| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 383 - 10 a 16 de dezembro de 2007
Leia nesta edição
Capa
Homenagem: Raul do Valle
Cartas
Empreendedorismo
Desenvolvimento na infância
Doença endêmica
Lançamento: Roberto Goto
Lançamento: Eliézer Rizzo
Lançamento: Armando Boito
Patrimônio
Ensino musical
Banana-passa
Fragilidade do idoso
Painel da semana
Teses
Livro da semana
Destaques do Portal
Sementes de canola
Álvaro de Bautista
 


12

Obras feitas por artista plástico e pioneiro do
Instituto de Artes vão compor calendário de 2008 da Unicamp

Alma brasileira ancora
nos portos de Bautista

MARIA ALICE CRUZ

O artista plástico Álvaro de Bautista durante exposição na Galeria de Arte da Unicamp: forte relação com os personagens retratados (Fotos: Antônio Scarpinetti) (imagens nesta página)Olhar para os personagens da coleção Gente da Terra, do artista plástico Álvaro de Bautista, é penetrar na alma do povo brasileiro. A lavadeira baiana, a menina de Natal, o mestre de saveiro de Salvador e as crianças da Fazenda Rio das Pedras, em Campinas, ganham vida nas telas de Bautista. Do interior de um veleiro oceânico construído por ele, o pintor, engenheiro naval e desbravador de mares começou a observar a realidade brasileira, em Salvador, num momento em que construía barcos para a Sudepe. Toda produzida a partir da técnica veneziana, a coleção empresta 12 de suas 27 peças ao calendário institucional da Unicamp de 2008, recém-lançado em exposição das obras na Galeria de Arte da Universidade.

“Esta é minha homenagem ao povo brasileiro”, diz Bautista. A relação com seus personagens é fortemente percebida quando ele conta a história de cada tela. Nas exposições, as legendas ganham forma poética, para mostrar sua fidelização aos personagens. “As legendas ilustram não só a tela, mas a certeza de que conheci cada um deles. E tenho orgulho disso.”

As pinturas chamam a atenção pelo realismo dos retratos de personagens que o artista encontrou pelas ruas e viagens que fez por vários cantos do Brasil. Algumas pessoas juram estar diante de uma bela fotografia – não sabem que foram os pincéis de Bautista que produziram as obras. “Não tenho angústia nenhuma e, por isso, não a retrato. Quero mostrar a vida desses brasileiros”, diz com sotaque espanhol.

“O olhar, as linhas de expressão, o sombreamento. Olha os pés dessa lavadeira na água. Parece que estamos vendo água de verdade. Os personagens estão vivos no quadro”, diz Fátima, funcionária da Galeria de Arte. Apesar de já conhecer o trabalho, ela não cansava de olhar para as telas na exposição, realizada em homenagem à aposentadoria de Bautista, que este mês deixa a docência depois de três décadas de Unicamp. “Da outra vez que ele expôs esta coleção, enquanto montávamos, as pessoas davam uma batidinha para pedir informações sobre a mostra. É impressionante”, completa Fátima.

Mas Bautista, quando questionado sobre a fidelidade dos elementos de expressão, justifica: “O bom resultado faz parte da pesquisa que a academia exige e eu busquei uma técnica que exprimisse a realidade. É obrigação de um professor conhecer sua profissão. É preciso buscar este elemento de expressão que retrato nos quadros”, diz o artista. A técnica veneziana, típica dos séculos 16 e 17, permite trabalhar a luminosidade e até a transparência da água que “cobre” os pés da lavadeira na Bica da Conceição, na Bahia. Por se tratar de uma técnica muito antiga, Bautista teve de confeccionar os acessórios usados para a produção das telas. “Até os pincéis tiveram de ser produzidos. Não existem mais.”

Aposentadoria – O calendário é o presente do pintor, engenheiro e construtor naval que hoje desbrava outros mares, mas nem pensa em se despedir da Unicamp. Em Paraty (RJ), seu novo endereço após a aposentadoria, ele intensifica sua atuação no Laboratório de Pesquisas em Artes e Ciências (Lepac), vinculado ao Instituto de Artes (IA) da Universidade, destinado ao desenvolvimento de estudos e pesquisas em ciência e arte e à oferta de cursos de extensão e difusão cultural. “A comunidade de Paraty está adorando a instalação do Lepac e tem demonstrado interesse pelos cursos de música”, enfatiza Bautista. O sonho de instalar um campo avançado da Unicamp em Paraty é resultado de uma longa batalha pessoal, que começou a se materializar em uma conversa com o paisagista Tymur Klink, doador do terreno de 2 mil metros quadrados onde está instalado o Lepac.

Mas, não satisfeito apenas com a contribuição acadêmica, o calendário e o Lepac, Bautista faz jus a outras ações generosas no campus de Barão Geraldo. Além dos trabalhos desenvolvidos ao longo de 30 anos, ele lembra que foi a primeira pessoa a espalhar sementes de ipê pelo campus: “Como um homem que jogou as primeiras sementes de ipês pode se desligar da Unicamp só porque atingiu certa idade? Não há idade para pintar nem para tocar piano”, enfatiza.

Belas Artes – Bautista trouxe de sua formação em escolas européias toda a experiência para criar a Escola de Belas Artes da Unicamp, a convite do então reitor Zeferino Vaz, em 1976. ‘Foi neste momento que decidiu deixar Madri rumo a Barão Geraldo. “Nós a criamos nos mesmos moldes de escolas européias, por eu ter estudado na Itália, na França e na Espanha.” A escola durou sete anos, mais precisamente até 1983, quando o ex-professor Bernardo Caro, falecido em setembro deste ano, criou o Departamento de Artes da Universidade, do qual Bautista se tornou docente.

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2007 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP