Jornal da Unicamp 182 -  29 de julho a 4 de agosto de 2002
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Reposição hormonal na berlinda

Mulheres devem rediscutir reposição hormonal com médicos”. “Reposição hormonal: decisão de risco”. “Especialistas britânicos tentam evitar pânico em relação à reposição hormonal”. As manchetes, publicadas nos últimos 15 dias pelos principais jornais e revistas do país, mostram que o alarde é grande na mídia. E justificável, uma vez que a polêmica em torno da segurança da terapia de reposição hormonal, que se arrasta há 20 anos, parece ter chegado a um clímax.

No início deste mês, pesquisadores norte-americanos divulgaram resultados de um estudo realizado com 16 mil mulheres programado para durar 8,5 anos, há muito aguardado pela comunidade científica mundial pelo ineditismo e seriedade com que foi conduzido. A conclusão, um tanto alarmante, mostrou que a terapia combinando doses fixas e contínuas de estrogênios conjugados na dose de 0,625 mg com o acetato de medroxiprogesterona 2,5 mg durante 5,2 anos aumentou o risco de câncer de mama, doença cardiovascular e embolia nas mulheres submetidas a esse tipo de tratamento.

A terapia, entretanto, mostrou diminuição no risco de câncer colo-retal, câncer de endométrio e fraturas por osteoporose. O grupo de mulheres sem útero que está utilizando 0,625 mg de estrogênios conjugados isoladamente continua em acompanhamento, pois nestas mulheres não se evidenciou aumento nos riscos que justificassem a interrupção do hormônio.

Na Unicamp, os resultados dessa pesquisa foram recebidos com muita atenção, mas também com bastante tranqüilidade pelos profissionais do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism). “Não há qualquer motivo para pânico. Ao contrário, acreditamos que a pesquisa trouxe dados importantes não apenas para as pacientes, mas especialmente para a classe médica que poderá prescrever com maior conhecimento a terapia de reposição hormonal”, afirma Aarão Mendes Pinto Neto, chefe do Ambulatório de Menopausa do Caism.

Aarão se mostra bastante seguro ao afirmar que a terapia de reposição hormonal ainda é o melhor tratamento para aliviar os sintomas extremamente desconfortáveis da menopausa, como ondas de calor, sudorese e secura vaginal, que são experimentados por cerca de 40% das mulheres nesse período de vida.

“Além disso, é importante lembrar que, embora se tenha constatado uma incidência maior de câncer de mama, embolia e derrame nas mulheres submetidas ao tratamento em relação àquelas que tomaram placebo, uma substância inócua que não contém qualquer componente ativo, o risco absoluto continua sendo muito baixo”, explica. “A própria pesquisa aponta que, caso 10 mil mulheres tomassem estas doses fixas de hormônios durante um ano sem interrupção, apenas 19 mulheres apresentariam algum efeito adverso”.

Qualidade de vida - A médica Lúcia Costa Paiva, professora do Departamento de Tocoginecologia, também se mostra favorável à terapia convencional de reposição. “O estudo avaliou apenas um tipo de terapia de reposição hormonal e esses resultados não podem ser generalizados”.

Lúcia completa alertando para o fato de que muitas mulheres necessitam de terapia de reposição hormonal devido a presença de sintomatologia exuberante e para essas mulheres, segundo ela, a terapia de reposição hormonal continua sendo indicada. “O mais importante é que a indicação de uso da terapia de reposição hormonal deve ser individualizada, de acordo com as necessidades de cada paciente. Entendemos que os riscos e os benefícios não são os mesmos para todas as mulheres. Para minimizar os riscos, é necessário acompanhamento médico dos efeitos adversos”.

Os professores Aarão e Lúcia ressaltam que a maioria dos riscos apresentados neste estudo já eram apontados por pesquisas anteriores principalmente em relação ao câncer de mama. “Os acréscimos importantes deste estudo foram que a terapia de reposição hormonal não deve ser realizada para prevenção ou tratamento de doenças cardiovasculares e que o uso por longos períodos deve ser cuidadosamente avaliado e individualizado”, afirma Aarão.