| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 331 - 31 de julho a 6 de agosto de 2006
Leia nesta edição
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Faculdade de Educação
Cérebro
Cérebro: suporte logistico
Mandarim 34
Desnutrição
Valorização dos veteranos
Unicamp por 40 ângulos
Música Erudita
José Caldas
Cênicas: Prêmios em Blumenal
Painel da semana
Teses
Livro da semana
Veneno da copa
Câncer
 

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Equipamento será instalado em prédio que centralizará
atividades; interface será feita em rede de alta velocidade

QG virtual dá suporte logístico

Fernando Cendes: “Janela para o entendimento do funcionamento cerebral”O prédio do Centro Multimodal de Neuroimagem para Estudos em Epilepsia da Unicamp será construído num terreno contíguo ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas. A obra, em fase de licitação, é fruto de um consórcio formado pelo Instituto de Física “Gleb Wataghin”, Faculdade de Ciências Médicas, Hospital das Clínicas e Reitoria. O edifício vai funcionar como uma espécie de quartel-general virtual do CInAPCe. Abrigará estagiários do curso de Física Médica, a máquina de ressonância magnética e parte dos laboratórios, além de centralizar as pesquisas desenvolvidas nas nove unidades da Unicamp que integram o programa. São múltiplos os focos de estudos – vão da neurofísica à análise sensorial; do processamento de imagens à engenharia molecular; da genética à divulgação cientifica, entre inúmeros exemplos. Não é à toa que os coordenadores do programa, os professores Fernando Cendes e Roberto Covolan, vêem o Centro como um marco no âmbito do programa e da própria história da Unicamp.

“A partir da neuroimagem, mas não só dela, o centro funcionará como plataforma de um núcleo de pesquisa avançada em neurociência. Sem falsa modéstia, buscamos mesmo essa coisa mais ambiciosa”, admite Covolan, para quem o esforço concentrado empreendido pela Unicamp e parceiros no projeto e em suas derivações não só está no mesmo patamar das instituições mais avançadas do mundo como também pode servir, no futuro, de referência para programas similares. “Nós vamos competir internacionalmente. O grupo como um todo já tem grande inserção, com um número considerável de publicações científicas em revistas de alto impacto”, afirma Cendes, endossando os argumentos do colega.

Os limites geográficos não serão problema. A interface entre os pesquisadores da Unicamp e das demais instituições será feita – e facilitada – pelo Projeto KyaTera (Plataforma Óptica de Pesquisa para o Desenvolvimento da Internet Avançada), rede de alta velocidade. O ambiente virtual possibilitará desde a organização de videoconferências até a troca simultânea de informações entre diferentes grupos.

Na avaliação de Covolan, os benefícios desse ambiente de pesquisa para a Universidade serão muitos, a começar pela formação de pessoal qualificado. O físico pondera que, quando se fala em tecnologia de ponta, as pessoas desprezam o fato de os grandes saltos de desenvolvimento ocorrerem no momento em que problemas complexos precisam ser resolvidos. “As descobertas ocorrem justamente quando você busca os instrumentos para resolver essas equações”, afirma Covolan. “Trata-se de uma questão de conhecimento estratégico, que enseja o desenvolvimento tecnológico”. O especialista destaca que, nesse contexto, a epilepsia, afora os aspectos relevantes do ponto de vista clínico e humanitário, se encaixa nos objetivos do programa. “O estudo da dinâmica cerebral é emblemático do sistema a ser utilizado”.

Roberto Covolan: vendo o Centro como um marco na história da UnicampA máquina – A máquina de ressonância magnética de alto campo, cuja definição e capacidade são muito maiores do que as existentes atualmente no mercado, ocupará um papel fundamental no projeto – seja no mapeamento do cérebro ou no aumento significativo do número de pacientes que serão atendidos. Entretanto, Covolan ressalta aspectos tão importantes quanto os citados acima. O primeiro deles diz respeito ao próprio funcionamento do equipamento (leia texto nesta página). Multimodal, a máquina apresenta uma grande variedade de técnicas avançadas que exigem, na maioria dos casos, pós-processamentos de imagens ou esforço de pesquisa concentrado no trabalho de seqüência de pulsos. “Essas técnicas não são nada triviais. Precisaremos desenvolver aspectos tecnológicos para colocá-la em pleno funcionamento. Isto requer também programas computacionais e ferramentas de processamento de imagens que sejam robustos. É preciso ter uma equipe com múltiplas habilidades para operar esses sistemas e lidar adeqüadamente com as questões que serão investigadas”. Entra aí, explica o cientista, a importância das abordagens multidisciplinares.

Outro fator mencionado pelo físico é o uso combinado da máquina de ressonância com outras técnicas, entre as quais as do eletroencefalograma e da tomografia óptica. Neste último caso, Covolan revela que, apesar de o programa estar em vias de adquirir um protótipo, há interesse do grupo em desenvolver um similar nacional, o que certamente originará uma linha de pesquisa. “Trata-se de um equipamento de última geração que faz uso de fontes de laser. A luz do laser atravessa o córtex e fornece informações sobre o funcionamento do cérebro”, explica.

Fronteiras – Fernando Cendes também enxerga uma série de benefícios nos estudos de imagens sob a perspectiva multimodal. Para o docente da FCM, o método abre fronteiras do conhecimento na medida em que será possível estudar a farmacologia, a anatomia e a fisiologia do sistema nervoso por meio de uma forma totalmente não-invasiva. “Num exame de ressonância, você não injeta nada, nem submete o indivíduo à radiação ionizante. Até mesmo o inconveniente do barulho feito pela máquina é contornável”.

O neurologista lembra ainda que, diferentemente de clínicas especializadas que adquirem o equipamento já formatado para o uso, o CInAPCe vai investir maciçamente no desenvolvimento, estudo e testagem das aplicações. As pesquisas, antecipa Cendes, desembocarão no desenvolvimento e em testes de novas rotinas que ao longo do tempo beneficiarão os pacientes. “Exploraremos a máquina ao máximo. Ela não será apenas um instrumento usado na realização de exames. Nós faremos dela um grande laboratório multimodal”.

 

Para sair da sombra

Li Li Min: pauta extensa para divulgar informações sobre a epilepsiaO neurologista Li Li Min, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, conhece como poucos os impactos causados pela epilepsia no tecido social. Li coordenou, em Campinas, a campanha da Organização Mundial de Saúde (OMS) “Epilepsia Fora das Sombras”, cujo objetivo era formular um modelo de assistência integral às pessoas acometidas pela doença. Os avanços obtidos pela campanha, encerrada em maio, foram significativos. O cientista reconhece, porém, que há muito a ser feito, sobretudo para mitigar o estigma que cerca a doença, não raro vista por setores da população brasileira como “demoníaca”. Li, autor da sigla CInAPCe – jogo de palavras inspirado no termo grego sinapse (ponto de contato dos neurônios) –, terá uma função considerada estratégica: o cientista vai coordenar as áreas de educação e interação social do programa.

Sua pauta será extensa, mas derivará de um projeto de difusão de informações adequadas acerca da doença para a população em geral. Para tanto, Li pretende atuar em várias frentes. Uma delas, ambiciosa, é inédita no país: tentar entender quais são as bases neurais que estão por trás do preconceito e do estigma. Para viabilizar o estudo, Li terá o apoio de especialistas em avaliação funcional-cognitiva, com o suporte do equipamento de ressonância magnética. Com isso, imagina o neurologista, será possível entender, entre outras coisas, como funciona o cérebro de uma pessoa quando ela diz que rejeita os portadores de epilepsia. “Estamos estudando várias propostas que vão nessa linha. É preciso compreender – e discutir – como se processa o preconceito”.

A lacuna de conhecimento é outro problema a ser atacado. O neurologista lembra que ainda grassa a desinformação, apesar de uma busca rápida sobre a epilepsia na Internet fazer emergir mais de 90 mil artigos. Trata-se de uma massa de dados que quase nunca chega à população. Segundo Min, não são poucos aqueles que acham que a doença “pega”. Para disponibilizar a informação correta, da maneira mais adequada, o docente, juntamente com especialistas do Labjor (Laboratório Estudos Avançados em Jornalismo) e da Faculdade de Educação (FE), vai formular programas que priorizem a divulgação científica. “Pretendemos organizar um curso de 360 horas destinado a jornalistas. Queremos atingir os formadores de opinião, as pessoas que atuam na mídia em geral”, adianta Min. “A propagação de informações corretas e esclarecedoras reverterá em inclusão social”.

Outras iniciativas terão como foco a atuação do profissional da área médica, sobretudo com a criação de programas de capacitação nos moldes dos que hoje são promovidos pela Aspe (Assistência à Saúde de Pacientes com Epilepsia, www.aspebrasil.org), Ong da qual Li faz parte e que é formada basicamente por profissionais da Unicamp. “Existe, sem dúvida, um gap. Nem sempre os pacientes são tratados adequadamente em razão do despreparo de pessoas que atuam na atenção básica”, admite o neurologista, que revela: o preconceito é extensivo aos profissionais que, em tese, deveriam combatê-lo.

Otimismo – Na opinião de Li, a atuação sistemática no sentido de atacar problemas pontuais terá seus efeitos visíveis quando a sociedade passar a assimilar de forma mais natural a doença. O raciocínio do neurologista está ancorado em anos de experiência prática. “A partir do momento em que a sociedade souber lidar com as diferenças, os pacientes vão se sentir mais confortáveis para assumir a sua condição e buscar tratamento”, exemplifica, fazendo menção à dificuldade que tem o portador de epilepsia em aceitar o diagnóstico. “Trata-se de um sofrimento desnecessário. É preciso ficar cada vez mais claro que a doença é tão tratável como qualquer outra patologia crônica”.

Na avaliação que faz dos aspectos clínicos do programa, Li não esconde seu otimismo. O especialista prevê ganhos nas áreas do diagnóstico, da prevenção e da reabilitação. Avanços que, na sua avaliação, também beneficiarão, mesmo que indiretamente, milhares de pessoas que não têm a patologia. Li afirma que a escolha do foco temático do projeto não poderia ter sido mais feliz. Recorrendo a um tema caro ao seu repertório de pesquisa, o cientista associa o problema de saúde pública à exclusão social. E no que vai reverter o investimento do Estado num programa como o CInAPCe?. “Em benefícios para José e Maria”, responde. “E é este nosso maior desafio”.

 

Como funciona o equipamento

Os equipamentos de ressonância magnética (RM) a serem utilizados no Programa CInAPCe são tomográfos de 3 Tesla. Vários benefícios são obtidos quando se utiliza RM de alto campo. O primeiro deles é o aumento da relação sinal-ruído, melhorando significativamente a qualidade das imagens obtidas. A importância desse ponto vai muito além do aspecto ligado meramente à visualização das imagens, pois os métodos computacionais de análise e processamento quantitativo utilizados nessa área dependem diretamente da qualidade de imagem. Alto campo, neste caso, se traduz em dados experimentais mais abundantes e mais precisos.

Na área de espectroscopia in vivo, o alto campo implica em uma melhoria da seletividade química, uma vez que a separação dos picos de diferentes metabólitos torna-se maior. Isso implica em precisão na quantificação de metabólitos cerebrais. Um outro aspecto importante é que mecanismos de contraste relacionados a efeitos de susceptibilidade tornam-se mais efetivos em alto campo. Como conseqüência, sinais de RM funcional, que utilizam o nível de oxigenação do sangue como meio de contraste endógeno, apresentam amplitudes mais elevadas, facilitando o registro e a localização de uma dada atividade cerebral. Com isso, o mapeamento cerebral in vivo pode ser executado de forma precisa e não-invasiva.

 

UNIDADES E DOCENTES DA UNICAMP

UNIDADES
Faculdade de Ciências Médicas
Instituto de Física Gleb Wataghin
Faculdade de Engenharia Elétrica
e Computação
Instituto de Computação
Instituto de Química
Instituto de Biologia
Faculdade de Engenharia de Alimentos
Faculdade de Educação
Nudecri

DOCENTES
Coordenadores
Fernando Cendes

Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

Roberto J. M. Covolan
Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW)

Alexandre Xavier Falcão
Anibal Eugênio Vercesi
Anita Jocelyne Marsaioli
Benito Pereira Damasceno
Carlos A. Mantovani Guerreiro
Carlos Alberto Vogt
Eduardo Tavares da Costa
Edwaldo E. Camargo
Elba C. S. C. Etchebehere
Ester Maria Danielli Nicola
Francesco Langone
Gabriela Castellano
Iscia Lopes-Cendes
Jorge Humberto Nicola
Li Li Min
Lília Freire Rodrigues De Souza Li
Marcelo Knobel
Maria Aparecida Azevedo
Pereira da Silva
Maria Teresa Eglér Mantoan
Marilisa Mantovani Guerreiro
Roberto de Alencar Lotufo
Roger Frigério Castilho

Fonte: Roberto Covolan

 

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