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Medalhas para um mundo mais justo

De norte a sul, participantes da 10ª Olimpíada em História enfatizam o coletivo como maior prêmio

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Foto: Reprodução “Eles picham os muros, nós pichamos um mundo de esperanças.” Esta frase fez parte do discurso do professor pernambucano Ivan Lima, vindo de Recife, antes da distribuição de medalhas no encerramento da 10ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB10), realizada pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, dias 18 e 19 de agosto, no Ginásio Multidisciplinar da Universidade. Escolhido para discursar em nome dos professores orientadores, ele enfatizou a importância do evento para reflexão sobre como agir diante de dificuldades, principalmente na área de humanas. “A Olimpíada tem sido essencial para refletirmos sobre essas situações. Em outras edições, ela nos fortaleceu na questão da escola sem partido, do racismo 2015”, exprime, emocionado, o orientador de 26 equipes de Pernambuco na 10ª ONHB.

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A mesa de abertura da 10ª Olimpíada Nacional em História do Brasil

Lima é um dos muitos orientadores que não medem distância nem calculam tempo para promover a participação de alunos de escolas públicas e particulares na ONHB. Para muitos, participar da olimpíada é desafiar o dia e a noite, combinando a preparação para as etapas com o cumprimento das outras disciplinas regulares do ano letivo. Alguns atravessam o rio a bordo de um barco por quase 12 horas para chegar ao aeroporto e desembarcar em Viracopos (Campinas), exauridos de cansaço, mas cheios de expectativas. “Sempre passei dificuldade para conseguir recursos. Não é fácil conseguir R$ 18 mil reais para trazer um grupo em dois meses. Muitos falam que vão ajudar e não ajudam.” Mas ao carregar 12 medalhas no pescoço, Lima, que se despede da ONHB para usufruir de uma bolsa de estudos no exterior, garante que vale a pena. “Quantas realidades encontramos às vésperas das provas? Estas medalhas representam o esforço de todos estes alunos da olimpíada.”

“O que está em jogo é a educação”, defendida numa troca de informações sábia, na opinião do professor José Cleber Uchoa Gomes, do Ceará. “Nós nos ajudamos mutuamente.” A amizade que dura quase dez anos entre os orientadores é transmitida aos estudantes. “É muito bom estar aqui neste ambiente que não é de competição, mas sim de festa, e ver que este tanto de jovens está lutando para melhorar o Brasil”, diz Juliana Ribeiro, do Colégio Master, de Fortaleza (CE). Apesar de ficarem a uma linha de concluir a redação no tempo estipulado, ela e sua equipe garantem que a magia está em participar. “É algo maravilhoso estar aqui e saber que houve uma escola toda envolvida. Mesmo aqui na Unicamp, todos de Fortaleza estão juntos, um torcendo pelo outro. Bem que me disseram que só vindo à ONHB para saber como é. No começo eu não acreditava, mas vejo que é uma sensação única”, reforça Hannah Lima.  Para ela, é importante que mais jovens se envolvam em eventos como a olimpíada. “Do jeito que o País está atualmente ­ – tudo o que está acontecendo – é muito importante que os jovens saibam ter uma atuação política boa, conheçam nossa realidade. A ONHB ensinou muitas coisas que não sabíamos e foi muito importante para desenvolvermos um pensamento melhor”, acrescenta.

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O professor Ivan Lima, vindo de Recife

Medalha de prata pela primeira vez, o Instituto Federal da Bahia tem retorno garantido nas próximas edições, de acordo com a professora Ivaneide Silva. “É muito importante estarmos aqui hoje, no ano 2018, falando de história do Brasil com estudantes e professores de todo o País e reforçar a reflexão sobre a história brasileira em todos os seus tempos”.

Tempos difíceis da história, como lembra o discurso de Lima e seus amigos professores, mas que com iniciativa como a ONHB, podem ser melhores, afinal, de acordo com as palavras do orador: “Nunca desistiremos de nossos alunos”.

E como desistir ao ouvir a declaração e enxugar as lágrimas de felicidade de Everton Holanda, aluno de ensino médio da escola pública Liceu Conjunto Fortaleza?. “Ser medalhista é saber que acordamos muitas vezes cedo e voltamos pra casa muito tarde, mas saber que aquele cansaço se transformou em felicidade, uma ocorrência eventual, mas que ficará para sempre em nossa memória. Esta vitória é da escola pública.”

Memória de dez anos de caminhada, com melhorias e inserção de participantes medalhistas em cursos de graduação e de orientadores na pós-graduação, segundo a coordenadora da ONHB Cristina Meneguello. Projeto de extensão do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, além de mobilizar mais de 50 mil pessoas em torno do ensino de história, desperta nos professores a vontade de voltar a estudar. “Alguns estudaram em suas dissertações e teses a própria olimpíada. Ela tem um poder de reencantamento com a aprendizagem.”


Decênio

A ONHB foi criada em 2008 pelo Departamento de História do IFCH e pelo Museu de Ciências da Unicamp, com participação de professores e alunos. Desde então, proporciona a escolares de oitavo e nono anos do ensino fundamental e de todo o ensino médio a oportunidade de estudar história a partir da análise de documentos aos quais talvez não tivessem acesso sem a participação no evento. Um conjunto de textos, imagens, mapas, conteúdo acadêmico, pesquisas inéditas e debates auxilia na preparação para a final, que reúne mais de mil alunos.

A ideia inicial era aproveitar a interação do Museu com a sociedade para, além de divulgar a produção acadêmica em história do Brasil, estabelecer uma relação entre a Universidade e os ensinos fundamental e médio. “Este é um dos aspectos da Olimpíada de História. E outro aspecto é que, apesar de ser uma competição, que tenta quebrar os princípios negativos da competitividade”, corroborando as impressões dos participantes.

O impacto da décima edição era inimaginável, mas Cristina e a equipe organizadora se dizem satisfeitas por tocar tantas pessoas de lugares distantes para desenvolver relações de afeto e respeito. O retorno da oficina, segundo Cristina, fornece informações reais do que é o ensino e aprendizagem no Brasil.

De acordo com o pró-reitor de Extensão e Cultura da Unicamp, Fernando Hashimoto, professor do Departamento de Música do Instituto de Artes, a ONHB é um dos projetos que mais envolvem pessoas. “Trazer estes alunos para cá e conhecer suas necessidades transforma nossos cursos de história”, declara o pró-reitor.

Num momento em que a Universidade amplia as oportunidades de ingresso, a olimpíada contribui para mostrar à sociedade a importância que a Unicamp tem para buscar seus estudantes, na opinião do coordenador do Vestibular da Unicamp (Comvest) e professor do Departamento de História do IFCH, José Alves Neto.

Para a coordenadora de graduação do curso de História IFCH, Lucilene Reginaldo, é uma satisfação ver o Brasil amplamente representado no Ginásio da Unicamp. “É impressionante para a história do IFCH e do departamento. Quero agradecer a todos, estudantes, professores e coordenadores do evento, pelo empenho na construção e no avanço dos debates em torno do ensino de história do Brasil, sobretudo, vinculando isso a algo fundamental que é o lugar do ensino de história na construção da cidadania.”

A pró-reitora de Graduação da Unicamp, Eliana Amaral, enfatizou a capacidade da ONHB de valorizar o ensino de história e, além disso, fazer com que ela seja pensada de forma crítica para que seja usada para mudar o mundo. Ela acrescenta que o projeto é um processo de aprendizagem dos próprios alunos da Unicamp, pois os envolve da graduação à pós, já que a  participação em projetos de extensão é aberta a bolsistas. A pró-reitora parabenizou a equipe, pelos dez anos de realização do projeto, e também aos professores orientadores e aos escolares. “Parabenizo o esforço de professores de trazer alunos e fazerem suas equipes avançarem neste processo para participar disso que na verdade é uma festa, e aos alunos que dedicam e fazem do aprender uma forma de prazer. Venham para a Unicamp. Precisamos de pessoas como vocês.”

Como colaborador na organização das primeiras edições, Alves Neto reforça o fato de ter participantes do evento no programa de mestrado da Unicamp e outros valorizando o ensino de história num momento em que falar da área no Brasil, “curiosamente, tem sido um exercício de resistência. Então, vocês nos ajudam a resistir com o campo da área de história”.

E a resistência foi a principal recomendação de Ivan Lima, ao dizer até logo para OBHB. “Queria dizer que a gente vai continuar resistindo. Pediam para dar aula e voltar para a casa, mas eu nunca dei só aulas, vocês nunca deram só aula; vocês entregavam o coração a cada uma dessas aulas. Como diria o poeta Ednardo, ‘eles são muitos mas não podem voar.’  Nós voamos todo dia.”

Daniel Florence, professor de história no Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora e no colégio Educap, de Campinas, também manifestou a importância de resistir. “Estas duas medalhas representam a resistência.”

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Daniel Florence, professor de história no Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora

Chegar aos dez anos, de acordo com o discurso de Cristina antes de anunciar os medalhistas, é contar com a dedicação dos professores, entre eles Marcelo Firer, e com o trabalho de uma equipe dedicada, especialmente de Leca Pedro, professora do IFCH. Ao ver o resultado, Cristina ressaltou o slogan da edição comemorativa: “Todos juntos somos fortes.”


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Público no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp, onde foi realizada a décima edição da  Olimpíada Nacional em História do Brasil | Imagem: Reprodução

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