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Técnica possibilita produção de
lentes oftálmicas em 10 minutos

JEVERSON BARBIERI

O professor Edison Bittencourt, orientador da pesquisa: unidade móvel teria grande alcance social (Foto: Antoninho Perri)O Processo conduzido na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp culminou com o desenvolvimento inédito, em nível nacional, de uma resina capaz de baratear o custo e reduzir o tempo de produção de lentes oftálmicas, com excelentes propriedades mecânicas, térmicas e ópticas. São necessários menos de dez minutos para que as lentes fiquem prontas. O método consiste em injeção de um líquido (resina), cuja viscosidade é muito parecida com o mel, em um molde transparente que, logo a seguir, é exposto a uma irradiação com raios ultravioleta. Acontece, portanto, a polimerização, por meio da qual a resina torna-se um sólido de alta transparência. A pesquisa, realizada por Marco Henrique Zangiacomi e orientada pelo professor Edison Bittencourt, promete ter grande impacto social, principalmente se essa produção, por meio de unidades móveis, conseguir atingir as cidades mais distantes e, consequentemente, as populações mais carentes. “A ideia é que essa unidade móvel seja constituída de um pequeno consultório onde o paciente seja atendido por um oftalmologista. De lá, ele já sai com a receita para a área de produção, de onde seguirá para sua casa com os óculos prontos”, afirmou o docente.

Um estudo inicial mostrou que o número de deficientes visuais sem acesso aos óculos é estimado em 3,5 milhões no Brasil. O que poderia ser o principal problema para a produção das lentes em unidades móveis – o custo da resina importada – foi solucionado com a aquisição de compostos no mercado nacional a um custo significativamente mais baixo – cerca de cinco vezes menos. A resina curada com ultravioleta, observa o docente, é a única que pode ser usada nesse tipo de unidade.

Bittencourt explicou que esse tipo de cura dá rapidez ao processo. Trata-se de uma combinação de know-how na formulação e na cinética da polimerização. No entanto, ressalta, o equipamento de cura utilizado em seu laboratório nunca foi tão sofisticado quanto poderia ser. “Se houvesse uma sofisticação do equipamento, poderíamos tranquilamente estar em um nível de produção de larga escala ou em grandes esquemas móveis como, por exemplo, na Amazônia, com barco e médico a bordo”, esclareceu. O docente pensa pelo viés da inclusão social, especialmente no que diz respeito ao sistema de proteção da saúde da sociedade, principalmente nos segmentos de menor poder aquisitivo. Por isso, ressalta o alcance social do projeto.

A respeito da estimativa de tempo para produzir efetivamente as lentes, Bittencourt aponta que a maior dificuldade está em encontrar um parceiro que construa a unidade móvel. Qualquer parceria nessa área, na opinião do orientador, tem que ser extremamente rigorosa e séria, por tratar-se de saúde pública. Quanto ao trabalho de implantação, ele estima que um prazo razoável seria entre 24 a 36 meses para uma produção em escala industrial moderada. E um ponto fundamental está na questão do financiamento da lente para o consumidor de baixa renda. “Creio que esse financiamento deveria ser feito pelo poder público em todos os níveis”, salientou.

Ultravioleta
O interesse do docente pelos raios ultravioleta surgiu na década de 1970, quando ainda trabalhava nos Estados Unidos. Ao regressar para o Brasil, teve que interromper momentaneamente os trabalhos na área porque aqui ainda não havia equipamento. Em 1979, veio para a Unicamp e também atuava no projeto de fibras ópticas desenvolvido pelo governo federal. Como a cura com ultravioleta de resinas é o único processo que atende aos requisitos de produção da fibra óptica, ou seja, transforma-se em uma camada protetora da fibra, além de permitir altas velocidades, Bittencourt tornou-se o responsável pela unidade de puxamento, isso em uma época que ainda não existia o Centro de Pesquisas da Telebras.

Ainda na empresa estatal, deu início ao desenvolvimento de resinas para o recobrimento de fibras ópticas. Na Unicamp, agora em tempo integral, juntamente com um aluno de pós-graduação, produziu três tipos de resinas que vieram a ser usadas na produção de fibra óptica, com propriedades mecânicas diferenciadas.

Somente anos depois começou o trabalho de cura de resinas para fabricação de lentes. Bittencourt lembra que, até há cerca de 15 anos, a maioria das lentes era feita de vidro. Atualmente, tudo é polímero. “Posso afirmar que fomos os desenvolvedores dessa resina em nível nacional, ainda que não seja a primeira vez que se faz isso no mundo”, alegou.

Perspectivas
O docente atua também junto ao Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), uma organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, em Brasília, assessorando em algumas áreas estratégicas. A sua principal área atualmente é a de têxteis, com ênfase em uniformes. Essa área, de acordo com Bittencourt, foi escolhida criteriosamente porque implica num aumento de funcionalidades do tipo resistência às chamas, atividade microbicida e que demanda mais tecnologia. “É fundamental o desenvolvimento de tecnologias emergentes como a nanotecnologia”, apontou. Outro exemplo citado pelo orientador da pesquisa está na área esportiva, que cresce a cada dia. “As competições de natação nos apresentaram um novo tipo de maiô, baseado na pele do tubarão. Isto é uma tendência relativamente recente – a da imitação da natureza, chamada biomimética. Por isso é preciso agregar tecnologia em nível nacional”, explicou.


 
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