Mulheres não deveriam ter que escolher entre maternidade e carreira acadêmica, afirma embaixadora do Parent in Science na Unicamp 

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Cândida Pereira da Costa, embaixadora do movimento Parent in Science na Unicamp (foto: Jeniffer Amaral)

“Minha vida acadêmica acabou”, pensou a pesquisadora Cândida Pereira da Costa, da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp (Feagri), quando teve uma bolsa de pós-doutorado rejeitada após um período de atenção total à maternidade. O requisito do órgão de fomento, de manutenção de atividade acadêmica nos últimos dois anos, não cabia na realidade de Cândida, que havia se dedicado integralmente, por três anos, à criação da filha. Após a negativa, a pesquisadora precisou reconstruir a carreira. 

Situações como essa, que impõem barreiras aos pais - e principalmente às mães - cientistas, motivaram a criação do movimento Parent in Science (Mães e Pais na Ciência), do qual Cândida é embaixadora pela Unicamp. O grupo busca discutir o impacto da parentalidade sobre a carreira científica e foi o primeiro projeto brasileiro a vencer o prêmio Nature para Mulheres Inspiradoras na Ciência, em 2021, na categoria Science Outreach.

O mundo acadêmico não é neutro

O Parent in Science foi criado em 2016 e atualmente é composto por um Núcleo Central e por 72 embaixadoras em todas as regiões do país. Desde sua origem, o grupo levanta dados sobre os impactos da maternidade e da paternidade na carreira acadêmica, bem como impulsiona políticas de apoio a mães e pais cientistas. “Diz-se que a ciência é neutra, mas o que se vê, pelo levantamento de dados, é que temos um forte enviesamento em relação ao gênero. Quando se pensa em parentalidade, há uma ruptura ainda maior”, explica Cândida. 

A pesquisadora frisa que o problema é acentuado para as mães, já que, historicamente, o cuidado dos filhos é atribuído às mulheres. De acordo com levantamento do Parent in Science, isso faz com que haja uma queda elevada da produtividade nos primeiros anos da maternidade, o que não ocorre entre aqueles que se tornam pais. “Para a mulher, existe um efeito tesoura na academia. Elas começam em grande número na base da carreira, mas quando vai se chegando aos cargos mais elevados, como bolsas produtividade e reitorias, existe um número incipiente ou mesmo nulo. A nossa produtividade cai principalmente nos primeiros três anos da maternidade e fica quase impossível chegar ao topo”. 

audiodescrição: fotografia colorida da pesquisadora cândida junto à sua filha
Pesquisadora relata que enfrentou dificuldades em manter carreira por falta de rede de apoio (foto: Jeniffer Amaral)

“Não é justo termos que escolher entre a maternidade e a carreira acadêmica. As coisas podem caminhar juntas”, reflete Cândida. A pesquisadora conta que, em seu caso, não tinha uma rede de apoio para auxiliar nos cuidados da filha e poder manter a carreira concomitantemente. Percebendo que muitas mulheres enfrentavam empecilhos semelhantes e acabavam desistindo, Cândida aderiu ao movimento Parent In Science em 2020. Desde então, atua com o grupo para transformar essa realidade. Na Unicamp, também integra a recém-criada Rede de Mulheres Acadêmicas.

O Parent in Science busca romper com a crença de que a maternidade e a paternidade não interferem na carreira. “Era um tabu falar sobre parentalidade, porque todos achavam que a carreira era só uma questão de meritocracia”, observa Cândida. Ao reunir mulheres cientistas, o grupo identificou relatos de bolsas cortadas ou projetos negados após o período de licença maternidade. Também verificou que em grande parte das instituições não há políticas de apoio às mães e aos pais, como creches ou auxílio-criança. Outro levantamento, realizado durante 2020, identificou que o período de pandemia acentuou as desigualdades na carreira científica, escancarando ainda mais o problema.

Pandemia trouxe mais impacto à carreira de mulheres negras

O impacto da pandemia na produtividade dos pesquisadores, segundo relatório do Parent In Science, foi maior entre mulheres. Elas tiveram maior declínio na produtividade, enquanto os homens mantiveram-se no mesmo patamar ou até expandiram a produção.

As discrepâncias foram ainda maiores quando o fator “maternidade” foi conjugado ao recorte racial. As mulheres negras foram as mais afetadas, com ou sem filhos, seguidas pelas mulheres brancas com filhos. “No período pandêmico, as mulheres acadêmicas tiveram uma produtividade quase nula, enquanto a dos homens continuou a mesma ou se elevou. E aí a gente percebe uma intersecção, principalmente racial. A produtividade é muito pior para mulheres negras e mães solo”.

audiodescrição: fotografia colorida da pesquisadora cândida
Mudanças institucionais dependem também de mudanças sociais, culturais e políticas, avalia Cândida (foto: Jeniffer Amaral)

Essa realidade, aponta Cândida, não é exclusiva da academia e precisa ser analisada em outros setores do trabalho para que sejam pensadas políticas públicas em nível nacional. Uma das discussões realizadas Parent in Science é a elevação da licença paternidade, que hoje é de cinco dias, estendida em até 20 dias em alguns casos. “Para pensarmos em mudanças institucionais, precisamos pensar em mudanças sociais, culturais e políticas de alcance federal, por exemplo, na licença paternidade. Com uma licença de cinco dias úteis para o homem, como ele vai conseguir ter algum vínculo com o filho?”, questiona.

Maternidade no Lattes e apoio às mães

Em abril de 2021, o Lattes, principal plataforma de currículos de pesquisadores, passou a oferecer a possibilidade de as mulheres inserirem seus períodos de licença maternidade. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), que gere a plataforma, atendeu a uma reivindicação encaminhada pelo Parent in Science, chamada de “Maternidade no Lattes”. 

O movimento reivindicava essa inclusão desde 2017, com o argumento de que a análise da produtividade precisa levar em consideração a licença. Graças à mobilização do grupo, diz Cândida, além da inclusão no Lattes, diversos editais de fomento em instituições de ensino e pesquisa também passaram a considerar o período de licença maternidade em suas avaliações.

Outra frente de ação do Parent in Science foi o Programa Amanhã. Por meio de arrecadações, o movimento dá suporte a mães pós-graduandas, especialmente mães solo, negras e indígenas. 

O prêmio concedido pela Nature, avalia Cândida, é um reconhecimento importante ao trabalho do grupo, que também vem inspirando movimentos semelhantes em outros países da América Latina, como a Colômbia. Com o valor recebido, o movimento deseja fortalecer suas ações, que até então dependiam exclusivamente de arrecadações. “O que a gente espera é que a maternidade e paternidade sejam acolhidas”, conclui a pesquisadora.

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