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Pasolini debatido nos trópicos

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Coletânea permite visão panorâmica de como pensador e artista italiano é lido no Brasil

Pier Paolo Pasolini: segundo as organizadoras, cineasta não ofereceu respostas fáceis para problemas difíceis

 

Organizado por Cláudia Tavares Alves e Maria Betânia Amoroso, o livro Um intelectual na urgência: Pasolini lido no Brasil foi produzido em regime de coedição entre a Editora da Unicamp e a Editora Unesp. A obra reúne 17 ensaios críticos, sendo que, além daqueles que foram redigidos justamente para esta publicação, somam-se outros textos que foram escritos durante o longo percurso de recepção do pensamento pasolinia- no em solo brasileiro.

Da literatura para o cinema, da filosofia para a linguística, o intelectual italiano atravessou vários campos das Humanidades, buscando relações e dinâmicas sociais alternativas ao modelo capitalista então em voga.

Jornal da Unicamp – Como surgiu a ideia do livro e como foi o processo de escolha dos textos que integram a antologia?

Organizadoras – Começamos a imaginar essa coletânea no início de 2021, já pensando no centenário de nascimento de Pier Paolo Pasolini, que seria comemorado em 2022, mas também animadas pelo reconhecimento da importância dos estudos que vêm sendo pro- duzidos sobre o cineasta no Brasil. O livro procurou sintetizar, nesse sentido, dois conjuntos de textos: aqueles que já haviam sido publicados anteriormente, e que nós consideramos fundamentais para pensar a circulação de Pasolini no Brasil, e aqueles que foram escritos especialmente por colaboradores convidados a refletir sobre sua relação com a obra pasoliniana.

O resultado da integração desses textos é uma visão panorâmica de como Pasolini vem sendo lido por aqui nas últimas décadas, levando em consideração diferentes gerações de pesquisadores e pensadores e diversas abordagens.

JU Por que incluir nessa obra os ensaios de Ruggero Jacobbi e Alfredo Bosi, publicados originalmente nos anos 1960?

Organizadoras – Como dissemos, parte da ideia do livro era, também, retomar momentos fundamentais da crítica que vem sendo produzida sobre Pasolini no Brasil ao longo das últimas décadas. Os textos de Ruggero Jacobbi e Alfredo Bosi, publicados pela primeira vez em 1960 e 1967, respectivamente, marcaram a recepção de Pasolini no Brasil por estarem entre as primeiras ocasiões em que o nome do escritor circulou no país.

Além disso, esses textos, que saíram originalmente no jornal O Estado de S. Paulo, foram escritos enquanto Pasolini ainda estava vivo, o que nos permite acessar uma reflexão sobre sua obra que é anterior ao seu assassinato, ocorrido em 1975, um fato que certamente marcou a maneira como o autor passou a ser lido desde então. 

JU – Como o legado de Pasolini pode ser útil nos dias de hoje, considerando a ascensão do neofascismo?

Organizadoras – Talvez o grande mérito de Pasolini seja o de não oferecer respostas fáceis para problemas difíceis. A situação do Brasil nestas duas últimas décadas poderia ser vista e analisada à luz do pensamento pasoliniano, considerando suas ideias sobre modernização, neocapitalismo e as consequentes violências que surgem daí, mas, ainda assim, seria preciso olhar com atenção para as particularidades históricas e culturais da Itália e do Brasil e também para as novas complexidades do mundo contemporâneo, que não são as mesmas dos anos 1960 e 1970. Por isso, arriscamos dizer que o maior legado de Pasolini para nós, hoje, seria o de nos provocar reflexões, gerar incômodos, não ceder à armadilhadas posições preestabelecidas e convenientes, levando assim a um gesto crítico que tenha ao mesmo tempo rigor e coragem. A força da produção de Pasolini, para além de uma ética incorruptível, parece ser esse movimento incessante da literatura para o cinema, da poesia para o romance, do cinema para a crítica em jornal sempre em busca de novas perspectivas e novas formas de pensar a realidade.

JU – Para além do âmbito acadêmico, existe no Brasil uma receptividade pública da ideologia e das obras artísticas de Pasolini? Como essa coletânea pode colaborar nesse processo?

Organizadoras – Pasolini chega ao Brasil, na década de 1960, principalmente como cineasta, e passa a circular aqui como escritor nas décadas seguintes. Para além disso, já há alguns anos, sua figura vem despertando interesse entre várias categorias de leitores, como críticos de arte, jornalistas e também de artistas das mais diversas áreas, entre os quais escritores, profissionais de teatro e cinema.

Isso para dizer que Pasolini não chega ao Brasil só por meio dos estudos acadêmicos nem se reduz apenas a esse ambiente. Como a coletânea busca dar conta, em alguma medida, das múltiplas facetas da produção pasoliniana, ela poderá servir como uma espécie de in- trodução às nuances do pensamento do autor a todo e qualquer público que se interesse por seu trabalho. A leitura do livro é, antes de mais nada, um convite às provocações que seu pensamento poderá gerar a quem tiver disposição para isso.

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Título: Um intelectual na urgência: Pasolini lido no Brasil

Organizadoras: : Maria Betânia Amoroso e Cláudia Tavares Alves

Páginas: 296

Formato: 16 x 23 cm

Editora da Unicamp

 

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