“Infelizmente, eu preciso dizer: se traduzirmos para o inglês todos os trabalhos [científicos] publicados em português no Brasil e mandarmos ao exterior, vamos passar vergonha”. A constatação é do professor Gilson Volpato, que concedeu nesta sexta-feira o workshop “Método Lógico para Redação Científica”, organizado pelo Espaço da Escrita, com apoio da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) e Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). Cerca de 600 docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação da Unicamp lotaram dois dos três auditórios do Centro de Convenções – público que só pôde ser acomodado graças à cessão deste espaço pela Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC), mesmo em momento de reformas.

Atuando há 26 anos nas áreas de metodologia, redação e publicação científica, Gilson Volpato é livre-docente do Instituto de Biociências da Unesp (Botucatu), tendo presidido a Comissão dos Editores Científicos desta universidade paulista durante quatro anos. “Eu ministro entre 70 e 80 cursos por ano e este é o quarto apenas nesta semana, no circuito USP-Unicamp. Mas também vou a universidades públicas das regiões mais pobres do país, como do interior do Norte e Nordeste, e as falhas são as mesmas. A ideia central do método é esta: para escrever um bom texto, tem que ter um bom discurso, e para ter um bom discurso, tem que conhecer as bases da ciência – são elas que ditam: a cada erro de redação, é preciso voltar e perguntar lá atrás.”

Volpato afirma que o seu método, em outras palavras, é uma tentativa de fazer com que o pesquisador reverta para o texto o conhecimento que possui em ciência. “Quando a pessoa comete algum erro na estruturação de um texto, na verdade é porque tem conceitos equivocados. Por exemplo, em relação ao tempo verbal na conclusão: se ela conclui com o verbo no passado, está equivocada sobre o que seja conclusão em ciência, pois deveria ser no presente. O uso do verbo impessoal também é um erro, já que os dados nas bases da ciência nada mostram, é a pessoa que lê os dados: ciência, na realidade, é um discurso.”

Segundo Gilson Volpato, há várias estruturas erradas no texto que vêm do pensamento. “Na verdade, todos querem uma formulazinha mágica para escrever e publicar nas melhores revistas do mundo. O que estou trazendo é uma formulazinha que ensina a pensar. Dizer que vou dar um curso de redação científica em inglês, mas falando ao público em português, e que em dois ou três dias se sai daqui publicando em inglês, é enganação. O problema não é o inglês, o grande problema é o pensamento.”