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A estação da cultura e da inclusão social
Reitor assina dia 22 resolução que regulamenta a criação
de centro cultural que vai funcionar na Estação Guanabara

LUIZ SUGIMOTO

O reitor José Tadeu Jorge: “A idéia é promovermos  cursos que sejam profissionalmente úteis”No seu discurso de posse em abril de 2005, o reitor José Tadeu Jorge pregou a necessidade de a riqueza da produção cultural da Unicamp ser colocada com mais ênfase à disposição da população e elegeu a Estação Guanabara como espaço fundamental para uma maior interação com a cidade. No próximo dia 22, às 18 horas, ele assina no próprio local resolução regulamentando a criação do Centro Cultural de Inclusão e Integração Social, o CIS-Guanabara, que já vem promovendo atividades culturais e educacionais desde 2006.

Na mesma cerimônia, os organizadores da Campinas Decor entregarão à Universidade o prédio administrativo da estação e a gare metálica restaurados, a um custo de mais de R$ 4 milhões. O restauro foi a contrapartida pela cessão do espaço para a realização de tradicional feita de arquitetura e paisagismo, no período de 1º de maio a 15 de junho deste ano.

“A Estação Guanabara está no nosso programa de gestão porque sempre achei o projeto importante para uma maior inserção da Unicamp na vida cultural de Campinas. Outra razão é que a Universidade, de certa forma, assumiu um compromisso ao receber a área em comodato do governo do Estado, em 1990. Nos anos seguintes, enquanto assessor e depois chefe do Gabinete do Reitor, acompanhei as gestões para que o projeto elaborado pela Lina Bo Bardi, aproveitando as instalações da estação, fosse executado”, recorda Tadeu Jorge.

Fachada do CIS-Guanabara: espaço para uma maior interação com a cidade

Segundo o reitor, seus antecessores fizeram sucessivas tentativas para sensibilizar parceiros que ajudassem a viabilizar o projeto, originalmente pensado como um centro cultural que incluía um teatro para espetáculos de teatro, música e dança. “O projeto de Lina passou por alterações que permitissem parcerias por meio da Lei Rouanet, criada em 1991 para incentivar investimentos culturais pelas empresas. Nunca tivemos sucesso”.

Tadeu Jorge observa que o fato da área estar invadida e deteriorada representou uma dificuldade adicional para a captação dos recursos necessários, que não eram poucos. “Sentíamos certa desconfiança por parte das empresas de que não conseguiríamos desocupar o local, onde viviam muitas famílias e também grupos que ali se reuniam para tráfico e consumo de drogas e outros fins pouco nobres”.

Estava claro para o reitor que parceiros não seriam atraídos sem a solução daquela situação socialmente degradante. “A primeira etapa da nossa estratégia foi a desocupação, realizada aos poucos e sem traumas, graças ao profissionalismo e habilidade nas negociações da Zezé [Maria José Eleutério, assistente social entrevistada na próxima página]. O professor Mohamed Habib [pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários] se encarregou de garantir a estrutura necessária para a saída das famílias, deslocadas para habitações dignas ou para seus lugares de origem”.

A etapa seguinte foi o aproveitamento imediato do espaço pela Universidade, evitando-se novas invasões. “Inicialmente, os eventos foram meio que improvisados, mas logo o projeto começou a ganhar corpo. Tivemos a adesão da IBM para cursos de inclusão digital, a agregação de um laboratório de pesca artesanal e o oferecimento de cursos para pessoas menos favorecidas que necessitam de algum aprendizado, como de bordado e de culinária”.

O projeto original de Lina Bo Bardi, na opinião de Tadeu Jorge, foi idealizado para levar cultura geral e também serviria ao propósito de contemplar a população mais carente. “A palavra inclusão nem estava em voga no início dos anos 90 e as atividades artísticas não precisam ser necessariamente excludentes. Entretanto, sentimos que o objetivo cultural era pouco e somamos a questão da inclusão social, proporcionando um aprendizado para que as pessoas melhorem sua condição de vida”.

O restauro
Foi a Campinas Decor, no entanto, que veio assegurar a solidez necessária ao projeto, com a restauração da estação e da gare, seguindo os critérios rigorosos de conservação de um patrimônio histórico. “A Universidade dificilmente conseguiria arcar com os custos do restauro. Parece surpreendente que tenham escolhido um local deteriorado para realizar uma feira de arquitetura e paisagismo, mas os organizadores queriam justamente esse tipo de desafio: recuperar um espaço historicamente importante para a cidade. Tanto que a iniciativa de nos procurar foi deles”.

O CIS-Guanabara já entrou no segundo semestre com um evento cultural significativo: a exposição vídeo-fotográfica Gandhi, King, Ikeda – Pelo Ideal do Humanismo, aberta em 13 de agosto e que vai até 6 de setembro, com entrada franca. Montada há quase 10 anos na Universidade More House, a exposição já percorreu 21 países e resgata os ideais de humanismo e cidadania de Mahatma Gandhi, Martin Luther King e Daisaku Ikeda, em 46 painéis e vídeos.

Tadeu Jorge observa que, além de funcionar como um espaço cultural efetivo, o CIS terá uma contribuição importante de professores, alunos e funcionários da Unicamp para agregar a linha de inclusão social. “A idéia é promovermos cursos que sejam profissionalmente úteis, sobretudo aos mais carentes, sendo que a Universidade pode transmitir o conhecimento para qualificar as pessoas em vários segmentos. A questão da desconfiança em torno da Estação Guanabara está resolvida. Agora, todo mundo acredita”.


Pró-reitor destaca projetos

O pró-reitor Mohamed Habib: “Temos engenheiras de alimentos e nutricionistas para qualificar desempregados” O Centro Cultural de Integração e Inclusão Social (CIS) da Unicamp foi inaugurado em abril de 2006, com dois dias de música na Estação Guanabara, ao mesmo tempo em que grafiteiros pintavam sua arte nos tapumes instalados para proteger o prédio contra novas invasões. Foi uma forma lúdica de marcar o território, agora destinado a ações socioculturais para a população em geral, depois da cautelosa e pacífica retirada das pessoas que ali viviam em condições subumanas (veja matéria na próxima página).

“Somos conscientes da degradação socioeconômica, urbana e cultural que se desencadeou nas últimas décadas, em nível global. A falta de recursos da Universidade ou advindos de terceiros inviabilizou o projeto original de Lina Bo Bardi, que previa teatro e sala de exposições. Isto somado à depredação e ocupação da estação por excluídos da sociedade e por marginais”, recorda o professor Mohamed Habib, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários.

Depois de assumir o espaço, a Pró-Reitoria logo se preocupou em elaborar detalhado projeto arquitetônico e de restauro, negociando com o Ministério da Cultura a utilização deste instrumento para captação de recursos pela Lei Rouanet. “Paralelamente, iniciamos as atividades do Centro com oficinas profissionalizantes, cursos de curta duração, palestras e atividades culturais e artísticas, contando com muitos voluntários”.

Em 2007, vieram dois projetos de dimensões maiores. O primeiro viabilizado por uma parceria com a IBM, visando à capacitação de deficientes visuais para o mercado de trabalho, através de equipamentos especiais de informática. O segundo é um programa de capacitação de pescadores artesanais, reconhecido nacional e internacionalmente, coordenado pela professora Alpina Begossi, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.

Segundo Mohamed Habib, ainda era preciso, no entanto, obter os recursos para o restauro e a reforma, a fim de assegurar a qualidade das atividades a partir de uma boa infra-estrutura predial. “Foi no final de 2007 que os ventos começaram a soprar em nosso favor, quando a Campinas Decor nos procurou para uma parceria e se dispôs a restaurar o prédio da administração e a gare. As obras foram concluídas em menos de três meses”.
O pró-reitor festeja a consolidação de um belo espaço para as atividades do CIS-Guanabara, mas observa que ainda são necessários outros equipamentos e serviços de restauro. “A feira reuniu 54 escritórios de arquitetura, que nos deixaram a estrutura básica e alguns materiais – outros, como pias e armários fixos, nós compramos. A expectativa é de que os novos parceiros supram outras carências”.

Leito do trem
A gare metálica, por exemplo, ganhou uma cobertura de 1.500 metros quadrados. Ocorre que, embaixo, duas plataformas ficaram separadas pelo leito do trem. “O leito já está sendo aterrado e coberto com madeira. Vamos unir as plataformas para ter 1.500 metros quadrados também no piso da gare, com a ajuda financeira dos organizadores de uma feira de móveis e madeira produzidos de forma ecologicamente correta”.

Pare a gare estão previstas outras feiras, como de frutas e de flores e plantas ornamentais, que são eventos maiores e esporádicos. A utilização mais freqüente será para cursos profissionalizantes, oficinas e apresentações culturais. Várias atividades acontecerão simultaneamente no mesmo espaço livre. “Na biblioteca teremos cadeiras e bancos para a pessoa ler seu livro; à noite, no espaço pode haver um sarau. Se fizer frio no inverno, temos salas para pequenos eventos no Armazém do Café”.

Mohamed Habib adianta que, no estacionamento da Estação Guanabara, pretende-se montar uma grande tenda para a capacitação de jovens talentos na arte circense. É uma idéia cuja viabilização também depende de parceria, devido ao custo da lona, dos equipamentos e do material pessoal dos alunos. “Os jovens artistas farão ensaios abertos ao público, cujos ingressos seriam adquiridos por uma empresa para distribuição em escolas e bairros”, sugere.

O mesmo espírito guiaria o curso profissionalizante de cozinha industrial, que já conta com parte dos equipamentos. “Temos engenheiras de alimentos e nutricionistas para qualificar mulheres e homens desempregados na produção de uma comida genuinamente brasileira, como sucos, salgados e outros pratos. Este pessoal poderia formar uma cooperativa ou pequena indústria, que também cuidaríamos de encubar”.


 
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