O Bilontra

 

 
 
QUADRO I
 
CENA VII

 

OS MESMOS, a OCIOSIDADE

 

OCIOSIDADE – Deixa-o ir... não te arrependerás... Eu te salvarei!

FAUSTINO – Cáspite. Falem-me disto! Contigo irei até o inferno... logo que saiba quem és e o que desejas.

OCIOSIDADE – Eu sou a Ociosidade!(A cena fica repentinamente escura).

TRABALHO – A mãe de todos os vícios!

OCIOSIDADE – E de todos os prazeres!

TRABALHO – Ao passo que eu sou o pai de todas as virtudes!

OCIOSIDADE – E  de todas as sensaborias.

FAUSTINO – Safa! que tendes ambos a bossa paterna muito desenvolvida!

OCIOSIDADE – Ouve...

 

Coplas

 

É por intriga,

Por balda antiga,

Que me fustiga

Este grande ratão!

Não me perdoa,

Mas me magoa,

Me amaldiçoa,

Não sei por que razão.

Quem passa a vida

De perna alçada,

Sem fazer nada,

Há de ser bem feliz,

Pois é negócio,

Neste país,

Viver entregue ao santo ócio!

(Declamando) Assim pois...

Faustino, vem comigo já!

O que eu te dou ninguém te dá,

Nem te dará!

 

TRABALHO – Agora eu, minha rica senhora...

 

II

Nesta batalha

Quem não trabalha

Nem a mortalha

Ao menos pode obter;

É condenado,

É reprovado,

Vituperado:

Só lhe resta morrer!

Foge ao perigo!

Se vens comigo,

Se és meu amigo,

Inda será feliz!

Não é negócio,

Neste país,

Viver entregue ao santo ócio!

(Declamando.)

Por conseguinte...

Faustino, vem comigo já!

O que eu te dou, ninguém te dá,

Nem te dará!

AMBOS –                         Faustino, vem comigo já! etc.

 

FAUSTINO ( À Ociosidade) – Decido-me por ti, que és bela!

OCIOSIDADE – Vamos...

FAUSTINO – Aonde?

OCIOSIDADE – Ao Reino do Jogo! (Sai, levando Faustino)

TRABALHO – Insensato! tudo farei para salvar-te! ( Sai. Mutação)

 

Cena Anterior           Próxima Cena