Hermano Tavares, Professor Emérito

05/12/2014 - 11:01

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Hermano Tavares recebe o título de Tadeu Jorge

Hermano Tavares recebe o título de Tadeu Jorge

Recepção ao homenageado

Recepção ao homenageado

Hermano Tavares discursa durante a solenidade

Hermano Tavares discursa durante a solenidade

Ao receber o título de Professor Emérito da Unicamp, Hermano de Medeiros Ferreira Tavares se viu obrigado a pausas de emoção durante o discurso em que falou pouco sobre si próprio e mais sobre três temas que nortearam sua vida: educação, desenvolvimento nacional e política. “Quero agradecer à Unicamp e em particular à Faculdade de Engenharia e de Computação pela oportunidade de trabalho que me deram e pela gentileza desta homenagem. Aos mestres que tive ao longo da vida; aos colegas e auxiliares, que foram muitos; e aos meus alunos, que muito me ensinaram (mesmo que não o suspeitassem): alguns pelo desafio didático da necessidade que um professor tem de mediar a aprendizagem e se fazer compreendido, e outros, a maioria dos alunos, pelo desafio intelectual, pela vontade de avançar no mundo do conhecimento.” 

A solenidade de outorga do título foi realizada na manhã de quinta-feira (4), com a presença de colegas docentes, alunos, ex-alunos e funcionários da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), colaboradores da sua gestão como reitor no período 1998-2002 e muitos convidados. Na mesa, a companhia dos professores José Tadeu Jorge (atual reitor), Alvaro Crósta (coordenador-geral da Universidade), José Antenor Pomilio (diretor da FEEC), Fernando Galembeck (coordenador-geral naquela gestão) e de José Luiz Guazelli, diretor da Techno Park e cônsul honorário da França em Campinas. 

Hermano Tavares se diz parte de uma geração que “teve a chance de educar-se”, nascida entre 1937 e 1955, sendo ele nascido em Patos, na Paraíba, em 1941. “Fiz minha formação na minha cidade, em Recife e em São José dos Campos, onde fui aluno do ITA [Instituto Tecnológica de Aeronáutica] a partir de 1960. Meu pai e minha mãe foram longevos, pessoas serenas, lúcidas, reflexivas e calmas, que puderam na vida registrar uma grande vitória: deram educação superior aos seis filhos”. 

O professor emérito emocionou-se uma primeira vez ao falar dos 47 anos de casamento com a bióloga e professora Débora de Queiroz Tavares, que conheceu na França, onde fez mestrado e doutorado pela Universidade de Toulouse. “Sem ela, eu nada teria feito. Débora me deu dois filhos: Hermano, médico, e Marina, engenheira, que por sua vez se casaram e ganhei um genro e uma nora, Mônica e Olivier, dois casais que me deram quatro netos, Morena, Hermano, Carolina e Júlia. Estas pessoas, minha mulher e minha prole, pelas quais tenho grande respeito e patente amor, me culminaram de satisfação e aumentaram, em muito, o meu gosto de viver.” 

O ex-reitor da Unicamp enalteceu a educação como um direito de todos, por ser a principal porta de oportunidades para o futuro de uma pessoa. “A nossa tarefa básica é construir uma estrutura educacional cobrindo todo o território nacional com qualidade e quantidade respeitáveis. Assim argumento porque quantidade sem qualidade não nos permitirá construir um futuro livre para a nossa nação e pode nos levar a uma grande frustração; e qualidade sem quantidade não é direito de todos, mas sim privilégio de alguns, e se presta a perpetuar a inaceitável desigualdade social do nosso país.” 

Hermano Tavares recorreu à retrospectiva histórica para mostrar como a educação sempre foi negligenciada no país, nos 400 anos de colonização predatória e a escravidão, passando pela Era Vargas e também por JK (em cujas metas desenvolvimentistas “não existia sequer uma referência ao problema educacional”), até os 21 anos de ditadura militar.  Contudo, o professor emérito se diz um otimista, elegendo quatro momentos do período democrático para justificar-se: o fim da ditadura em 1984, a estabilidade monetária conquistada a partir de 94, o processo de inclusão social iniciado no governo Lula e continuado no governo Dilma, e as manifestações de julho de 2013 que alertam para a frustração de um setor recém-saído da pobreza e que esperava seguir ascendendo socialmente. 

O homenageado reforça seu otimismo com a lembrança de que quando ingressou no ensino superior, em 1960, o Brasil tinha 71 milhões de habitantes e apenas 95 mil estudantes universitários, numa proporção de 1 para 750; e que esta proporção em 2013 era de 1 para 28. “Por mais que façamos críticas à educação brasileira, esta diferença de escala terá consequências que nossos filhos e netos vão experimentar. Se olharmos os últimos 50 anos, veremos que vivemos momentos bem mais difíceis e que os enfrentamos. Precisamos avançar na inclusão social e ter a educação como principal prioridade nacional – mais educação, hoje, significa no futuro um país com mais competitividade e melhor distribuição de renda.” 

Atuação como reitor 
O professor Alvaro Crósta, atual coordenador-geral da Universidade e que atuou como assessor do Gabinete do Reitor na gestão de Hermano Tavares entre 1998 e 2002, procurou destacar algumas conquistas daquele período. “O momento inicial foi crítico devido à situação financeira, pois em 98 o comprometimento da receita com os salários era de 95,6%; ao final de 2002, a situação estava bastante saneada do ponto de vista das finanças e das práticas administrativas. Existem ações presentes até hoje, como o Planejamento Estratégico, sendo que fomos a primeira universidade brasileira a adotar a alocação de recursos para planejar seu futuro; a revisão periódica do orçamento, que varia muito; a nova carreira dos funcionários, que não se discutia há bastante tempo; a implantação do Hospital Estadual de Sumaré, com uma destinação acadêmica que não depende do orçamento da Universidade; e a criação da Agência para Formação Profissional da Unicamp (AFPU)." 

O reitor José Tadeu Jorge, por sua vez, observou que a trajetória de Hermano Tavares mostra contribuições importantes que extrapolam as fronteiras da Unicamp, como por exemplo, à frente da Secretaria de Educação de Campinas e na implantação da Universidade Federal do ABC (UFABC), da qual ele foi o primeiro reitor. “Vemos hoje que a UFABC teve um alicerce bem construído, figurando como uma das universidades que mais rapidamente tem galgado degraus de excelência em ensino, pesquisa e extensão. O professor Hermano também tem o diploma de reconhecimento da Udual (União de Universidades da América Latino e do Caribe), que congrega 230 universidades destas regiões em ações de defesa da autonomia universitária e de disseminação da educação.” 

Currículo resumido 
Hermano de Medeiros Ferreira Tavares graduou-se em eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1964. Obteve os títulos de mestre e doutor em automação pela Universidade de Toulouse, em 1966 e 1968. Foi professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade Federal de Pernambuco (FPE) no período de 1965 a 1970. Participou também da Escola de Engenharia de São Carlos (USP) entre 1971 e 1973. Serviu à Unicamp por mais de 30 anos, de 1971 a 2002, aposentando-se como titular da FEEC, mas permanecendo como professor voluntário até 2004. Durante sua vida acadêmica na Unicamp foi representante docente em seus conselhos e órgãos deliberativos, incluindo o Conselho Universitário (Consu); foi chefe de departamento, coordenador da Pós-Graduação em Engenharia elétrica, presidente da Adunicamp e diretor da FEEC. Trabalhou intensamente com empresas dos setores de energia, telecomunicações e transportes. Em 1998, venceu consulta à comunidade universitária com 70% dos votos e nomeado reitor pelo governador Mario Covas. Atuou na coordenação do Comitê de Engenharia Elétrica do CNPq e do Conselho Técnico e Científico da Capes. Presidiu a Sociedade Brasileira de Automática (SBA) e o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp). Foi secretário da Educação de Campinas. A convite do MEC, coordenou a implantação da UFABC, sendo seu primeiro reitor. É Pesquisador Emérito do CNPq, título concedido apenas a 20 personalidades acadêmicas do país. Atualmente assessora a Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens) e há oito anos é um dos diretores voluntários do Centro de Orientação ao Adolescente de Campinas (Comec), entidade que se ocupa de crianças infratoras.

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Pessoa, e cidadão profissional que só colaborou - prática e teoricamente - para o país com ideias, questões, pesquisas,reflexões e entre outras. Por isso e entre outras questões, tem valor concreto, como exemplo são as pessoas e profissionais que conviverem como o Tavares.

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