Cole traz Marina Colasanti
e educadoras italianas

25/07/2014 - 11:40

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A professora Ana Lúcia Goulart de Faria

A professora Ana Lúcia Goulart de Faria

A escritora Marina Colasanti

A escritora Marina Colasanti

O clima era de muita expectativa e de certo frisson entre as centenas de pessoas que se dirigiram ao Ginásio Multidisciplinar da Unicamp, na tarde desta quinta-feira (24), para acompanhar a conferência da jornalista e escritora Marina Colasanti, dentro da programação do 19º Congresso de Leitura do Brasil (Cole). Antes de subir ao palco e falar ao público, a convidada especial do evento conversou com a imprensa. Questionada sobre o seu processo de criação, ela surpreendeu dizendo que, ao contrário do que as pessoas pensam, o desafio de escrever se torna mais difícil com o decorrer do tempo. “A gente se torna mais exigente com o passar dos anos. É difícil ser original, pois vamos gastando o nosso repertório”, disse.

A escritora admitiu que “cortou um dobrado” para formatar a sua palestra, cujo tema foi “O navio fantasma atraca na terceira margem do rio”. “Não foi fácil resumir quase 50 anos de carreira e 50 livros publicados em apenas uma hora de conferência. Ainda assim, eu tentei enfatizar o modo como os diferentes gêneros com os quais trabalho dialogam entre si, formando de um todo”. Marina revelou que, quando criança, jamais pensou em ser escritora. Seu desejo inicial era ser atriz. Depois, optou por ser artista plástica e cursou Belas-Artes.

O ofício de escrever veio com o jornalismo. “Gostava muito do jornalismo, mas queria escrever também outras coisas além de histórias lineares”. Por causa dessa necessidade, ela criou uma estrutura própria e passou a transitar por diversos gêneros, tais como miniconto, crônica, ensaio e literatura infantil. Sobre o Cole, a escritora confessou que nutre admiração pelo evento. “O Cole cumpre o importante papel de divulgar o conhecimento e também de agregar os profissionais. Por onde eu viajo, eu sempre identifico a influência do Cole sobre as pessoas”.

Marina lamentou as recentes mortes de João Ubaldo Ribeiro e Ariano Suassuna. Perguntada se o virtual encontro desses escritores daria margem a uma feira literária no céu, ela até admitiu a possibilidade, mas fez questão de incluir um comentário crítico à sua consideração: “Só espero que seja uma feira menos midiática que essas que temos atualmente”.

Garatujas Teatrais

Ainda na tarde de quinta-feira, o Cole contou com um evento do qual participaram crianças matriculadas nas creches da Unicamp. As educadoras Elisabetta Martinelli e Maurizia Querciagrossa, professoras de creche na cidade de Bolonha, na Itália, fizeram uma performance sobre Garatujas Teatrais, seguida de um bate-papo com a plateia. Segundo Ana Lúcia Goulart de Faria, professora da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp e organizadora do evento, esse tipo de atividade tem tudo a ver com a filosofia do Cole, que trata dos diversos tipos de linguagem, inclusive a corporal.

De acordo com Elisabetta e Maurizia, o uso das técnicas teatrais dá origem a uma ferramenta pedagógica não escolar, que é empregada cotidianamente na creche na qual trabalham. Elas destacaram que a atividade é sempre intencional, embora possa parecer improvisada à primeira vista. Ao observarem as frases corporais formadas pelas educadoras, as crianças as absorvem e as ressignificam, propondo outras frases, a seu modo.

A professora Ana Lúcia informou que um projeto colaborativo entre a Unicamp, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade de Milão Bicocca acaba de ser aprovado. O objetivo do projeto, que deverá começar a ser executado brevemente, é aprofundar os estudos sobre esse tipo de abordagem, tanto no Brasil quanto na Itália.