VI Colóquio Rousseau, Pirenópolis, 6 a 10 de junho de 2013

Rousseau e quatro histórias de desnaturação

José Oscar de Almeida Marques
Departamento de Filosofia - UNICAMP


RESUMO

O processo de desnaturação (isto é, passagem de um estado original, pré-social para o estado de sociedade) é um tema central do pensamento de Rousseau, se não mesmo o eixo que articula e dá coerência a todo seu sistema filosófico. Rousseau expõe os mecanismos envolvidos nesse processo e identifica seus resultados para uma variedade de protagonistas e circunstâncias. A desnaturação pode ter como objetos um indivíduo, um grupo humano ou mesmo toda a espécie; ela pode ocorrer de forma espontânea e desordenada ou ser conduzida por meio de um controle estrito; ela pode, por fim, ser meramente descrita como fato histórico e empírico ou revestir-se de um caráter normativo. Neste trabalho pretendo percorrer todos esses aspectos através do exame de quatro obras que contêm, essencialmente, histórias de desnaturação: o Segundo Discurso, o Contrato Social, o Emílio e as Confissões. Assim, o Segundo Discurso conta a história do progressivo afastamento de nossa espécie de seu estado natural, e as Confissões acompanham essa desnaturação na história de um indivíduo. Em paralelo a esses relatos, que se poderia chamar "empíricos", uma perspectiva abstrata e normativa é apresentada pelo Contrato social, que procura as formas pelas quais, pelo artifício, os males decorrentes desse afastamento da natureza poderiam ser minimizados na vida em sociedade, e pelo Emílio, que desenvolve o projeto análogo de uma desnaturalização controlada capaz de preservar a sanidade de um indivíduo em uma sociedade corrompida. Um importante resultado que pretendo alcançar é mostrar como essas obras se completam e formam, em conjunto, um panorama geral e unificado da filosofia de Rousseau.



Rousseau and four stories of denaturation

Jose Oscar Marques de Almeida
Department of Philosophy - UNICAMP


ABSTRACT
The denaturation process (i.e., the passage form an original, pre-social state to the state of society) is a central theme in Rousseau's thought, if not the very axis that articulates and gives coherence to the whole of his philosophical system. Rousseau sets out the mechanisms involved in this process and identifies its results for a variety of actors and circumstances. Denaturation may have as objects an individual, a group or even the entire human species, it can occur spontaneously and disorderly or be conducted through a strict control, it can finally be described merely as historical and empirical fact or assume a normative character. In this presentation I intend to go through all these aspects by examining four works that essentially contain stories of denaturation: the Second Discourse, the Social Contract, Emile and the Confessions. Thus, the Second Discourse tells the story of the gradual separation of our species from its natural state, and the Confessions reproduce this denaturation in the history of an individual. In parallel to these accounts, which could be called "empirical", an abstract and normative perspective is presented by the Social Contract, which seeks the ways in which, by artifice, the evils resulting from the coming out of the state of nature could be minimized in society, and by Emile, which developed the project of an analog controlled denaturation able to preserve the sanity of an individual in a corrupt society. An important outcome I want to achieve is to show how these works complement each other and together form a unified overview of Rousseau's philosophy.

TABLE:
 
Group

Individual
Historical/Empirical
2º Discourse
Jean-Jacques (Confessions)
Abstract/Normative  
Social Contract
Emile