Técnicas cirúrgicas usadas no HC extraem com precisão tumores de nariz e boca

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Médico de azul sentado à frente do seu laptop. Ele mostra uma imagem que tem em seu primeiro plano uma boca aberta com um tumor visível
Chone mostra tumor de boca: na região de cabeça e pescoço, ele é o mais incidente no Brasil
 

Duas técnicas cirúrgicas de otorrinolaringologia, que têm trazido esperança a pacientes oncológicos, estão sendo usadas de modo pioneiro no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Uma é a técnica de cirurgia endoscópica para a retirada de tumores malignos por videoendoscopia nasal e outra, a pesquisa em linfonodos-sentinela. Ambas foram trazidas à Unicamp pelo docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Carlos Chone, otorrinolaringologista e cirurgião de cabeça e pescoço. “O que nos motivou a buscar essas técnicas foi a melhora dos nossos pacientes, pois as tecnologias mudam com o tempo”, realçou.

A primeira cirurgia tem uma abordagem multidisciplinar, envolvendo as áreas de Oncologia, Radioterapia e Neurocirurgia. É considerada minimamente invasiva, porque procura preservar a anatomia com a mínima agressão ao organismo. A retirada de tumores malignos é feita pelos orifícios do nariz, sem necessidade de cortes externos e sem dor. Esse procedimento é realizado de rotina por pouquíssimas instituições no país e começou a ser adotado de rotina pelo HC recentemente. Doze casos já se submeteram a essa cirurgia, todos com resultados encorajadores.

A recuperação pós-operatória tem se mostrado mais rápida que os procedimentos convencionais, mesmo que a retirada do tumor seja mais profunda e chegue à meninge (membranas que revestem o sistema nervoso central). É que a manipulação de tecido cerebral é bem menor, esclarece Chone. Essa técnica tem poucas publicações e originariamente era utilizada para tumores de hipófise. Começou a ser descrita na década de 1980 e foi expandida para tumores malignos com o uso de vídeo.

Pela casuística mundial, ela tem sido o procedimento de escolha, comparada à via tradicional, e – mesmo em casos avançados – tem mostrado uma taxa de cura em torno de 80%. Normalmente, quando são feitos cortes externos, o paciente tem que lidar com prováveis sangramentos. Com isso, o sangue pode prejudicar a visualização. “Enxergamos dentro de cavidades estreitas, como os seios da face, onde há pouca iluminação”, revela. “Nesse caso, a decisão da equipe é fazer uma abertura maior na região de interesse para chegar ao tumor. Muitas vezes sobram resquícios do tumor, que podem ser malignos.”

Com a nova técnica, uma câmera é acoplada a um sistema de endoscópio que, por sua vez, possui um sistema de lentes. São equipamentos longos e finos (de 4 mm de espessura) que são introduzidos nos orifícios do nariz, por onde o cirurgião trabalha. “A visualização é excelente”, afirma o médico. Ele comenta que o olho humano não faz curva para visualização. Com lentes grandes angulares, tem sido possível enxergar em ângulos diferentes, além da curva. Nela são acoplados sistemas de cautérios e bisturis especiais para o trabalho de corte e de coagulação do tumor, com uma boa margem oncológica.

Essa técnica tem a mesma taxa de cura que a aberta (tradicional), porém uma melhor recuperação pós-operatória e estética. O tempo de recuperação por videoendoscopia, diz Chone, diminui pela metade. Quando a cirurgia é por via externa, leva cerca de dez dias.

Mas a maior vantagem da via endoscópica é que ela exclui a necessidade de abrir o crânio para a retirada de tumores extensos. Logo, é menos agressiva. Hoje em dia, as cirurgias abertas têm pouca indicação. Chone acredita que, no futuro, a robótica entrará nesse mercado. Os braços robóticos ainda são grandes e não passam pelo nariz.

Os cuidados recomendados no pós-cirúrgico se traduzem em evitar esforço físico por até um mês. No intervalo, realiza-se lavagem do nariz com soro fisiológico continuamente. Dependendo da situação, o paciente usa um tampão de três a cinco dias após a retirada de tumores que exigem maior reconstrução.  

Os tumores de nariz, em sua maioria, são diagnosticados por meio de sintomas como congestão nasal que não melhora, dor acima ou abaixo dos olhos, bloqueio de um dos lados do nariz, gotejamento nasal na parte posterior do nariz e da garganta, e hemorragia nasal.

O médico Carlos Chone aponta na tela de uma TV à sua frente uma pequena incisão no pescoço, de no máximo 5cm (que aparece numa faixa em azul) para contrastar com o procedimento cirúrgico tradicional, em que os cortes cirúrgicos são extensos
Chone aponta a pequena incisão (faixa em azul) pela técnica de linfonodos-sentinela comparada à tradicional

 

Médico mostra aparelho ultrassensível chamado gamma probe, que é capaz de detectar radioatividade em tumores
Aparelho ultrassensível, gamma probe, detecta radioatividade com acurácia e sensibilidade em tumores-sentinela


Guardiões
Outra técnica utilizada no HC é a pesquisa de linfonodos-sentinela em câncer de boca, empregada com êxito em centenas de casos. Uma dificuldade para vencer esse tipo de câncer é a metástase para outros órgãos, que se dá por via linfática. O tratamento tradicional, de via aberta, inclui a retirada de todos os gânglios do pescoço onde possa existir metástase.  

Pela nova técnica, em vez de retirar todos eles, é injetado um produto radioativo em volta do tumor. A investigação é feita com o uso de um aparelho ultrassensível de última geração, o gamma probe, capaz de detectar radioatividade com grande acurácia e sensibilidade.

"Através dele, detecta-se o primeiro gânglio (linfonodo) – o linfonodo-sentinela, que recebe esse nome porque é justamente o guardião, no pescoço. Se ele tiver contaminado com células malignas, a chance dos demais serem malignos é maior. Mas isso só ocorre em 20% dos casos”, informa o cirurgião.

Se ele estiver livre de doença, as chances dos demais estarem contaminados com células malignas são irrisórias. Retira-se o gânglio e faz-se uma análise minuciosa mediante biópsia, eliminando-se a necessidade de tratamentos adicionais no pescoço.

O benefício dessa técnica é que, ao invés de o cirurgião remexer todo o pescoço para a remoção dos gânglios, ele retira somente o sentinela. Abrevia-se o tratamento, diminui-se a extensão da cirurgia e não é preciso dissecar os nervos do pescoço.

No tratamento clássico, é feito um corte de grandes proporções no pescoço para retirar esses gânglios. “No lugar de tirar 50 gânglios do pescoço e ter que mexer com nervos, veias, extraímos apenas um pela técnica de linfonodo-sentinela”, conta o cirurgião. É efetuado um pequeno corte, de no máximo 5 cm.

Cerca de 30% dos pacientes que fazem a cirurgia tradicional podem sofrer dores no ombro e dificuldade para movimentar o braço, por causa da manipulação dos nervos. “O sentinela, sendo retirado, resolve o problema em 80% dos casos, com menos agressividade, e o paciente entra em alta no dia seguinte”, garante Chone. “Anteriormente, além da cirurgia ser extensa, exigia uso de dreno e um maior tempo de internação.”

O tratamento de linfonodo-sentinela já é um procedimento padrão na Europa para avaliar metástases regionais do pescoço. No Brasil, só é praticado pela Unicamp, pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e pelo Hospital do Câncer de Barretos, SP, de forma institucionalizada.

O câncer de boca, na região de cabeça e pescoço, é o mais incidente no Brasil, onde são encontrados 17 mil casos novos por ano. Na região de Campinas, é o segundo, atrás somente do câncer de próstata. Em outras regiões, situa-se em quarto ou quinto lugar”, acentua. A taxa de cura está relacionada ao diagnóstico precoce, em torno de 80% a 90% dos casos iniciais.

São fatores de risco para esse tipo de câncer o cigarro e a bebida. Hoje, a proporção é algo em torno de dois homens para 1 mulher acometida pela doença. Na década de 1960, essa proporção chegou a incidir em sete homens para uma mulher. Mas, como as mulheres estão fumando mais atualmente, o cigarro é um fator de risco significativo também para essa população.

Essa patologia pode ser notada através de lesão, alteração persistente ou então pela sensação de que a pessoa tem algo incomodando dentro da boca, quando bebe ou fuma. Essas alterações aparecem mais na língua e, se não somem após 15 dias, devem ser estudadas por otorrinolaringologista, cirurgião de cabeça e pescoço ou dentista.

Imagem de capa
Carlos Chone, otorrinolaringologista e cirurgião de cabeça e pescoço

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