Rota inédita para produção de espilantol abre novos mercados

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Da medicina popular à culinária, o jambu é tradicional na região norte do Brasil. A planta nativa do país está na cachaça e em pratos típicos como o Tacacá e o Pato no Tucupi. A erva afrodisíaca que amortece a boca, cura feridas e alivia dores chama a atenção da ciência há muito tempo. E agora, a molécula de espilantol, que é a substância responsável pelos efeitos medicinais do jambu, foi obtida de forma sintética por pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp.

A tecnologia é uma rota inédita de produção, mais concisa, eficiente e que não depende do plantio do jambu, pois é totalmente sintética. Com grande potencial de aplicação, já que o composto bioativo é reconhecido por ser o grande responsável pelos efeitos antioxidante, anti-inflamatório e anestésico do jambu, o processo foi objeto de pedido de patente feito pela Inova, a Agência de Inovação da Unicamp, que tratou também do licenciamento para uma empresa spin-off, criada especialmente para desenvolver produtos a partir do espilantol sintético.

“O diferencial do processo desenvolvido na Unicamp é o número de etapas. Ele é um processo bastante curto, um dos mais curtos em relação ao que se tem na literatura científica”, explica Julio Cezar Pastre, professor do Laboratório de Síntese Orgânica do IQ e um dos inventores da tecnologia.

O grama do espilantol purificado custa em média US$60 mil – apesar do extrato de jambu estar disponível comercialmente a um valor mais baixo. As pesquisas iniciais mostram que a nova rota proposta pode reduzir em até dez vezes esse valor.

A tecnologia desenvolvida na Unicamp permite a obtenção do espilantol a partir de uma rota em cinco etapas, em um processo mais rápido e barato. Os pesquisadores partem de substratos derivados de petróleo e disponíveis comercialmente. Eles, então, realizam reações químicas controladas, transformando a estrutura e aumentando a complexidade dessas moléculas até chegar no espilantol.

Segundo os pesquisadores, a rota mais próxima, patenteada por uma empresa japonesa, sugere processos de sete a nove etapas. No entanto, o material é composto por três isômeros, sendo apenas 79% correspondente ao espilantol e não há possibilidade de separação entre eles. A tecnologia brasileira alcançou pureza de 98% e ainda emprega, nas cinco etapas, duas reações catalíticas que são mais seletivas e adequadas à escala industrial.

Com pequenas modificações na rota proposta, os pesquisadores acreditam que podem ainda sintetizar outros análogos naturais e não-naturais do espilantol aumentando a oferta e a viabilidade econômica.

A Biosíntese, empresa spin-off que licenciou a patente, aposta no espilantol sintético como um substituto da morfina, para o tratamento de dores crônicas e agudas. A empresa vai trabalhar, em paralelo, com outra startup incubada na Incamp, a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp. A Especiarias Amazônia já lançou no mercado produtos com o extrato do Jambu como uma cera depilatória indolor e um pomada anestésica pré-tatuagem.

O fundador das startups e CEO Danúbio Martins, explica que a síntese de compostos bioativos encontrados em plantas proporciona métodos mais fáceis de obtenção com maior controle quando comparados com a extração de fontes naturais, que é limitada. “Notamos que algumas empresas têm dificuldade de trabalhar com produto natural, porque ele não tem uma precisão de padrão: às vezes a safra vem com um percentual do ativo e em outro momento vem com outro. O sintético consegue resolver isso”, revela Martins.

Danúbio estima que os primeiros produtos com espilantol sintético cheguem ao mercado dentro de um ano. “Hoje ainda estamos finalizando os estudos de bancada, melhorando a rota para que tenha melhor viabilidade comercial”, conclui.  No Brasil, a versão sintética do espilantol ainda precisa de aprovação da Anvisa.

Uma molécula, diversos usos

O estudo também resultou em um segundo pedido de patente de um biofilme contendo espilantol sintético e um análogo. A atividade anestésica dos compostos foi avaliada em um estudo com camundongos e confirmou valores similares aos do extrato de jambu, descritos em pesquisa anterior feita pela universidade. O análogo apresentou ainda resultados superiores ao de um creme anestésico comercial, considerado o padrão mais elevado em anestesia tópica, que foi usado como controle.

Já na indústria de cosméticos, o espilantol é comparado à toxina botulínica por seu efeito antirrugas, sendo incluído na formulação de cremes de alto valor agregado. Com a produção sintética em nível elevado de pureza, a startup espera suprir a demanda do mercado para o desenvolvimento de novas aplicações. Uma das propostas é incluir o espilantol em géis lubrificantes íntimos. E a startup diz já ter o sinal verde de uma empresa de produtos de saúde e higiene que possibilitaria a distribuição em 128 países.

Outras pesquisas, em andamento, analisam o desempenho do espilantol como carrapaticida, conservante de alimentos e até aliado do emagrecimento. Na área da segurança, o composto bioativo pode ainda ser usado como arma de defesa pessoal, com efeitos colaterais menores em relação ao tradicional spray de pimenta.

Matéria publicada originalmente no site da Agência de Inovação da Unicamp. 

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A molécula de espilantol, que é a substância responsável pelos efeitos medicinais do jambu, foi obtida de forma sintética por pesquisadores do IQ da Unicamp

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