Especialistas discutem a persistência
da má qualidade na educação básica

28/04/2016 - 15:47

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Luiz Carlos de Freitas coordena a primeira mesa

Luiz Carlos de Freitas coordena a primeira mesa

A má qualidade da educação básica em debate

A má qualidade da educação básica em debate

A persistência da má qualidade na educação básica foi o tema da primeira mesa-redonda de mais uma edição do “Balanço das Políticas Sociais no Brasil”, realizada nesta quinta-feira, no âmbito da série Perspectivas Unicamp 50 Anos, em comemoração ao cinquentenário da Universidade. Pela manhã, os palestrantes analisaram a cobertura da educação básica, os principais causadores da má qualidade do ensino e a recente proposta do governo federal denominada “Pátria Educadora”. A mesa da tarde tratou do “Ensino superior: produtivismo e alienação acadêmica”. 

Luiz Carlos de Freitas, docente da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp e coordenador da primeira mesa, explicou porque a dificuldade para uma melhoria consistente nos padrões de qualidade da educação básica é um fenômeno preocupante. “Temos variadas ações no governo federal e mesmo nos estaduais e municipais voltadas para esta questão: se não temos uma educação básica boa, não temos como garantir qualidade nos outros níveis de educação – o que traz um problema sério, pois afeta a própria capacidade do país em produzir e inovar.” 

Freitas acrescenta que apesar de ter havido uma melhoria consistente no primeiro ciclo fundamental (da 1ª à 5ª série), a mesma não se repete no ciclo de fechamento (6ª à 9ª série). “O ensino fundamental é reconhecidamente o nosso calcanhar de Aquiles. Vamos discutir também o conceito de ‘Pátria Educadora’, criado para, emblematicamente, tentar uma mobilização. Ocorre que ela veio em um momento político bastante difícil e foi entregue à Secretaria de Assuntos Estratégicos, e não ao Ministério da Educação. Obviamente, a proposta veio com o entendimento da Secretaria. E nos deram dois documentos fundamentando a lógica de ‘Pátria Educadora’ que para nós, educadores, são inaceitáveis.” 

Elizabeth Balbachevsky, professora do Departamento de Ciência Política da USP e atuante na área de estudos de ensino superior, trouxe à discussão o papel da universidade, principalmente a pública, no enfrentamento dos desafios da educação no Brasil. “A sociedade brasileira é construída dentro de uma lógica hierárquica, que padece de uma situação em que se tem uma mão de obra muito pouco qualificada, o que obviamente não é a única causa, mas contribui para manter a nossa indústria no contexto de baixa tecnologia – não se usa mais tecnologia porque a mão de obra não vai conseguir operá-la. Se não enfrentarmos esses desafios, não há como enfrentar o problema da baixa renda e da desigualdade social no Brasil.” 

A docente da USP explica que a universidade pública, dentro desta estrutura, ocupa o topo da hierarquia do conhecimento e deve buscar uma reversão de tal dinâmica. “Acho que a universidade está acomodada demais dentro desta lógica. No fundo, o que acontece? Valorizamos mais a pós-graduação do que a graduação, valorizamos mais o doutorado dentro da pós-graduação, e praticamente ignoramos a formação de competências que se dá através das atividades de extensão e dos programas de especialização. A universidade pública acaba trabalhando dentro do seu próprio círculo, interagindo menos do que poderia com o resto da sociedade. Isso se reflete na formação de professores: lamentavelmente, formamos professores para o setor privado, quando temos no país um imenso corpo de profissionais que precisa de atenção da universidade para conseguir desempenhar bem a sua função.” 

O professor Romualdo Luiz Portela de Oliveira, da Faculdade de Educação da USP, adiantou que participaria da mesa enfatizando os ganhos que o Brasil teve na educação no século passado, bem como os problemas. “O principal ganho foi a universalização do ensino fundamental, que antes de meados dos 90 era o grande funil do sistema: 22% dos ingressantes não prosseguiam na escola, o sistema estava organizado para esta profunda exclusão. Com isso, o ensino médio sofreu uma expansão bastante rápida, mas que não cobriu a população e hoje temos apenas 55% de adolescentes de 15 a 17 anos na escola. De qualquer forma, o que passou a ser mais enfatizado é a baixa qualidade do ensino, à medida que os alunos permanecem nove anos estudando, mas não aprendem. Aí destaco dois aspectos: os padrões de financiamento insuficientes e, de outro lado, o fato de enfrentarmos mal a questão da formação dos professores.” 

Outro convidado para a primeira mesa, o professor Antônio Ibañez Ruiz, ex-reitor da UnB e atualmente no MCTI, disse que nos 50 Anos da Unicamp é importante olhar a educação de forma mais ampla. “Vou tratar do modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, pois é para esse modelo que a educação está contribuindo, e também de um novo modelo de que precisamos. Sobre o porquê de a qualidade da educação continuar ruim, vou apresentar considerações sobre programas de transferência de renda em vários países para que as crianças tenham acesso à escola, mas que não melhoraram os padrões de qualidade. Para isso é necessário uma política educacional, condizente com a realidade do país.” 

Ensino superior 

Na mesa-redonda da tarde, sobre “Ensino superior: produtivismo e alienação acadêmica”, a pauta envolveu a cobertura geral e por áreas específicas da educação superior; financiamento e privatização; o ensino e pesquisa, e o ensino sem pesquisa; a alienação e “produtivismo” na universidade. Sob a coordenação do professor Aníbal Vercesi (FCM/Unicamp), dela participaram os professores Thomaz Wood Jr. (FGV), Carlos Henrique de Brito Cruz (IFGW/Unicamp e Fapesp), Valdemar Sguissardi (Unimep), Luiz Carlos Wrobel (Brunel University, Grã-Bretanha) e Jorge Olímpio Bento (Universidade do Porto, Portugal).