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Pouca idade e desonestidade predominam em pesquisas com resultados inválidos

Foto: Reprodução/NIH
Jovens cientistas com pouco contato com colaboradores correm risco maior de exagerar resultados

Cientistas em início de carreira, trabalhando em grupos pequenos ou com colaboradores distantes e publicando em periódicos com revisão pelos pares são os que mais correm risco de divulgar resultados exagerados ou inválidos, aponta artigo sobre vieses e distorções na literatura científica publicado no periódico PNAS. O artigo também aponta que a integridade pessoal (ou falta dela) do pesquisador individual tem um peso maior na produção de falsos resultados do que a pressão social no meio acadêmico por mais publicações.

Com o título “Meta-assessment of bias in Science” (“Meta-avaliação do viés na Ciência”), o trabalho tem entre seus autores John P. Ioannidis, do Centro de Inovação em Meta-Pesquisa de Stanford (Meta-Research Innovation Center at Stanford, ou METRICS, na sigla em inglês), que há vários anos se dedica a expor as distorções da literatura científica.

Neste novo trabalho, Ioannidis e coautores debruçaram-se sobre uma série de meta-análises de diversas áreas. Como meta-análises congregam diversos estudos sobre um mesmo assunto – por exemplo, a eficácia de uma nova droga – os autores usaram-nas para estimar a presença de vieses em pesquisas individuais, como no caso de um dos trabalhos congregados numa meta-análise trazer resultados muito mais otimistas que os demais. Técnicas estatísticas foram, então, utilizadas para testar hipóteses sobre a prevalência e as possíveis causas desses vieses.

“A magnitude dos vieses variou bastante entre os campos de pesquisa, mas foi em geral muito pequena”, diz o artigo. ” No entanto, observamos consistentemente um risco significativo de estudos pequenos, preliminares e altamente citados superestimarem seus efeitos, e estudos não publicados em periódicos revisados pelos pares subestimarem efeitos”.

O trabalho aponta ainda “confirmação parcial” da ideia de que estudos realizados nos Estados Unidos tendem a informar resultados mais radicais, o que pode sugerir um efeito da cultura de “publicar ou perecer” prevalente na academia americana, mas os autores fazem ressalvas a essa interpretação: “Autores com alta taxa de publicação e muitas citações não estiveram, em geral, sob risco elevado de viés”, apontam. A hipótese de que a pressão para publicar leva a exageros ou má conduta científica obteve “apoio negativo” no estudo.

“Em particular, a noção de que as pressões para publicar têm efeito direto no viés não obteve apoio, e evidência contrária foi até encontrada: os pesquisadores mais prolíficos e os que trabalham em países onde as pressões são, supostamente, maiores tiveram significativamente menos probabilidade de publicar resultados superestimados, o que sugere que os pesquisadores que publicam mais podem realmente ser melhores cientistas”.

Entre as áreas de conhecimento avaliadas, as ciências sociais foram as que mostraram, em média, maior predisposição ao viés. Diz o artigo: “A proporção de estudos concluindo a favor da hipótese testada aumenta à medida que se move das ciências físicas para as biológicas e as sociais, sugerindo que campos de pesquisa com maior taxa de ruído e menor consenso metodológico podem ser mais vulneráveis ao viés a favor de resultados positivos”.

Referência

Meta-assessment of bias in science

[ doi: 10.1073/pnas.1618569114 ]

 

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