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HC da Unicamp é o primeiro hospital
público do País a adotar técnica tida como revolucionária



Cirurgia a laser reduz
internação de paciente com câncer de laringe


ANTONIO ROBERTO FAVA


O médico Agrício Nubiato Crespo, coordenador do serviço: “Resultados obtidos têm sido muito bons”O Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp tornou-se a primeira instituição pública de saúde do país a implantar um serviço de cirurgias endoscópicas para o tratamento do câncer de laringe a laser de gás carbônico (CO2). Trata-se de uma prática revolucionária dentro da oncologia por apresentar uma série de vantagens para o paciente. Para citar apenas uma, basta dizer que o paciente não sofre a violência provocada pela traqueotomia, aquele orifício feito na base do pescoço, por exemplo.

"E os resultados obtidos até agora com essa cirurgia têm sido muito bons", salienta o médico Agrício Nubiato Crespo, coordenador do serviço. O Brasil é o segundo país no mundo em incidência de câncer de laringe - que atinge 17 indivíduos numa população de 100 mil habitantes - e detém a quarta colocação de câncer mais freqüente no sexo masculino no país. Na cirurgia endoscópica do câncer de laringe a laser, o paciente que é operado entra no hospital pela manhã e vai embora no mesmo dia, à tarde, ou, no máximo, na manhã do dia seguinte. Nesse tipo de procedimento não há a manipulação direta sobre o tumor, permitindo ao médico efetuar a cirurgia sem cortes externos na pele do paciente. A prática é revolucionária porque permite ainda que o tumor possa ser fragmentado e as partes retiradas seqüencialmente, o que não deve ser feito na cirurgia convencional.

"Na convencional, isso já não é possível porque, quando manipulado, o tumor pode disseminar células cancerígenas que entram na circulação linfática possibilitando que sejam espalhadas para outras regiões do corpo", explica Agrício. Com a nova técnica, isso não ocorre, pois não há manipulação direta, mas apenas um feixe de luz do laser, que corta e faz com que os tecidos seccionados evaporem.

Na cirurgia tradicional o paciente é internado, em média, por uma semana. Durante esse período, depois da cirurgia, permanece alimentando-se por dez a quinze dias unicamente por uma sonda nasogástrica (que vai do nariz ao estômago). Mesmo depois de voltar para casa, pode não conseguir deglutir os alimentos de modo eficiente. E mais: para que o paciente, em fase de recuperação, respire com segurança, é feita a traqueotomia. O paciente fica com esse recurso por dez ou quinze dias.

"Todo esse processo acaba se tornando muito traumático para o doente. Já na cirurgia endoscópica o paciente deixa o hospital sem a sonda nasogástrica, sem sofrer a agressão da traqueotomia e, por isso mesmo, com boas condições de poder alimentar-se já na manhã do dia seguinte à cirurgia e, a partir daí, levar uma vida próxima do normal", explica Agrício. Do ponto de vista psicológico, o paciente se sente imensamente melhor, e sua recuperação é bastante rápida.

"Uma coisa é preciso que fique clara: a cirurgia com o laser de CO2 não cura mais nem menos que a convencional. A capacidade curativa é igual para ambos os tipos. Tanto num quanto no outro, o índice de cura fica em torno de 95% nos tumores iniciais e vai caindo em relação aos casos mais evoluídos.

Índice de cura é alto

Essa técnica de cirurgia endoscópica com laser de CO2 existe há aproximadamente 15 anos, principalmente na Alemanha, onde foi originalmente desenvolvida, mas, por diversas razões, ficou restrita durante muito tempo. Na Unidade de Medicina a Laser, no 2º andar do HC, são realizadas, em média, de duas a três cirurgias por semana. Por enquanto é um número reduzido. O índice de cura, com base na experiência do pessoal que trabalha na Unidade da Unicamp, está em torno de 95% a 100% para tumores em fase inicial. Para o tratamento de tumores intermediários, esse índice cai para em torno de 80% a 75%. "Para o tratamento de tumores considerados avançados, nós não utilizamos o laser. Preferimos, no caso, empregar as técnicas convencionais", acentua Agrício. Ele considera a cura total quando o indivíduo fica livre da doença por um período superior a cinco anos. "Mas com relação ao câncer de laringe, particularmente após 36 meses, já temos uma alta segurança e confiabilidade no método de que a doença esteja curada".


Tratamento para tumores iniciais

As cirurgias endoscópicas de câncer de laringe usando laser de CO2 , realizadas gratuitamente na Unidade de Medicina a Laser do HC da Unicamp, dependendo das dimensões do tumor, duram de 45 minutos a duas horas. Destinam-se basicamente aos tumores iniciais da laringe. Segundo o médico, não é tarefa difícil diagnosticar um câncer de laringe, porque uma das primeiras manifestações da doença é a rouquidão. "É uma doença que inicialmente demora a evoluir. Para ele, todo fumante adulto, que apresente rouquidão, com duração de mais de três semanas, "até que se prove o contrário", é passível de ser portador de um tumor de laringe.

Esse é o melhor momento para que a doença seja diagnosticada. Por isso, é muito bom que as pessoas fiquem atentas quanto a possíveis rouquidões que se verificarem um tanto demoradas. O grande vilão associado ao câncer de laringe é o tabagismo. "Isso é absolutamente inquestionável", afirma Agrício, taxativamente.

Estudos científicos revelam que um fumante tem de sete a dez vezes mais chances de desenvolver um tumor desse tipo do que as que não possuem esse hábito. O álcool, por sua vez, representa papel importante em todo esse contexto. O problema se torna ainda mais perigoso quando existe a associação do cigarro com o álcool. Um indivíduo com esse duplo hábito é um forte candidato ao grupo de risco. A doença não é exclusiva da laringe: pode surgir na língua, nos pulmões e outros locais.

"Calculamos que essa associação cigarro/álcool intensifica ainda mais o problema. Se não tivéssemos fumantes não teríamos nem 10% do número dos casos de câncer de laringe que temos hoje", diz o médico da Unicamp.


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