O potencial acadêmico do esporte adaptado

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Rugby adaptado
Rugby adaptado

Atividades físicas inclusivas estão presentes no currículo da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp desde o início dos anos 90, passando por ensino de graduação, curso de especialização lato sensu, dissertações, teses e ações voltadas à comunidade, como os cursos de esportes adaptados oferecidos como projetos de extensão. A proposta central, que hoje se desdobra em participação de equipes em campeonatos e jogos paralímpicos, é formar recursos humanos que possam trabalhar com pessoas com deficiência (PCDs) e proporcionar a elas autonomia e inserção em diversos espaços e lazer. “Em quase trinta anos de atuação, esportes adaptados e educação física escolar adaptada são considerados em três disciplinas de graduação. Esses alunos também auxiliam nas aulas abertas ao público, pois a proposta é unir teoria e prática”, explica Maria Luiza Tanure, coordenadora de extensão da faculdade. Em seis edições, o curso de especialização em educação física adaptada aperfeiçoou dezenas de profissionais e já prepara a nova grade para 2019.

Em 2017, uma das novidades foi a volta de alguns festivais paralímpicos, organizados pelos próprios alunos. Um deles foi o AdaptaFEF, estruturado durante a disciplina de Esporte Adaptado. Cerca de 150 crianças, com e sem deficiência, passaram a tarde na faculdade, imersos em oito modalidades esportivas paralímpicas. De olho na iniciativa, a Prefeitura Municipal de Campinas, inseriu a proposta na programação da Virada Cultural de 2017 e já planeja a participação de alunos das escolas municipais para 2018. Neste ano, a organização já divulgou a data: 9 de novembro. Em âmbito nacional, a FEF também destacou ações no Dia Nacional Paralímpico, oficialmente comemorado em 22 de setembro, em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro. “Estivemos juntos com mais 48 cidades do país com o objetivo de ajudar no acesso das crianças ao esporte. A maioria das famílias com PCDs sequer sabem que existem atividades físicas adaptadas e a qualidade de vida que a prática delas pode proporcionar”, comenta a professora Maria Luiza, do Laboratório de Atividade Motora Adaptada (LAMA). Há três anos, a FEF também participa do programa “Ciência e Arte das Férias”, realizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa. Em julho e janeiro, dezenas de alunos de escolas públicas de Campinas passam cerca de uma semana em diversas atividades científicas. A prática do esporte paralímpico é uma delas, incluindo o goalball, única modalidade específica para pessoas com deficiência.

Veja como foi I Festival Paralímpico da Faculdade de Educação Física da Unicamp

Edison Duarte e José Julio Gavião estão entre os precursores da área na FEF e também integram o LAMA. O foco dos dois professores está no esporte paralímpico de alto rendimento. Ao longo dos anos, participaram de delegações brasileiras, classificação e preparo de atletas. “Essa prática extramuros é muito positiva no ensino porque conseguimos compartilhar essas experiências e preparar vários alunos para seguir esse caminho”, avalia Gavião. É nos projetos de extensão que a iniciação escolar e o alto rendimento se convergem. Entre eles estão o esgrima sobre rodas, tiro com arco, handebol, natação, rugby e levantamento de peso. “O esporte de alto rendimento é tão rico e especializado, que por vezes corremos riscos de utilizá-lo de forma não adequada ao pensar a iniciação, isto é, as pessoas levam para as salas de aula o mesmo conteúdo que se vê na televisão, precisamos estar atentos a como isso é passado pois são duas facetas muito diferentes, que não se afastam mas sim se conectam em algum momento”, comenta Gavião.

Tiro com Arco adaptado
Tiro com Arco adaptado


Extensão informal na área começou nos anos 80
Edison Duarte conta o começo da área, a partir de projeto de atividade física adaptada, em 1988, junto com o professor José Luiz Rodrigues, Paulo Araújo e Ana Isabel Figueiredo. Eram cinco pessoas com dificuldades motoras. Depois chegaram pessoas com deficiência visual para treinar, trazidas em 1991, com a chegada do professor Gavião. Em 1994, quando assumiu a direção da faculdade, apostou na acessibilidade. “Para receber esse pessoal, fizemos rampas, portões e banheiros adaptados, o que aumentou a procura pelas atividades”, conta Duarte. Ele também se lembra do primeiro festival de atividade motora adaptada no campus, em 1990. A proximidade com comitês e confederações brasileiras se intensificou. Em 2000, o LAMA foi oficialmente criado e, dez anos depois, a Unicamp sediou o I Congresso Paradesportivo Brasileiro. “Todas essas ações nunca estiveram dissociadas da pesquisa. Foi, por exemplo, a partir de uma tese de doutorado que surgiu a esgrima em cadeira de rodas, estabeleceu bases e se expandiu em todo o Brasil”, completa o professor.

Assista ao vídeo “Aventura dos Sentidos”, produzido pela TV Unicamp em 2005, que divulga trabalhos de graduação e pós-graduação, a partir do trabalho de conclusão de curso de Artes Cênicas:

Atual coordenador dos projetos de rugby e handebol, José Irineu Gorla fez pós-graduação na FEF e, anos após lecionar em diversas universidades, retornou à instituição como professor do Departamento de Estudos em Atividade Física Adaptada, em 2006. Gorla foi, aliás, o criador do handebol em cadeira de rodas para competição no país, a partir de projeto desenvolvido no Paraná com o professor Décio Calegari. A Unicamp inseriu a proposta na grade de extensão em 2007. Um ano depois, também montou equipe de rugby em cadeira de rodas. Apesar da qualidade de vida das pessoas ser o foco central dos projetos, “os treinos naturalmente foram evoluindo a ponto dos atletas buscarem novos desafios nas competições regionais e nacionais”, conta o professor. Entre 2009 e 2012, os times da Unicamp e Adeacamp (Associação de Esportes Adaptados de Campinas) ganharam títulos no campeonato brasileiro da modalidade e, passo a passo, foram avançando em outros espaços do país e recebendo novos integrantes. “Esse fluxo de pessoas por aqui é muito salutar, pois temos um universo de estudos imenso, sempre com efetiva participação dos estudantes de graduação e pós-graduação”, comemora Gorla, cujo laboratório, o LAFEA-Avaliação Física no Exercício e Esportes Adaptados, é anexo ao “Ginasinho”, local onde os atletas, todos com alguma deficiência física, treinam semanalmente.

Atuante em pesquisas sobre avaliações físicas de atletas paralímpicos, o que o professor destaca é a comprovada melhora fisiológica das pessoas com deficiência que regularmente praticam esporte. “Além de melhorar funções respiratórias e cardiovasculares, a socialização e desafio que vêm juntos com a atividade física estimulam os atletas a não pararem com os exercícios”, explica. Conhecer as necessidades e especificidades de cada um, assim como suas respostas fisiológicas, é fundamental para pesquisas, desenvolvimento de novos produtos, novos métodos e exercícios, por exemplo, que não lesionem os jogadores. Grande parte das investigações do LAFEA é feita em parceria com o área de Biomecânica e Reabilitação do Aparelho Locomotor do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, conectando ciências do esporte e medicina. “Se não conseguirmos entender que uma modificação na medula, por conta de um possível acidente, alterou o corpo daquele atleta, corremos risco de errar com ele nos treinos e até machucá-lo”, exemplifica Gorla. Lesão medular, inclusive, é parte do conteúdo de aulas de graduação. Parte do curso é fora da sala de aula, com vivências dos alunos em cima das cadeiras de rodas, disponíveis no Ginásio. “Os futuros profissionais de educação física experimentam questões de acessibilidade arquitetônica da faculdade e participam de jogos adaptados. Essa prática desperta interesse de muitos alunos em estágios, bolsas e, posteriormente, em atuação profissional ou acadêmica”, destaca o professor.
 

Natação adaptada
Natação adaptada


Educação física inclusiva é desafio nas escolas
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (2015) estabelece que as escolas não podem recusar matrícula de um aluno por causa da sua deficiência nem cobrar custos extras. O atual modelo busca uma organização escolar que possa incluir todos os alunos. Se no papel, é uma conquista, na prática, as escolas ainda enfrentam inúmeros desafios para concretizar o que está na lei. Na educação física, não é diferente. De acordo com Maria Luiza Tanure, as dificuldades maiores estão na capacitação de profissionais para montar e conduzir as aulas com todas as crianças – com ou sem deficiência –, fazendo juntas as mesmas atividades. “Adaptar uma aula não é simples porque a criança sem deficiência pode, por vezes, achar um jogo entediante ao incluir um PCD. Este, por sua vez, acaba conhecendo só esportes tradicionais e não consegue, na prática, vivenciá-lo”, confirma a professora, que não nega que, em todos os estudos feitos na área até o momento, a criança especial tem participação limitada nas aulas de educação física. A partir dessa questão, a FEF apostou em pesquisa, com apoio da Fapesp, e em cursos de capacitação nas escolas da cidade. Para inserir, de fato, crianças com deficiência nas aulas faz-se necessário reestruturar aulas e conteúdos. “Não basta adaptar modalidades e construir rampas, o princípio da inclusão deve nortear todos os valores da educação física escolar”, avalia Maria Luiza Tanure. Ao identificar esse nicho de atuação, “não apenas os alunos da faculdade tem sido treinados, mas também os professores de diversos colégios, formando uma rede de desenvolvimento do esporte escolar adaptado”, conclui.
 

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Professor Paulo Ferreira de Araújo, ex-diretor da Faculdade de Educação Física
Professor José Julio Gavião, precursor da área de Esporte Adaptado na FEF
Edison Duarte, precursor da área de Esporte Adaptado na FEF
José Irineu Gorla, atual coordenador dos projetos de rugby e handebol
Maria Luiza Tanure, coordenadora de Extensão da FEF
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Esgrima adaptada

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