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Entre parênteses e aspas: a herança da mitologia grega para o cristianismo

Livro mostra como ocorreu a transição da tradição mitológica grega para o cristianismo

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Em nome da (in)diferença: O mito grego e os apologistas cristãos do segundo século já deixa claro em seu título a impossibilidade de fechar interpretações e esgotar sentidos: a (in)diferença pode ser traduzida como a necessidade de ressaltar diferenças e semelhanças, em processos que, em alguma medida, se complementam e se fundem. Ao percorrer esses caminhos de intersecção, adoção e recusa, Jacyntho Lins Brandão se debruça sobre a questão de como ocorreu a transição da tradição mitológica grega para o cristianismo. Doutor em letras clássicas pela Universidade de São Paulo e professor de grego antigo da Universidade Federal de Minas Gerais, o autor teve seu livro publicado pela Editora da Unicamp em 2014.

 Assim como a pontuação presente no título dá o tom aberto da obra, o uso recorrente de aspas para se referir a categorias como “cristianismo”, “religião” e “identidade” indica a postura de Lins Brandão ao longo do desenvolvimento do tema: o cuidado do autor em marcar o transporte de conceitos abrangentes e complexos característicos da Modernidade para a Antiguidade faz com que Em nome da (in)diferença se configure como uma análise feita a partir da perspectiva de nossa época, marcada por espaços, mentalidades e tempos diversos daqueles da tradição clássica.

Entender a chave de interpretação sugerida torna a obra, com seus parênteses e aspas, um testemunho do que antes era chamado de trocas culturais sob o viés do hibridismo cultural. Dessa forma, os intercâmbios entre as culturas, aqui vistos nas transposições de elementos clássicos gregos para o cristianismo, sempre implicam perdas e naturalizações. Sempre se dão em detrimento de um povo em relação a outro e, ao se perpetuarem no decorrer das gerações, têm suas origens apagadas, enfatiza o autor.

Ao abordar os destinos do mito e da mitologia, Lins Brandão mostra como, a partir da “negociação” dos chamados apologistas do século II com a tradição grega antiga, molda-se o imaginário das épocas subsequentes. Os relatos sobre deuses e heróis da Antiguidade grega são, então, requalificados, mas mantêm sua autoridade.

 A divisão em seis capítulos do livro — Onomasiologias, Topologias, Cronologias (1 e 2), Historiografias e Economias — assinala um percurso que vai desde a contextualização do mito grego, explorando as partilhas entre o “judaísmo”, “helenismo” e “cristianismo”, a classificação dos apologistas de cristãos como constituintes de uma “terceira raça” e as genealogias do cristianismo, até o debate com a tradição grega visando a sua apropriação pelos cristãos. Sem perder de vista nomes como Aristides de Atenas, Justino de Roma, Taciano Atenágoras, Teófilo, Hérmias e Clemente de Alexandria, Jacyntho Lins Brandão insere sua voz, delimitada por nosso tempo e espaço, na discussão sobre os ganhos, as perdas e as indiferenças advindos com as apropriações do passado.


Foto: ReproduçãoServiço

Título: Em nome da (in)diferença - O mito grego e os apologistas cristãos do segundo século

Autor: Jacyntho Lins Brandão

Editora da Unicamp

Páginas: 480

Por: R$ 92,00

http://www.editoraunicamp.com.br/

 

Imagem de capa JU-online
Em nome da (in)diferença - O mito grego e os apologistas cristãos do segundo século

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