Reitor enfatiza
sistema educacional

26/10/2015 - 14:17

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Reitor Tadeu Jorge

Reitor Tadeu Jorge

Itala Loffredo D’Ottaviano, coordenadora da comissão 50 anos

Itala Loffredo D’Ottaviano, coordenadora da comissão 50 anos

Reitor Tadeu Jorge Reitor enfatiza sistema educacional

Reitor Tadeu Jorge Reitor enfatiza sistema educacional

Coral Unicamp Zíper na Boca

Coral Unicamp Zíper na Boca

“Há um paradoxo no sistema educacional brasileiro”. Com esta afirmativa o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, começou a palestra que deu início ao programa “Colóquios Unicamp Ano 50”, no sábado, 24, no Centro de Convenções. Trata-se de uma série de encontros com professores do Ensino Fundamental e Médio que abordam temas relacionados à educação, artes, ciência e cultura e serão realizados mensalmente até outubro de 2016. As conferências são gratuitas e os professores participantes recebem certificados.

O paradoxo ao qual o reitor se referiu está no Brasil ter universidades que estão entre as melhores do mundo e, ao mesmo tempo, ter uma educação que deixa a desejar, como é consensual. Para o professor, os problemas começam com a falta de compreensão do que é a educação. “Há uma dificuldade dos dirigentes de entenderem que a educação se desenvolve na forma de um sistema”. Tadeu Jorge enfatizou a todo o momento a ideia de sistema educacional, que precisa ser entendido como um todo e não considerado por etapas independentes.

Segundo o reitor a educação infantil, que compreende a idade até os seis anos, é o alicerce desse sistema. “Na faixa etária dos 2 aos 5 anos há a maior percepção de conhecimento e aprendizagem. É quando a criança desenvolve a capacidade de perceber e armazenar conhecimento”. Desse modo, quando esse alicerce apresenta problemas, é impossível o desenvolvimento pleno da educação nas etapas posteriores: Ensino Fundamental, Médio e Superior.

Perde-se a noção de sistema quando as ações do poder público estão desconectadas. Tadeu Jorge abordou as atribuições e responsabilidades dos governos Municipal, Estadual e Federal. Relatou que há certa confusão, especialmente no Fundamental que acaba sendo atendido por duas instâncias (estado e município) e Superior, atendido por todas as instâncias. “Já na Constituição o conceito de sistema está quebrado”, refletiu.

Vagas
Em relação às coberturas do sistema educacional, Tadeu Jorge trouxe números impactantes como, por exemplo, o que mostra que até os 3 anos apenas um quarto das crianças brasileiras são atendidas. Na pré-escola a porcentagem sobe para 86%. O professor lembrou que, a partir de 2016, a obrigatoriedade de matricular a criança será antecipada para os 4 anos de idade. A universalização é um desafio, de acordo com o reitor, mas além de atender a todos, é preciso pensar na infraestrutura e na qualidade do ensino.

No Ensino Fundamental há 98% de cobertura, ou seja, 2% não são atendidos. Parece pouco, mas são cerca de 500 mil crianças, conforme Tadeu Jorge. “Antigamente falávamos que a escola era uma maravilha e de fato era, mas para poucos. Hoje temos uma escola problemática que é para muitos. Precisamos resolver esta equação”, salientou.

A evasão escolar é outro problema que está relacionado à falta de compreensão do sistema educacional. “Boa parte dos alunos que abandonam a escola o fazem porque não conseguiram acompanhar os estudos. Isso se deve aos problemas com o alicerce da educação”. Outras dificuldades como a carga horária dos professores, a falta de atualização necessária e a questão da avaliação, também foram abordadas na palestra.

Ainda no Fundamental, o reitor observou vários problemas de infraestrutura. Um exemplo é o acesso à internet, disponível apenas na metade das escolas públicas, embora exista uma lei que obriga o fornecimento por parte das empresas de telefonia. Faltam também bibliotecas, quadras de esporte, professores. O déficit de professores de ciências, segundo dados do Conselho Nacional de Educação, se aproxima dos cem mil.

Faltam diretrizes para a aprendizagem. E o reitor rebateu a ideia de que a criança precisa ficar mais tempo na escola “Se a escola é boa mais tempo na escola pode ser bom, mas se não é não vai adiantar deixar a criança mais tempo”. A questão central é a qualidade do conhecimento que está sendo transmitido, segundo Tadeu Jorge.

Ensino Médio
Da mesma forma que a partir de 2016 as crianças de 4 anos precisam ser matriculadas na escola, a lei determinou a obrigatoriedade no Ensino Médio. Hoje, nesta etapa, 49% dos estudantes não concluem os estudos, segundo dados trazidos por Tadeu Jorge. Entre as deficiências citadas pelo reitor, estão a falta de formação superior dos professores ou mesmo a formação inadequada.

Na educação profissional o reitor enfatizou a importância de diversificar os cursos de modo a contemplar áreas não industriais e ainda o oferecimento de cursos específicos para grandes projetos como, por exemplo, o pré-sal.

Quando finalmente chega o nível superior, o reitor deu uma dimensão da questão das vagas que, em alguns casos, acabam sobrando. Tadeu Jorge falou sobre os desafios que são a ampliação das vagas, a inclusão, a criação de cursos novos, educação a distância e a avaliação.

O reitor concluiu a palestra dizendo que “é muito mais difícil e custoso corrigir as deficiências de aprendizagem adquiridas em etapas anteriores do ensino. A educação precisa ser prioritária. O Plano Nacional de Educação precisa ser efetivamente implantado e é primordial compreender o que é o sistema educacional”.

Colóquios
Os "Colóquios Unicamp Ano 50" fazem parte da comemoração do cinquentenário da Universidade, que será completado em 5 de outubro de 2016. A professora Itala Loffredo D’Ottaviano, coordenadora da comissão que organiza as festividades, considera a série de palestras um dos destaques da celebração. “Escolhemos temas que consideramos nevrálgicos para o ensino e para a formação geral dos professores da região e temas que a Unicamp considera que pode contribuir”.

O reitor José Tadeu Jorge enfatizou que as conferências trazem para a comemoração uma preocupação que a universidade teve ao longo da sua trajetória. “Em diversos momentos a Unicamp contribuiu com ações de qualificação, em especial do Ensino Médio como, por exemplo, o vestibular da Unicamp, que foi um vestibular revolucionário que ajudou a melhorar a maneira de ensinar, modificou o perfil do estudante. Os Colóquios tentam mostrar esse vínculo com as outras etapas do sistema educacional brasileiro”.

A próxima palestra será no dia 28 de novembro com o tema “Lógica e Pensamento Crítico”, proferida pela professora Itala D’Ottaviano. Inscrições e outras informações acesse a página.

Zíper
Num dos intervalos do colóquio realizado no dia 24 aconteceu a apresentação do Coral Unicamp Zíper na Boca.