Criomicroscopia eletrônica rende prêmio Nobel de Química a pesquisadores suíço, escocês e alemão

Autoria
Edição de imagem
Os ganhadores do Prêmio Nobel de Química 2017
Os ganhadores do Prêmio Nobel de Química 2017: Dubochet, Frank e Henderson

Trabalhos envolvendo a criomicroscopia eletrônica renderam aos pesquisadores Jacques Dubochet (suíço, nascido em 1942), Joachim Frank (alemão, nascido em 1940) e Richard Henderson (escocês, nascido em 1945) o Prêmio Nobel de Química deste ano, anunciado na manhã desta quarta-feira (4). Os pesquisadores desenvolveram métodos nessa área que trazem uma revolução à bioquímica, ao empregar temperaturas criogênicas (baixíssimas) em seus experimentos para determinar, em alta resolução, as estruturas de biomoléculas em soluções aquosas. Trata-se de métodos eficazes para gerar imagens tridimensionais das moléculas da vida, conforme texto na página oficial do Prêmio Nobel.

Esse foi o terceiro prêmio da temporada do Nobel 2017. Primeiramente, o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2017 foi destinado aos norte-americanos Jeffrey Hall, Michael Rosbash e Michael Young, na segunda-feira (2); e, em seguida, o Prêmio Nobel da Física foi concedido ao alemão Rainer Weisso e aos norte-americanos Barry Barish e Kip Thorne, na última terça-feira (3). 

De acordo com o professor titular do Instituto de Química (IQ) da Unicamp Fernando Galembeck, o prêmio de química certamente trará preciosas contribuições também às pesquisas em física e em medicina. “Mas ainda é muito difícil dimensionar até onde irão essas investigações, em relação aos avanços que já tivemos até aqui. Esse é o primeiro prêmio de uma série que está por vir”, acredita. 

Galembeck explicou que a técnica de criomicroscopia eletrônica permite congelar e observar os movimentos das moléculas em meio aquoso, além de 'enxergar' átomos individualmente, obtendo estruturas com resolução muito próxima da escala atômica (alta resolução). “As imagens que os ganhadores do prêmio apresentaram mostram proteínas e moléculas grandes nas quais se verificam todos os átomos de carbono, oxigênio, nitrogênio”, enumerou. “É possível observar as moléculas em vários momentos, o que permite aprender como essas nanomáquinas moleculares funcionam. A sua capacidade é algo muito superior ao que se fazia até o momento para estudar a estrutura das moléculas – que é a difração de raios-X”, contou.

Segundo o professor, a difração de raios-X é tão importante que pelo menos oito Prêmios Nobel tiveram trabalhos nessa linha. "Já, a partir de 2010, a criomicroscopia deslanchou, resultando no primeiro Prêmio Nobel da área. Inclusive o próprio Henderson, do Cavendish Laboratory (Universidade de Cambridge), um dos ganhadores do prêmio, fez a sua tese nessa temática, há algumas décadas", informou.
 

O professor titular do IQ da Unicamp, Fernando Galembeck
O professor titular do IQ da Unicamp, Fernando Galembeck

O docente recordou que essa técnica foi utilizada no estudo do Zika Virus, cujo agente infeccioso esteve associado a casos recentes de microcefalia em bebês. No início do ano, uma publicação apontou descobertas relacionadas à estrutura do vírus. "Até o momento, a determinação da estrutura de um vírus podia levar anos para se concretizar. Usando a criomicroscopia, a estrutura do Zika foi determinada em meses, representando um avanço estrondoso nos processos de análise, que foram, em muito, simplificados", revelou.

Galembeck contou que o IQ da Unicamp tem em suas dependências um equipamento de criomicroscopia de alta resolução, de 2 décimos de nanômetros, e está trabalhando na direção de adquirir um novo equipamento de 1 nanômetro. Esclareceu que, para visibilizar estruturas, é fundamental que o equipamento tenha uma resolução atômica. No entanto, para as aplicações do dia a dia de um laboratório, não é necessário ter a melhor resolução e sim uma boa imagem. "Aqui no IQ temos uma grande capacidade analítica e um tomógrafo para fazer as moléculas rodarem em diversos ângulos. Usando esses dois recursos conjuntamente, chegaremos a resultados bastante expressivos”, realçou.
 

Prêmio Nobel
O Prêmio Nobel é a mais prestigiosa distinção da comunidade científica mundial. Todos os anos são laureados pesquisadores que fizeram investigações de inestimável valor em prol da humanidade em áreas como a Química, Medicina, Física, Literatura, Economia e Paz.

Esse prêmio iniciou com o seu fundador, Alfred Nobel, o inventor da dinamite. A primeira cerimônia do prêmio ocorreu em 1901, no Conservatório Real de Estocolmo. No momento, a cerimônia acontece no dia da morte de Alfred Nobel, 10 de dezembro, em Oslo, na Noruega, e em Estocolmo, na Suécia. O ganhador do prêmio em geral recebe uma medalha de ouro, um diploma de mérito científico e uma importância em dinheiro.

 

Mais sobre o Nobel 2017

Teoria proposta por Nobel de Economia pode contribuir para o bem-estar social

Campanha pelo desarmamento nuclear vence Nobel da Paz

Kazuo Ishiguro, escritor nipo-britânico, ganha o Nobel de Literatura

2017: o início da Era da Astronomia de Ondas Gravitacionais

Prêmio Nobel de Medicina a norte-americanos deve incrementar pesquisas em cronobiologia, diz especialista

 

Imagem de capa
Prêmio Nobel de Química 2017 a Dubochet, Frank e Henderson

twitter_icofacebook_ico

Atualidades

A honraria foi aprovada por unanimidade pelo plenário da Câmara Municipal de Campinas 

As instituições são avaliadas a partir de cinco critérios: qualidade do ensino, pesquisa científica, mercado de trabalho, inovação e internacionalização

O professor de Direito Internacional  da Unicamp Luís Renato Vedovato foi o convidado do videocast Analisa, uma produção da Secretaria Executiva de Comunicação

Cultura & Sociedade

O coral leva um repertório de música popular brasileira, com as canções da parceria Toquinho e Vinícius, e o samba paulista de Adoniran Barbosa

Para o pró-reitor, Fernando Coelho, a extensão deve ser entendida como “o braço político do ensino e da pesquisa”