Marco do Valle recebe medalha
Samuel Lisman da Academia Campineira

06/07/2012 - 10:30

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Valle: reconhecimento de amigos

Valle: reconhecimento de amigos

Melancolia 3, inspirada em Albretch Durer

Melancolia 3, inspirada em Albretch Durer

Melancolia, de Albretch Durer

Melancolia, de Albretch Durer

O artista Thomaz Perina (1921-2009) e o arquiteto Antonio Costa Santos (1952-2001) são mestres inesquecíveis para o professor Marco do Valle, do Instituto de Artes da Unicamp. Se dia 7 Valle será contemplado com a Medalha Samuel Lisman da Academia Campineira de Letras e Artes (Acla), faz questão de lembrar que esses dois protagonistas da história da cultura de Campinas foram fundamentais em seus passos de artista e arquiteto. A cerimônia de entrega da medalha será às 15h30, na sede da Acla. A medalha é outorgada anualmente a personalidades de diferentes áreas da cultura de Campinas desde a morte do jornalista e escritor Samuel Lisman. 

“O motivo maior de minha satisfação é o de ter o reconhecimento de meus pares, mesmo sendo sabedor que mais recebo do que dou prestígio a esta instituição”, diz Marco do Valle sobre a condecoração. Receber a medalha, segundo o artista, tem grande significado para ele, principalmente pela história dos escritores e artistas que sustentaram e hoje formam os pilares da instituição Academia Campineira de Letras e Artes, fundada em 1970. 

Perina foi um dos primeiros artistas a quem Marco do Valle se apresentou logo em sua mudança de São Paulo a Campinas, em 1978. Após se encontrarem em uma reunião do Clube de Arte Moderna, Valle foi convidado a visitar o ateliê do artista na companhia de Heitor Takahashi e sua esposa. “Todos os visitantes que lá estiveram ficaram sempre encantados com a simplicidade e a profundidade de seu conhecimento. Eu já havia sido iniciado nas artes plásticas em São Paulo, mas afirmo que ao longo da convivência com Thomaz Perina aprendi o que é ser artista, ou seja, o mais importante” reafirma. 

Na convivência com Antônio Costa Santos, prefeito de Campinas assassinado em setembro de 2001, Valle diz ter encontrado um mestre que o ensinou a amar a cidade, sua arquitetura e patrimônio histórico. “Tive o privilégio de conversar longamente com ele em sua Casa Grande e Tulha, hoje tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional. Uma frase dele que não esqueço: ‘Campinas é a anti-Curitiba’.” Por indicação do ex-prefeito, Valle coordenou o restauro do Palácio dos Azulejos construído em 1878, que foi a primeira sede da Prefeitura da cidade. 

Numa trajetória campineira que justifica o mérito reconhecido pela Acla, além do restauro do Palácio, Valle teve papel importante em vários momentos da história cultural da cidade. Logo no início, na gestão do prefeito Magalhães Teixeira, falecido em 1996, foi eleito membro do primeiro Conselho de Cultura de Campinas pelos artistas plásticos do município. O artista também participou como diretor-executivo da “Fundação da Cidade”, uma nova fase que tinha sido iniciada pela Associação “Febre Amarela”. Foi conselheiro do Condepacc de Campinas e do Condephaat do Estado de São Paulo.

Por influência do avô, Benedicto Alves do Valle, mecânico formado pela General Motors em 1947, e pelo pai, pensou em ser engenheiro mecânico, mas impressionou-se profundamente ao conhecer o Museu de Arte de São Paulo (Masp), em seu desembarque na capital paulista, em 1973, quando deixou a cidade natal, Taquaritinga (SP). “Tinha aprendido a desenhar com minha mãe, especialista em riscos para bordados, que depois se tornou bordadeira de alta costura do costureiro Clodovil Hernandez. Em 1975, conheci Luiz Paulo Baravelli, Carlos Fajardo e José Resende. Decidi ser artista e abandonar a ideia de cursar a universidade e fui trabalhar no ateliê do escultor grego Nicolas Vlavianos”, revela. Com o escultor, ele participou da construção de duas obras públicas, uma delas chamada “Progresso”, que fez parte da inauguração do primeiro Calçadão da Rua 24 de Maio, na administração Olavo Setúbal.

A primeira exposição de sua vida aconteceria quatro anos depois de conhecer o Masp, em 1977, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. “Era uma coletiva de Mail Art com o título de “Poéticas Visuais”, que foi organizada por Júlio Plaza e Walter Zanini e contou com a presença de John Cage e outros integrantes do Grupo Fluxos”, informa. Foi então que ele percebeu que deveria voltar a estudar até mesmo para ser o artista que desejava ser. Aconselhado por seu mestre, o escultor José Resende, ingressou no curso de arquitetura e urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

A primeira exposição individual aconteceu em 1979, no Museu de Arte Contemporânea de Campinas, com o título “Três pontos não colineares determinam um plano” (Axioma do Plano de Euclides), obra que mantém no acervo do MAC/USP. Em seguida, ganhou o prêmio Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais no Salão Nacional de Belo Horizonte e passou a ter sua obra no acervo do Museu de Arte da Pampulha de Belo Horizonte. Nessa mesma época, 1982, cursava o último ano do curso de arquitetura e realizava uma exposição com Marcelo Nitsche e Márcia Rothstein no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com a curadoria de Frederico de Morais. “Minha carreira de artista tinha de fato começado.”

Na Unicamp, foi um dos fundadores do curso de artes plásticas, a convite dos artistas e professores Bernardo Caro, Fúlvia Gonçalves e Berenice Toledo, e do curso de arquitetura e urbanismo, uma demonstração de que arte e arquitetura sempre caminharam juntas em sua trajetória. Hoje, é pesquisador do programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes e já pertenceu ao programa de pós-graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).

Valle se diz honrado em receber uma medalha com o nome de Samuel Lisman. Judeu alemão, atuou durante muito tempo como jornalista e escritor. Na América do Sul, passou pela Colômbia, pelo Peru e pela Venezuela. Acabou por se instalar no Uruguai, onde teve uma editora. Como editor, segundo o acadêmico e artista plástico Mário Graven Borges, foi ele quem publicou Gabriel Garcia Marques pela primeira vez. Como escritor, Lisman publicou alguns livros no Brasil, em geral coletâneas de crônicas e pequenos contos, mas deixou também um repertório de romances de caráter épico, como Deus terra e Nas trevas.