III Multilaterales Kant-Kolloquium,

Kant-Forschungstelle, Mainz; Kant-Gesellschaft e. V.

Erbacher Hof, Mainz, Alemanha, 10 a 13 de outubro de 2011

 

Causality, Antinomies and Kant’s Way to the Critique

José Oscar de Almeida Marques

Abstract:

         According to the Prolegomena, Kant was awakened from his “dogmatic slumber” not once but twice. In the Preface, he referred to the impact that Hume’s criticism of the notion of cause and effect had in his metaphysical investigations, and to how he was led to generalize Hume’s problem about causality, developing and solving it in its fullest extent in the Critique of Pure Reason. On the other hand, in the Third Part of the Main Transcendental Question, in a passage that is corroborated in the Critique and in a letter to Garve, he credited his awakening to the discovery of the Antinomies as a product of reason in its transcendent use. These two accounts have traditionally led to two mutually exclusive explanations of the origin of Kant’s critical philosophy, one that places great importance on Hume’s influence, and other in which this influence is seen as minimal or even non-existent. Thirty years ago, however, Manfred Kuehn, in his paper “Kant’s Conception of ‘Hume’s Problem’”, proposed not only that one should not treat this question as demanding a strict “either-or” answer, but, more boldly, that the contribution of Hume was decisive in both issues, and that “the problem of the Antinomies is just another aspect of the problem of Hume” (p. 187). Kuehn is able to locate the very source in which these two themes (namely, the role of imagination in our causal beliefs and the contradiction that arises from two natural and necessary operations of the human mind) appear associated in Hume’s exposition: in the Conclusion of Book I of the Treatise, which Kant read in 1771 in Hamann’s translation, and which, for Kuehn, was what most disturbed Kant in his slumber and finally woke him.

         Although Kuehn’s proposal is very well argued and represents a major contribution to the study of Hume’s influence in the origin of Kant’s critical philosophy, it depends, in my view, on two crucial assumptions that I intend to discuss in my presentation. The first is that, contrarily to what is commonly accepted, Kant would not have discovered the Antinomies before 1769, but only proved some propositions and their opposites, whereas, for Kuehn, an antinomy in the proper sense must involve a contradiction among laws of reason itself. The second is that Hume, for his part, would have grasped a proper concept of antinomy when he described an unavoidable contradiction between natural principles of the human mind; and thus, Kant’s antinomy of reason would have been modeled on Hume’s “antinomy of imagination”. I will argue that both these assumptions are debatable. Concerning the first, one could say not only that Kant had already made the essential discovery of the antinomies before 1771, but also that he had even presented a solution for them by means of the discovery of transcendental idealism in this Dissertation of 1770. Concerning the second, although Hume does indeed mention a contradiction in the operations of imagination in the Conclusion of Book I of the Treatise, he by no means explains there how this contradiction arises, and the passages in the book that could be related to it (e.g. 1.4.4.15) are quite enigmatic to say the least. Therefore, it is not much plausible that Kant would be so provoked by the bare unexplained mention of such a contradiction, nor that he would have discovered there something that he could not have already learned through his much earlier reading of the Enquiry on Human Understanding, section 12, where Hume details how clear and distinct ideas may contain contradictory circumstances in relation to themselves or to other clear and distinct ideas, leading reason to skepticism. Finally, I will tentatively propose that these two subjects – the antinomies and the origin of the concept of cause and effect – have in fact a complementary role in Kant’s critical development, but not, as Kuehn believes, as two aspects of the same problem that acted as a single trigger, but as distinct questions that gave rise, each, to a distinct stage in the long way that led to the Critique of Pure Reason.

 

 

Causalidade, Antinomias e o caminho de Kant para a Crítica

José Oscar de Almeida Marques

Resumo:

         De acordo com o Prolegômenos, Kant foi despertado de seu “sono dogmático” não uma, mas duas vezes. No Prefácio, ele se refere ao impacto que a crítica de Hume à noção de causa e efeito teve em suas investigações metafísicas, e como foi levado a generalizar o problema de Hume sobre a causalidade, desenvolvendo-o e resolvendo-o em sua máxima extensão na Crítica da Razão Pura. Por outro lado, na Terceira Parte da Questão Transcendental Principal, em uma passagem que é corroborada pela Crítica e por uma carta a Garve, ele creditou seu despertar à descoberta das antinomias como  produto da razão em seu uso transcendente. Estes dois relatos têm levado, tradicionalmente, a duas explicações mutuamente exclusivas da origem da filosofia crítica de Kant, uma que atribui uma grande importância à influência de Hume, e outra em que essa influência é considerada mínima ou mesmo inexistente. Trinta anos atrás, no entanto, Manfred Kuehn, em seu artigo “Kant’s Conception of ‘Hume’s Problem’”, propôs não só que não se deve tratar essa questão como pedindo um rigoroso “ou isto ou aquilo” como resposta, mas, com mais ousadia, que a contribuição de Hume foi decisiva para ambos os tópicos, e que “o problema das antinomias é apenas outro aspecto do problema de Hume” (p. 187). Kuehn é capaz de localizar a fonte em que esses dois temas (o papel da imaginação em nossas crenças causais e a contradição que surge entre duas operações necessárias e naturais da mente humana) aparecem associados na exposição de Hume: na Conclusão do Livro I do Tratado, que Kant leu em 1771 na tradução de Hamann, e que, para Kuehn, foi o que mais perturbou Kant em seu sono e, finalmente, despertou-o.

         Apesar de a proposta de Kuehn estar muito bem fundamentada e representar uma importante contribuição para o estudo da influência de Hume na origem da filosofia crítica de Kant, ela depende, a meu ver, de dois pressupostos fundamentais que pretendo discutir na minha apresentação. O primeiro é que, ao contrário do que é comumente aceito, Kant não teria descoberto as antinomias antes de 1769, mas apenas provado algumas proposições e seus opostos, ao passo que, para Kuehn, uma antinomia em sentido próprio deve envolver uma contradição entre as próprias leis da razão. O segundo é que Hume, por sua vez, teria apreendido um conceito próprio de antinomia, quando descreveu uma contradição inevitável entre os princípios naturais da mente humana, e, assim, a antinomia da razão de Kant teria sido modelada na “antinomia da imaginação” de Hume. Vou argumentar que esses dois pressupostos são questionáveis. Quanto ao primeiro, pode-se dizer não apenas que Kant já tinha feito a descoberta essencial sobre as antinomias antes de 1771, mas até mesmo apresentado a solução para elas pela descoberta do idealismo transcendental na Dissertação de 1770. Quanto ao segundo, apesar de Hume, de fato, mencionar uma contradição nas operações da imaginação na Conclusão do Livro I do Tratado, ele não explica lá de modo algum como esta contradição surge, e as passagens do livro que podem estar relacionadas a isto (1.4.4.15, por exemplo) são bastante enigmáticas, para dizer o mínimo. Portanto, não é muito plausível que Kant tivesse sido tão provocado pela simples menção não explicada de tal contradição, nem que tivesse descoberto aí alguma coisa que já não pudesse ter aprendido em sua leitura muito anterior da Investigação sobre o entendimento humano, seção 12, em que Hume detalha como idéias claras e distintas podem conter circunstâncias contraditórias com relação a si mesmas ou a outras idéias claras e distintas, levando a razão ao ceticismo. Finalmente, vou tentativamente propor que esses dois temas – as antinomias e a origem do conceito de causa e efeito – têm, de fato, um papel complementar no desenvolvimento crítico de Kant, mas não, como Kuehn acredita, como dois aspectos de um mesmo problema que teriam atuado como um único gatilho, mas como diferentes questões que deram origem, cada uma delas, a uma etapa distinta no longo caminho que levou à Crítica da Razão Pura.

 

 

Kausalität, Antinomien und Kants Weg zur Kritik

José Oscar de Almeida Marques

Zusammenfassung:

         Den Prolegomena gemäß, ist Kant nicht ein, sondern zwei Mal aus seinem „dogmatischen Schlummer“ erwacht. Im Vorwort weist er auf die Auswirkungen hin, die Humes Kritik auf den Begriff von Ursache und Wirkung auf seine metaphysischen Ermittlungen hatte, und wie er dazu kam, Humes Problem der Kausalität zu verallgemeinern, indem er es in der Kritik der reinen Vernunft in seinem vollen Umfang entwickelte und löste. Andererseits schrieb Kant im Dritten Teil der Transzendentalen Hauptfrage, in einer Passage, die in der Kritik bzw. einem Brief an Garve bestätigt wird, sein „Erwachen“ der Entdeckung der Antinomien als Produkt der Vernunft in ihrer transzendenten Verwendung zu. Diese beiden Aussagen haben traditionell zu zwei sich gegenseitig ausschließenden Erklärungen für den Ursprung der kritischen Philosophie Kants geführt, nämlich eine, die dem Einfluss Humes große Bedeutung zuspricht, und eine andere, die diesen Einfluss als gering oder sogar als nicht vorhanden ansieht. Vor dreißig Jahren aber schlug Manfred Kuehn in seinem Vortrag „Kant’s Conception of ‘Hume’s Problem’“ nicht nur vor, man solle diese Frage nicht behandeln, als wäre eine strikte „Entweder-Oder“-Antwort zu erwarten, sondern er behauptet, was noch kühner ist, dass der Beitrag von Hume in beiden Fragen entscheidend war und dass „das Problem der Antinomien nur ein weiterer Aspekt von Humes Problem ist“ (S. 187). Kuehn ist in der Lage, die tatsächliche Quelle ausfindig zu machen, in der diese beiden Themen (nämlich die Rolle der Einbildungskraft in unseren kausalen Überzeugungen und der Widerspruch, der aus zwei natürlichen und notwendigen Operationen des menschlichen Geistes entsteht) in Humes Darlegung mit einander verbunden erscheinen: in der Schlussfolgerung des Buches I des Treatise, die Kant 1771 in Hamanns Übersetzung gelesen hat, und die, nach Kuehn das war, was Kant in seinem Schlummer am meisten gestört und schließlich geweckt hat.

         Obwohl Kuehns Vorschlag sehr gut begründet ist und einen wichtigen Beitrag zur Erforschung von Humes Einfluss auf die Entstehung der kritischen Philosophie Kants bedeutet, beruht er, meiner Ansicht nach, auf zwei Hauptannahmen, die ich in meinem Vortrag zu diskutieren beabsichtige. Die erste ist, dass, im Gegensatz zu dem, was allgemein akzeptiert wird, Kant vor dem Jahre 1769 die Antinomien nicht entdeckt, sondern lediglich einige Sätze und ihre Gegensätze bewiesen hat, während, für Kuehn, eine Antinomie im eigentlichen Sinne einen Widerspruch zwischen Gesetzen der Vernunft selbst beinhalten müsse. Die zweite ist, dass Hume, seinerseits, ein richtiges Konzept von Antinomie begriffen haben könnte, als er einen unvermeidlichen Widerspruch zwischen natürlichen Prinzipien des menschlichen Verstandes beschrieb –also wäre Kants Antinomie der Vernunft nach Humes „Antinomie der Einbildungskraft“ modelliert worden. Mein Argument ist, dass diese beiden Annahmen bestreitbar sind. Was die erste betrifft, könnte man argumentieren, dass Kant nicht nur vor 1771 bereits die wesentliche Entdeckung der Antinomien gemacht hatte, sondern auch schon eine Lösung für sie anhand der Entdeckung des transzendentalen Idealismus in seiner Dissertatio von 1770 gefunden hatte. Was die zweite betrifft, erklärt Hume in der Schlussfolgerung des Buches I des Treatise, wo er in der Tat einen Widerspruch in den Operationen der Einbildungskraft benennt, keineswegs, wie dieser Widerspruch entsteht, und die Passagen in dem Buch, die mit ihm in Verbindung stehen könnten (z.B. 1.4.4.15) sind, gelinde gesagt, ziemlich rätselhaft. Daher ist es wenig plausibel, dass Kant durch die bloße Erwähnung eines solchen ungeklärten Widerspruchs derart provoziert worden wäre und an dieser Stelle etwas entdeckt haben könnte, was er nicht bereits durch seine viel frühere Lektüre der Enquiry on Human Understanding, §12, erfahren hatte, wo Hume detailliert ausführt, wie klare und deutliche Ideen widersprüchliche Umstände in Bezug auf sich selbst oder auf andere klare und deutliche Ideen enthalten können, was die Vernunft zur Skepsis führt. Schließlich werde ich versuchsweise vorschlagen, dass diese beiden Themen – die Antinomien und der Ursprung des Begriffs von Ursache und Wirkung – tatsächlich eine ergänzende Rolle in Kants kritischer Entwicklung haben, nicht aber, wie Kuehn glaubt, als zwei Aspekte desselben Problems, die als ein einziger Auslöser fungierten, sondern als verschiedene Fragen, die jeweils Anlass gaben zu einer verschiedenen Stufe in dem langen Weg, der zur Kritik der reinen Vernunft führte.