O Brasil está em seu melhor momento
demográfico, diz especialista do IBGE

19/10/2015 - 16:10

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Marta Maria Azevedo, diretora do Nepo

Marta Maria Azevedo, diretora do Nepo

José Eustáquio Alves, IBGE

José Eustáquio Alves, IBGE

Rosana Baeninger, coordenadora do evento

Rosana Baeninger, coordenadora do evento

Palestra no Nepo

Palestra no Nepo

Público que participou da capacitação

Público que participou da capacitação

O demógrafo e economista José Eustáquio Alves, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), durante o VI Programa de Capacitação: População, Cidades e Políticas Sociais, promovido pelo Núcleo de Estudos da População “Elza Berquó” (Nepo), trouxe duas notícias aos 56 participantes do evento nesta segunda-feira (19): a boa notícia foi que o Brasil está hoje em seu melhor momento demográfico e a ruim é que agora em 2015 o mercado de trabalho, bem como as condições econômicas, entraram em colapso. “O nosso mercado de trabalho tem sete demissões por minuto”, comentou. 

José Eustáquio falou sobre o "bônus demográfico", o melhor momento demográfico do Brasil. Segundo o especialista, isso acontece apenas uma vez na história de cada país. “A pirâmide etária é muito jovem na história toda, mas está se transformando e envelhecendo. Nesse momento em que estamos no meio, em que há muita gente em idade de trabalhar, é o que chamamos de 'bônus demográfico', porque existe mais gente em idade de trabalhar e menos pessoas dependentes”, contextualizou. 

Ele contou que, em 1970, a cada três brasileiros, um estava trabalhando e dois não. Então uma pessoa tinha que sustentar três. Em 2010, já era uma pessoa sustentando uma só – 50% da população trabalhando. Conforme o demógrafo, esse bônus pode continuar até 2030 mais ou menos, dependendo da política adotada, visto que o bônus é passageiro. “É o momento em que a pirâmide está se transformando. Depois, ele passa e chega o envelhecimento populacional, juntamente com o aumento da razão de dependência demográfica”, constatou. 

Quando se tem o envelhecimento, aumenta a razão de dependência, que seria um tipo de ônus, posto que haverá muita gente idosa. O que mais vai crescer proporcionalmente são as pessoas acima dos 80 anos, que requerem muitos cuidados em saúde. Logo, o custo deve aumentar muito, disse. 

De acordo com o demógrafo do IBGE, todos os países no mundo que se desenvolveram passaram pelo bônus demográfico e foi durante esse bônus que eles decolaram: acabaram com a pobreza, melhoraram a educação, entre outros fatores. Então esse é o momento que os países resolveram os seus problemas. Assim, decolar era a notícia boa. “Ocorre que, nos últimos 40 anos, o país tem aproveitado esse bônus em parte. Ainda não aproveitamos todo esse potencial. O mercado de trabalho ainda não cresceu adequadamente. A educação ainda não cresceu adequadamente”, realçou o palestrante.   

Até 2030 o Brasil teria para continuar aproveitando e dar esse salto para a erradicação da pobreza, da melhoria da educação. Só que, desde 2012, o mercado de trabalho e as condições econômicas pioraram muito. "Não estou muito otimista se vamos conseguir sair dessa crise tão facilmente. Está quase certo que a gente terá uma década perdida. E podemos perder a próxima década também. Se isso acontecer, já não teremos mais bônus depois. E corremos o risco de ter uma situação em que o Brasil chegou ao fim do seu desenvolvimento sem resolver os problemas sociais”, lamentou José Eustáquio. “Vamos dar no que se chama tempestade perfeita e entrar numa situação de regressão econômica. Isso é muito triste.”

 

Capacitação
De acordo com Rosana Baeninger, coordenadora do evento, esse programa de capacitação em população, cidades e políticas sociais faz parte do Observatório das Migrações de São Paulo, um projeto temático apoiado pela Fapesp e pelo CNPq. O curso desta semana é voltado a gestores municipais, estaduais e federais. A ideia é expandir a iniciativa, que já tem alunos de Minas Gerais, Goiânia e Pernambuco. O evento presta-se a discutir as pesquisas do Nepo e as experiências que outros Estados têm na gestão das políticas sociais, os vínculos e as necessidades de informações sociodemográficas para execução das políticas sociais. “Necessitamos de indicadores sociais para que o gestor municipal saiba quais são os seus públicos-alvos. Nesse sentido, os aspectos demográficos são bastante importantes”, afirmou. 

O objetivo é transferir conhecimento sobre as cidades e as necessidades que os diferentes componentes demográficos têm trazido para as políticas sociais. É subsidiar os gestores municipais de informações e indicadores sociais para que ele possa implementar as suas ações nos seus Municípios e nos seus Estados. 

Rosana revelou que nesta edição são 56 participantes. Na primeira, em 2010, eram 12, depois 20 e nas outras edições em torno de 30. "Esse curso começa hoje e vai até sexta-feira. Os gestores terão um conjunto de atividades e palestras até que eles elaborem um laboratório e aprendam a trabalhar um pouco com os indicadores  sociais. A expectativa é que eles levem esse conhecimento como subsídios para as políticas sociais, que eles possam transferir isso para suas administrações locais, como em cascata." 

A diretora do Nepo, Marta Maria Azevedo, contou que o Nepo tem uma tradição de fazer processos formativos e de promover cursos de formação continuada de maneira intensiva, direcionados a gestores públicos, estudantes, pós-graduandos e interessados. “Já promovemos vários tipos de formação: metodologia de pesquisa, saúde reprodutiva e agora essa capacitação para gestores da área de cidades e políticas sociais. Trabalhamos com pesquisa em extensão e priorizamos também atividades de extensão como essa, que colocam em prática os conhecimentos construídos de maneira interdisciplinar no Nepo. É uma maneira de nos colocarmos ‘a serviço da sociedade’”, ressaltou. 

A conferência de encerramento será proferida pelo professor Paulo Jannuzzi, do IBGE, que volta à Unicamp e ao Nepo, onde fez doutorado em Demografia. Atualmente, Jannuzzi é secretário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.