Antonio Florentino fala sobre a recepção do
pensamento chinês na filosofia moderna

06/06/2014 - 10:37

O especialista em palestra na Unicamp

O professor Antonio Florentino Neto, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez uma palestra na última quinta-feira (5) na Unicamp sobre "A recepção do pensamento chinês na filosofia moderna", abordando como as ideias de filósofos ocidentais modernos ajudaram a construir a concepção de "mundo oriental".

O seminário, realizado no Auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA), faz parte das atividades do Grupo de Estudos Brasil-China do Fórum Pensamento Estratégico (PENSES) da Unicamp, espaço acadêmico vinculado ao Gabinete do Reitor. Florentino, que é professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UEL, se dedica ao estudo da China desde a década de 1980.

Para ele, distinguem-se duas fases na relação entre os chineses e o Ocidente dentro da filosofia. A primeira é marcada por Leibniz (1646-1716) e Wolff (1679-1754), com visões "positivas" sobre o pensamento chinês a partir do século XVII. Numa segunda etapa, Herder (1744-1803), Hegel (1770-1831) e Schelling (1775-1854) elaboraram pontos de vista "negativos" sobre a China e seus conceitos filosóficos, nos séculos XVIII e XIX.

Florentino explica que os alemães Herder e Hegel deram início ao que pode se chamar de sinofobia. "O bom início para a abertura de uma concepção positiva de mundo oriental que se dá com Leibniz e Wolff se encerra bruscamente com a interpretação do mundo oriental, especificamente do universo chinês, feita por Herder e Hegel", defende o professor. Essa visão "negativa" acabou se multiplicando nos meios acadêmicos e foi quase hegemônica até meados do século XX, sendo que ecoa até os dias de hoje.

"A ideia é apontar, de certa forma, os traços que nos permitem entender quais são as origens dessas afirmações categóricas, principalmente dentro da filosofia. Não sei quanto às outras áreas, mas dentro da filosofia essa é uma situação constrangedora. Em pleno século XXI, nós ouvimos com frequência: 'Mas os chineses fizeram filosofia?'", critica Florentino, apontando que o desconhecimento sobre os autores da China leva grande parte da academia a menosprezar a filosofia chinesa ao classificá-la somente como "pensamento" ou "sabedoria" chinesas.

O professor da UEL, no entanto, vê como positivo o momento atual das universidades brasileiras, que estão se abrindo para as questões orientais, particularmente chinesas. Ele prevê que, dentro de dez ou 15 anos, "o debate sobre o Oriente estará dentro das universidades e dos cursos de filosofia".