audiodescrição: imagem colorida, selo "De volta a São Gabriel"

Entre frutas, fibras e palhas

Por Juliana Sangion (Especial para o Jornal da Unicamp) 

Fotos: Felipe Bezerra 

 

Cidadã do mundo

A venezuelana Liliam ou Linda (como é conhecida) em sua banca de frutas, pimentas e farinhas na Feira Indígena Municipal
A venezuelana Liliam ou Linda (como é conhecida) em sua banca de frutas, pimentas e farinhas na Feira Indígena Municipal

Ao deixar a Venezuela, há quase quatro anos, a professora de biologia Liliam, ou simplesmente Linda, como é chamada em São Gabriel da Cachoeira, não tinha nenhum conhecido na cidade, mas disse que sentia que seria acolhida. Hoje, ela tem uma banca de frutas, pimentas e farinhas na Feira Indígena Municipal. Ainda não conseguiu comprar um pedaço de roça para o plantio, então trabalha revendendo os produtos.

Os filhos e o marido de Linda, que era professor universitário na área de Física, na Venezuela, só chegaram um ano depois. “Eu sentia que não deveria voltar, me adapto fácil, sou uma cidadã do mundo", disse. Ela contou que a família está se adaptando bem e que a alegria mais recente foi ver o filho mais velho na universidade: ele ingressou na Unicamp no ano passado, pela modalidade Enem-Unicamp. "Sou muito grata a Deus por todo o que Ele tem feito em nossas vidas sem a sua ajuda nós não estaríamos aqui", celebra. 

Tecendo a história

Gilda Baré
Gilda Baré expõe trabalho feito de teçume que aprendeu com a mãe

Gilda da Silva Barreto, do povo Baré, é uma das pioneiras na luta pelo direito das mulheres indígenas em São Gabriel da Cachoeira. Há 20 anos, ela aceitou dirigir um departamento de uma organização indígena que tinha somente homens nos cargos diretivos. Gilda conta que enfrentou inúmeros desafios e preconceitos para fazer valer sua voz e suas ideias.

Formada em Turismo, criou as filhas incentivando-as a estudarem e a conquistarem seu espaço. Dona de uma pequena loja no centro da cidade, chamada Uirapuru, Gilda é artesã e também abre espaço para outras mulheres exporem e venderem sua arte na lojinha. “Eu me considero uma mulher empreendedora. Acho que para chegar lá, temos que lutar por aquilo que acreditamos e ajudar outras mulheres a terem essa consciência”, disse.

Em sua loja, Gilda expõe o trabalho que faz com diferentes fibras e palhas, cada uma com utilidade diferente da outra, e se orgulha da tradição. “O teçume* que aprendi com minha mãe segue em minhas memórias e se faz presente na minha arte".

Com suas mãos, a artesã tece sua história, pinta sua cultura, conta sua vida.

*Teçume é como o ato de tecer fibras vegetais é chamado no Amazonas. 

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