coisas juntos. Quando ele foi reitor na Unicamp, eu era seu assessor. Quando fui secretário de Estado da Educação ele era reitor da Unicamp. Depois, eu fui eleito reitor e ele assumiu a Educação. Temos muitas passagens juntos. Um homem que deu uma contribuição muito importante para a saúde da mulher no Brasil. Um médico brilhante, um grande cirurgião. Ele foi o pioneiro em várias técnicas cirúrgicas, especialmente na área da saúde da mulher. Além do excelente profissional, Pinotti foi um pai e um avô exemplar. Ele nunca se abateu, mesmo diante das maiores dificuldades. Era um grande lutador. Há um mês ele ainda operava. Ele deixa marcas na saúde e na educação de São Paulo e do Brasil. Foi ele quem introduziu a idéia das escolas de tempo integral em parceria com a sociedade civil. Com certeza é uma pessoa que marcou sua época".

Paulo Renato Souza, secretário de Estado da Educação e ex-reitor da Unicamp de 1986 a 1990.

(Eustáquio Gomes,
atua como jornalista na Unicamp
desde março de 1982)

 
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