| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 347 - 11 a 17 de dezembro de 2006
Leia nesta edição
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Testes de laboratório
ajudam a melhor entender
e diagnosticar a esquizofrenia

O biólogo Daniel Martins no Laboratório de Proteômica: identificando diferenças entre os conjuntos de proteínas de cérebros normais com os esquizofrênicos (Foto: Antoninho Perri)Cerca de 1% da população mundial sofre de esquizofrenia, doença mental crônica e debilitante, que tem características como alucinações visuais e auditivas, acompanhadas de sensações como a de perseguição. O diagnóstico da esquizofrenia é essencialmente clínico: nos testes são listados fatores indicativos que recebem pontuações; ultrapassado certo número de pontos, fica caracterizada a doença. No entanto, segundo publicações na literatura, entre 20% e 30% desses diagnósticos provocam divisões entre os psiquiatras, revelando o caráter até certo ponto subjetivo do processo clínico. E não existe, ainda, um teste laboratorial que comprove a doença.

Diagnóstico da doença que atinge 1% da população é clínico

Determinar um método molecular capaz de apontar a esquizofrenia – a exemplo do que se faz em relação a diabetes e ao índice de colesterol no sangue – é um dos objetivos do biólogo e doutorando Daniel Martins, que desenvolve pesquisas no Laboratório de Proteômica, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Ele segue uma linha de pesquisa financiada pela Fapesp, o Projeto de Estudos em Esquizofrenia, coordenado pelo professor Wagner Farid Gataz, do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Os estudos de proteomas na Unicamp são coordenados pelos professores Emmanuel Dias Neto, também do Instituto de Psiquiatria, e José Camillo Novello, do IB da Unicamp.

Daniel Martins explica que o projeto temático possui três vertentes. A primeira diz respeito a expressão gênica, visto que um gene pode atuar de modo diferente no cérebro esquizofrênico, em comparação com o cérebro normal. Outra vertente trata do estudo dos fósforolipídeos, que constituem a membrana das células do cérebro, cuja variação pode estar relacionada à doença. E a terceira, sob responsabilidade do Laboratório de Proteômica, refere-se à expressão protéica, ou seja, ao conjunto global de proteínas, que também podem ser produzidas diferentemente em um cérebro esquizofrênico.

A esquizofrenia não tem cura, mas pode ser tratada e controlada. Ocorre que o uso prolongado de determinadas medicações provoca efeitos colaterais. Isso torna importante entender a ação das moléculas, tanto para o diagnóstico quanto para desenvolver medicamentos mais eficientes. Uma terceira questão, segundo Martins, é desvendar como a doença se manifesta e atua, pois embora existam muitas evidências bioquímicas, ainda não se tem um traçado dela: “Nós estudamos o proteoma – o conjunto de proteínas em uma célula – de cérebros esquizofrênicos. Nas células cerebrais, assim como em todo o organismo, os genes contêm as informações que o órgão precisa receber para funcionar de maneira correta, sendo que as proteínas constituem os agentes executores dessas informações”, explica.

No cérebro da pessoa não-esquizofrênica, prossegue o pesquisador, expressam-se determinadas proteínas e em determinados níveis, que fazem com que ele funcione corretamente. O objetivo dos estudos é saber em que níveis os cérebros esquizofrênicos expressam as mesmas proteínas, ou, ainda, se expressam proteínas que os cérebros normais não expressam, e vice-versa. “Assim poderemos compreender de que forma atuar sobre essas proteínas para que o cérebro da pessoa doente funcione normalmente”.

O professor José Camillo Novello, do IB, acrescenta que cada pessoa possui uma carga genética e, dependendo do ambiente em que vive, expressa determinadas partes desta carga. Para tornar mais claro, recorre a uma analogia. “Mesmo que a pessoa disponha de um vasto guarda-roupa, ela não usar todas as peças disponíveis, e sim aquelas que estão de acordo com as circunstâncias. São as circunstâncias de cada individuo que vão levar à manifestação de certo proteoma”.

O pioneirismo desta pesquisa, de acordo com Daniel Martins, está no fato de que os conhecimentos sobre a ação de substância no cérebro dos esquizofrênicos são fragmentados, não havendo trabalhos publicados sobre o proteoma global. “Sabe-se que ocorre um desbalanceamento das proteínas no cérebro doente, mas não das proteínas envolvidas. Nosso estudo vai contribuir para o conhecimento da doença e o desenvolvimento de fármacos”.

O processo – No Laboratório de Proteômica do IB, as proteínas dos cérebros esquizofrênicos e normais (de controle) são separadas conforme as cargas e as massas moleculares através da eletroforese bidimensional, o que permite mapear o proteoma dos dois universos de indivíduos. Martins esclarece que a expressão protéica resultante é bem parecida nos dois casos, mas com pequenas diferenças que revelam proteínas que estão mais ou menos presentes no esquizofrênico.

“Queremos identificar essas pequenas diferenças e, utilizando a espectrometria de massas, determinar os genes responsáveis por elas. A partir dos genes podemos chegar às suas funções, determinando como eles estariam atuando no cérebro”.

São estudadas duas regiões do cérebro que têm as funções mais afetadas quando a esquizofrenia se manifesta: o córtex pré-frontal e o lóbulo temporal anterior. “No lóbulo identificamos 920 proteínas, das quais 45 apresentam diferenciações; e no córtex identificamos 1.200, sendo 90 com expressão diferenciada. Agora tentaremos amarrar as funções de cada um dos grupos protéicos para observar como essas diferenciações podem estar determinando a esquizofrenia”. Daniel Martins explica como os resultados da pesquisa podem contribuir para o diagnóstico da doença: “Podemos buscar essas diferenças também em algum fluido do corpo. Se, por exemplo, conseguirmos detectar no sangue a mesma correspondência do que acontece no cérebro, teremos estabelecido um diagnóstico molecular”.

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