Belluzzo defende olhar crítico para crise brasileira que considere conjuntura externa

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O economista Luiz Gonzaga Belluzzo abriu nesta quarta-feira (18) o ciclo de conferências “A Crise Brasileira” discutindo como as transformações na economia global refletem diretamente no cenário brasileiro de estagnação, desindustrialização e ascensão do capital financeiro. Organizado pela Reitoria e pelo Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp, o evento mensal trará grandes nomes do cenário brasileiro, de diversos matizes e com distintas visões de mundo, para palestras com o objetivo de diagnosticar as crises que afligem o país.

Durante a mesa de abertura, o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, destacou a importância de a Universidade estimular o debate sobre os problemas nacionais e buscar soluções. “Estamos em um momento em que precisamos diagnosticar, comentar e discutir as diferentes crises pelas quais estamos passando – que, infelizmente, parecem eternas – e propor saídas possíveis.”

Marcelo Knobel e Carlos Vogt
Carlos Vogt, presidente do Conselho Científico e Cultural do IdEA, e o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, na abertura do ciclo de conferências

Knobel e Carlos Vogt, presidente do Conselho Científico e Cultural do IdEA, lembraram na abertura da tradição da Unicamp em organizar grandes eventos para reflexão sobre os cenários político, econômico, social e cultural há mais de três décadas, como “Brasil Século XXI”, realizado em 1988 e 1989, e “Brasil: Memória Política”, em 1987, reunindo depoimentos de protagonistas da política no período de redemocratização, sob a coordenação do jornalista Paulo Markun. Ex-presidente da Fundação Padre Anchieta (2007-2010) e experiente profissional do jornalismo que atualmente se divide entre Portugal e Brasil, Markun será o mediador do ciclo “A Crise Brasileira”.

“O tema do encontro e as discussões do ciclo são mais do que nunca oportunas, dada a grande crise que joga sobre a inteligência e sobre as nossas instituições democráticas um manto escuro, que está gerando trevas contínuas. Essa é uma ação que se vê coordenada com objetivos obscurantistas cada vez mais evidentes”, disse Vogt, que é poeta e linguista, ex-reitor da Unicamp (1990-1994) e um dos organizadores do ciclo.

Brasil e a economia global

Traçar um panorama histórico sobre os principais acontecimentos da economia mundial nas últimas décadas foi o preâmbulo de Luiz Gonzaga Belluzzo para discorrer sobre a crise que atualmente abala o Brasil. De maneira bem-humorada, o economista criticou analistas que tecem suas observações sobre as questões nacionais como se o país estivesse completamente descolado das intercorrências e adversidades externas.

“Não existe crise sem transformação, é por isso que minha apresentação se chama ‘Transformações da Economia Global, Crise e (Recuperação?)’. Quando ouço os debates sobre a situação da economia brasileira, eu tenho a impressão de que o Brasil está no planeta Netuno, porque não há nenhuma referência, por exemplo, à inserção do país na economia internacional e como foi afetado, nos últimas 40 anos, pela condução da política econômica”, criticou Belluzzo, que é professor aposentado do Instituto de Economia da Unicamp e ex-secretário especial do Ministério da Fazenda (1985-1987). Para ele, as mudanças no cenário internacional foram muito profundas, sobretudo após a crise da dívida externa, nos anos 1980, o que teve impacto direto na economia do Brasil.

Belluzzo
Economista e professor aposentado da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo proferiu palestra sobre “A Crise da Economia”

A conferência mostrou como as transformações estruturais da economia e do sistema financeiro global, somadas aos fenômenos da “financeirização” e da desindustrialização, modificaram o perfil das grandes economias, como dos Estados Unidos, que perderam vantagens comparativas no cenário da indústria contemporânea. Segundo o conferencista, em 1980, as exportações de manufaturados da China eram equivalentes às do Brasil, pouco mais de 1%. Atualmente, o gigante asiático é responsável por 15% das vendas globais de produtos industrializados e os norte-americanos detêm apenas 8%.

“Houve um aumento do papel do estoque de riqueza financeira em relação à empresa real, que é o fenômeno que estamos observando hoje de maneira gravíssima. Isso, na verdade, não faz mais do que corresponder às tendências naturais da economia capitalista quando ela é deixada às suas próprias forças. Se você soltou o bicho, ele vai seguir os seus instintos”, afirmou. Com esse recurso à analogia, ele explicou didaticamente que, no pós-guerra, o “bicho” foi colocado na jaula, com vistas à geração de emprego e renda e ao aumento da produtividade. “Mas, no final dos anos 1970, soltaram o bicho e ele está fazendo das dele, seguindo a sua natureza.”

No caso específico do Brasil, o professor do IE, que também foi secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo (1988-1990), foi enfático ao mostrar que esse problema de conformação estrutural da economia global também produziu seus impactos negativos, como a redução do peso da produção industrial em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Belluzzo manifestou sua reprovação aos analistas econômicos que não consideram pontos essenciais ao opinar sobre a crise brasileira e alegam que a solução se restringe às reformas previdenciária e tributária e ao corte de gastos do governo. “O Brasil hoje só sobrevive, só se aguenta, porque tem US$ 378 bilhões de reservas.”

“O bloqueio maior que temos está consolidado no teto de gastos. É uma das coisas mais inacreditáveis que eu vi na minha vida. Imobiliza-se a economia e a política econômica. E o teto de gastos atinge a todos, inclusive a nós, da universidade. Isso é um absurdo, porque todo mundo sabe que, em uma situação de depressão ou recessão em que nós estamos, com inflação baixa e taxa de juros em queda, temos que articular formas de gastar”, opinou o economista.

Próximos eventos

Para os próximos meses já estão agendadas mais quatro conferências no ciclo “A Crise Brasileira”: o filósofo João Carlos Salles (“Universidade”, em 9 de outubro), o educador Mozart Neves Ramos (“Educação”, em 23 de outubro), o diplomata Rubens Ricupero (“Relações Internacionais”, em 6 de novembro) e o líder indígena e ambientalista Ailton Krenak (“A Questão Indígena”, em 27 de novembro). Outros temas, como cultura, saúde, violência, democracia e segurança pública, estão previstos para o próximo ano.

As inscrições para a palestra com o filósofo João Carlos Salles, que é presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), já estão abertas e podem ser feitas no site do IdEA.

Ouça também na Rádio Unicamp como foi a palestra do economista Luiz Gonzaga Belluzzo.

Vídeo-íntegra:

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Audiodescrição: no palco de um auditório, imagem em perspectiva e de busto, homem em pé, com olhar voltado para a esquerda da imagem, fala em microfone de mesa que se encontra apoiado sobre uma tribuna de madeira, posicionada à frente dele. Ele mantém as mãos apoiadas sobre essa tribuna. Às costas dele, projeção em tela de data show que exibe planilha construída com linhas horizontais, verticais, números e palavras. Ele usa óculos, veste camisa de botões de mangas compridas em tom branco. Imagem 1 de 1.

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