Usinas vendem excedente
Isaías Macedo enumera fontes alternativas e espera que crise gere
hábitos permanentes, bom senso e consciência do desperdício

tecnologia para produção de energia de biomassa está disponível. Existem aproximadamente 300 usinas de açúcar e álcool no Brasil, que produzem a própria energia a partir do bagaço de cana, e algumas até vendem o excedente. “É um desperdício não implantar usinas de biomassa porque esta energia vai estar aí sempre”, afirma o professor Isaías Macedo. Nas condições brasileiras, são necessárias algumas usinas de biomassa para produzir a energia de apenas uma termelétrica a gás; é um processo bem mais descentralizado.

A biomassa que interessa neste caso não é constituída apenas de bagaço de cana, mas também de qualquer resíduo da produção agrícola, tal como palha de arroz, casca de árvore, resíduo da indústria de papel e celulose, lixo urbano, etc. O bagaço de cana é mais conhecido devido ao grande volume concentrado em algumas regiões, assim como o resíduo de madeira nas indústrias de papel.

A Suécia possui hoje 20% de sua energia produzida de biomassa, a partir da madeira; planeja atingir 40% em 2020. Na Dinamarca existem muitas usinas usando palha de cereal e, nos Estados Unidos, várias dezenas de unidades a partir de resí-duos e madeira. Os usos “modernos” de biomassa para energia têm sido implementados em muitos países. A conotação de “baixo nível tecnológico” destes processos não corresponde mais à realidade. A contribuição da biomassa na produção de energia no mundo todo chega a 10%, mas metade corresponde ainda à chamada energia não comercial. Segundo Macedo, a energia da biomassa no Brasil é totalmente viável, dentro de custos aceitáveis no mercado internacional.

Nicho interessante – Existe no País outro nicho interessante, de grande potencial, surgido na década de 70, quando houve incentivo fiscal para reflorestamento. “Este programa resultou em muitas florestas de eucalipto e pinus que hoje são queimados em caldeiras de lenha em indústrias, produzindo vapor. Esses sistemas podem ser reprojetados no futuro próximo para gerar energia elétrica, a exemplo das usinas de cana”, pondera Isaías Macedo.

Evidentemente devemos buscar sempre aplicações onde seja possível fazer co-geração, utilizando de modo mais eficiente a energia da biomassa.
Os programas mais interessantes de pesquisa e desenvolvimento nesse campo no mundo, atualmente, são os de gaseificação e ciclo combinado de turbina a gás. Na área de cana, o programa pioneiro mais importante internacionalmente é o da Copersucar com a TPS na Suécia, que está pronto para uma planta piloto.


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O futuro brota do refugo

A equipe do coordenador do Nipe e engenheiro Luiz Cortez, em parceria com o pessoal da Feagri e Aipse/FEM, desenvolve uma série de pesquisas energéticas relacionadas com biomassa. A que mais desperta atenção na atual conjuntura é sobre produção de carvão vegetal a partir de bagaço de cana. Na verdade, desde 1996 – bem antes da crise, portanto – já funciona uma unidade experimental no Centro de Tecnologia Coopersucar, em Piracicaba.

“Mesmo sem a atual pressão que o Brasil está sofrendo na área energética, já prevíamos que essas pesquisas teriam o seu devido impacto dentro de algumas décadas”, conta Cortez. “É importante lembrar que todo o século 20 foi do petróleo e tivemos muito poucos investimentos em tecnologias alternativas. Mas agora, com a questão do efeito estufa, as nações andam cada vez mais preocupadas com mecanismos de desenvolvimento limpo, sustentáveis”.

O princípio do trabalho é chamado de pirólise (do grego “decomposição pelo calor”) rápida. O processo tem lugar quando um material sólido se decompõe na presença de um fluxo de calor e de uma atmosfera não oxidante ou pouco oxidante.


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Papel fundamental da universidade

Consumo baixo – O padrão médio de consumo de energia do brasileiro é baixo em comparação com o resto do mundo industrializado, mas ainda existe muito desperdício. Embora as reduções possíveis de consumo devam ser perseguidas, a demanda total deverá crescer (e muito) à medida que a distribuição de riqueza se tornar mais aceitável.

“É importante olhar de perto o aquecimento térmico solar nas residências, o que pode resultar em grande economia de eletricidade”, destaca Macedo. Como fontes alternativas se destacam ainda a energia solar e a eólica, interessantes para regiões distantes das linhas de transmissão.

A energia solar fotovoltaica ainda é reservada para pequenas aplicações especiais, devido ao alto custo atual, mas havendo perspectiva de grandes avanços nos próximos anos. A energia dos ventos vem crescendo com grande velocidade, sendo competitiva em áreas específicas.

“Devemos nos preparar para planejar e administrar sistemas muito mais complexos de fornecimento de energia, saindo do tradicional hidroelétrico/petróleo. São necessários a adequação de fontes e processos ao uso final, o uso extenso de co-geração e uma descentralização muito maior, juntamente com a consciência a respeito do valor da energia e da importância de evitar o desperdício”, finaliza Isaías Macedo.

 

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