Depoimento de Plínio Mello

1 - Onde e quando o Sr. nasceu?

Nasci em Cruz Alta (R.G.S.) em 21 de junho de 1900.

2 - Como surgiu a idéia da revista Mocidade?

Fazer uma revista naquela época na condição de estudante era muito difícil. Precisava antes de mais nada formar um grupo com condições financeiras. Cheguei em São Paulo com o propósito de constituir um grupo para lutar pela renovação dos costumes políticos dominantes no país. Inclusive com o objetivo de apreciar os problemas nacionais que se apresentavam. Para fundar a revista tive de lançar mão de recursos pessoais, inclusive montar uma oficina gráfica.

3 - Quais os outros companheiros que participaram da fundação da revista?

Transferido de Porto Alegre para São Paulo, procurei o apoio dos colegas de direito nas reuniões do Centro Acadêmico I I de Agosto. Contei desde o início com a colaboração constante de dois amigos: Dimas de Oliveira César e Oscar Pedroso Horta.

4 - E os colaboradores?

Na verdade, colaboração propriamente dita de colegas, consegui muito poucas. No I.0 número, aparece Otávio Castelo Branco, colega de turma que demonstrava ter uma visão mais realista dos problemas, inclusive defendia um conceito mais moderno de democracia que deveria servir de norma de conduta para as novas gerações. Ainda neste número há a colaboração "Renovação da raça brasileira" de Paulo Godoy, estudante de medicina. No número 3, outro estudante, Múrcio de Campos Maia com "Socialismo e Psicologia", também colega de turma, falecido recentemente. Colabora, também, outro estudante de medicina, José de Almeida Camargo que escreveu sobre "Freud e a Psicanálise", deputado na Constituinte de 34. Era líder na sua Faculdade.

5 - Havia algum lugar determinado para reuniões, para discutir problemas ligados à revista?

Os nossos encontros se realizavam principalmente na Faculdade e não eram encontros formais de redação. Não havia naquela época um espírito de organização de pesquisa. Por isso o meu trabalho se tornou muito individualizado.

6 - Como eram obtidas as colaborações para a revista?

Fiquei um ano no Rio, antes de vir definitivamente para São Paulo. E lá entrei em contato com Oliveira Vianna, Professor em Niterói, na Faculdade de Direito que me deu uma orientação segura a respeito dos estudos de Sociologia. Procurei o Graça Aranha, na época era um dos líderes do movimento modernista.

7 - Até quando a revista circulou? Quantos números?

Sinceramente, não me lembro. Cheguei a publicar um quarto número.

8 - Quem era o autor das ilustrações?

As ilustrações da revista foram feitas pelo Paim, conhecido ilustrador que havia em São Paulo. Famoso pelas suas ilustrações nos livros dos autores modernistas.

9 - Qual o sistema de circulação de revista? tiragem?

Não me lembro mais. A distribuição era feita pelo gerente Dimas Oliveira César. E foi distribuída mais entre os estudantes de Direito.

10 - Onde era a redação?

Na rua São Bento n.o 4B., no escritório do Professor Noel Azevedo. Embaixo funcionava a Livraria Moderna.

11 - Na revista não aparece nenhuma propaganda. Ela era financiada inteiramente pelo Sr.?

Sim. Infelizmente; e isto contribuiu para o seu rápido desaparecimento.

12 - Quais as suas preferências literárias?

A época em que me liguei mais à literatura foi em Porto Alegre. Escrevi um livro de poesias de tipo penumbrista influenciado por Ribeiro Couto, Raul de Leoni, Guilherme de Almeida. Participei de um movimento literário no Rio Grande do Sul de onde saíram nomes como Augusto Meyer, Raul Bopp e outros.

13 - Quais as suas ligações com o Graça Aranha?

Tive com ele somente uns três encontros na Livraria Garnier no Rio de Janeiro, antes de fundar a revista Mocidade. Já tinha lido os seus livros e achava que ele tinha uma visão moderna dos problemas brasileiros.

14 - E Plínio Salgado?

Com Plínio Salgado tive maior intimidade, inclusive fomos amigos até ele se tornar integralista quando começamos a entrar em campos opostos e pensar diferente. Morava numa pensão de um amigo comum Fernando Callage. Encontrávamos nesta pensão, eu, Plínio Salgado, Raul Bopp e outros.

15 - Na relação de colaboradores de revista Mocidade, notei ausência de nomes ligados ao modernismo de São Paulo. Por quê?

Na época não me entrosei com eles. Deveria ter feito. Talvez tivesse conseguido o apoio que não obtive no meio estudantil.

16 - Por que esta ortografia diferente na revista Mocidade?

Era uma ortografia que Carlos Vasconcelos, escritor do norte, defendia, dando importância mais à parte fonética. Foi um escândalo. Transcrevi em Mocidade um artigo de Carlos Vasconcelos, "Velhos preconceitos". Achava que se devia modernizar também os meios de expressão.

17 - Quais os objetivos da revista?

Ao publicar Mocidade, fui um tanto ambicioso. Pretendia que se fizesse naquela época no Brasil um movimento nacionalista de caráter construtivo e orgânico, como foram os movimentos que deram impulso e serviram de marco decisivo ao progresso da vida .nacional. Por exemplo, o movimento da independência, a libertação dos escravos e a república. Este movimento nacionalista se calcaria na obra dos colaboradores efetivos da revista.

18 - O que o Sr. quer dizer com nacionalismo orgânico, construtivo?

O nacionalismo decorria das circunstâncias da época que procurava demonstrar que a realidade brasileira não poderia se circunscrever àquele ufanismo nacionalista predominante em certos círculos políticos. Devia-se encarar nossos problemas com mais objetividade de modo que se pudesse contrapor à política dominante, uma política mais eficiente com realizações capazes de atender às necessidades do povo brasileiro. Por isto é que Oliveira Vianna, Vicente Licínio Cardoso e o próprio Alberto Torres vinham fazendo críticas severas ao idealismo da antiga constituição, sem correspondência prática na vida política.

19 - De que maneira este nacionalismo se contrapunha ao ufanismo? E na prática, o que propunha?

Pensava-se em formar um grupo de jovens intelectuais que pudessem promover, - inicialmente, uma campanha pelo voto secreto, e pela participação na vida social e política brasileira. E sobretudo, pregavam o serviço civil obrigatório em substituição ao serviço militar. Por exemplo, o estudante, durante o curso, nas férias e mesmo depois de formado, deveria participar da vida social brasileira, através de excursões pelo interior, no sentido de observar e conhecer as condições de vida das populações do interior do país.

20 - Qual o intelectual brasileiro com quem mantinha maior contato?

O único publicista que procurei com maior assiduidade foi Pontes de Miranda que na época defendia idéias semelhantes às de Vicente Licínio Cardoso. Eram idéias socialistas no sentido reformista e não propriamente revolucionárias ou marxistas. A revista traduz, pelo seu corpo de colaboradores a compreensão de que havia por parte de alguns estudantes: a preocupação com os estudos brasileiros. Pois vejam: Oliveira Vianna, Graça Aranha, Pontes de Miranda, Ronald de Carvalho, Vicente Licínio Cardoso, Dario Veloso (filósofo no Paraná), Ãngela Guido, Plínio Salgado, Afrânio Peixoto, Fernando de Azevedo, João Ribeiro demonstram a evidência de que os estudantes já estavam em contato com os pensamentos mais modernos. Estes publicistas, desde os tempos do famoso pensador político Alberto Torres, vinham focalizando a realidade dos problemas brasileiros.

21 - Como o grupo começou a se interessar pelos problemas brasileiros?

Através de livros, jornais? Foi a leitura destes publicistas e o contato pessoal. Tive a preocupação de fazer com que as idéias apresentadas nos livros atingissem um público mais amplo, sobretudo a mocidade da minha época.

22 - O que era o Partido da Mocidade?

O partido era constituído de jovens da Faculdade de Direito. Defendia um programa muita próximo ao do partido democrático. O Partido da Mocidade não chegou a ter candidatos, nem participou de eleições. Participou de uma campanha do voto secreto, pela moralizarão dos costumes políticas. Não tinha maiores perspectivas, e seus objetivos não se identificavam com a aspiração da mocidade da época. Posso assegurar que a crítica feita pela revista Mocidade ao partido se justificou plenamente. A plataforma do partido baseava-se em um programa de ação social, em elevar o nível moral de nossa sociedade por meio de campanhas em prol da educação social, higiênica, a favor do voto secreto e contra o alcoolismo. Era por esta plataforma que a partido deveria ter iniciado o seu trabalho e não se limitar a compelir nos pleitos' eleitorais. Votar, mais pra quê? Na época não havia voto secreto. Os chefes políticos tinham os seus capangas, faziam eleições a bico de pena e com atas falsas.

23 - O que fez depois da Mocidade?

Resolvi me dedicar ao movimento de emancipação dos trabalhadores. Naquela época não havia perspectivas de um socialismo democrático. O movimento operário era liderado pelos anarquistas que pouco a pouco foram perdendo as lideranças, sobretudo, por causa do êxito da revolução russa. Fernando de Azevedo, João Ribeiro demonstram a evidência de que os estudantes já estavam em contato com os pensamentos mais modernos. Estes publicistas, desde os tempos do famoso pensador política Alberto Torres, vinham focalizando a realidade dos problemas brasileiros.

21 - Como o grupo começou a se interessar pelos problemas brasileiros? Através de livros, jornais?

Foi a leitura destes publicistas e o contato pessoal. Tive a preocupação de fazer com que as idéias apresentadas nos livros atingissem um público mais amplo, sobretudo a mocidade da minha época.

22 - O que era o Partido da Mocidade?

O partido era constituído de jovens da Faculdade de Direito. Defendia um programa muita próximo ao do partido democrático. O Partido da Mocidade não chegou a ter candidatos, nem participou de eleições. Participou de uma campanha do voto secreto, pela moralizarão dos costumes políticas. Não tinha maiores perspectivas, e seus objetivos não se identificavam com a aspiração da mocidade da época. Posso assegurar que a crítica feita pela revista Mocidade ao partido se justificou plenamente. A plataforma do partido baseava-se em um programa de ação social, em elevar o nível moral de nossa sociedade por meio de campanhas em prol da educação social, higiênica, a favor do voto secreto e contra o alcoolismo. Era por esta plataforma que (o partido deveria ter iniciado o seu trabalho e não se limitar a compelir nos pleitos eleitorais. Votar, mais prá quê? Na época não havia voto secreto. Os chefes políticos tinham os seus capangas, faziam eleições a bico de pena e com atas falsas.

23 - O que fez depois da Mocidade?

Resolvi me dedicar ao movimento de emancipação dos trabalhadores. Naquela época não havia perspectivas de um socialismo democrático. O movimento operário era liderado pelos anarquistas que pouco a pouco foram perdendo as lideranças, sobretudo, por causa do êxito da revolução russa.

24 - Fale da sua participação como repórter na Assembléia Constituinte.

Depois de 30, voltei ao Rio e trabalhei em vários jornais: Radical, Diário de Notícias, daí fui escolhido para repórter na Assembléia Constituinte em 1933. Nesta ocasião atuei politicamente como militante socialista. Tinha rompido com o Partido Comunista. Com um grupo de jornalistas e alguns deputados classistas (representante dos operários) de vários Estados fundamos o partido socialista proletário (l934) responsável pelo jornal Trabalho. Em 37 voltei a São Paulo, para trabalhar na Folha da Noite. Cassiano Ricardo, diretor do DIP (Departamento de Imprensa do Estado Novo) conseguiu-me emprego na Agência Nacional dirigida por Cândido Motta Filho.