Depoimento de Renato Almeida

l - Até quando circulou Movimento Brasileiro (MB)?

MB que nós fazíamos com a ajuda de Graça Aranha, circulou até a revolução de 30. Vencida a revolução, pouco depois morre o Graça, de modo que, nós perdemos um pouco de estímulo para continuar esta publicação.

2 - Como foi recebida a revista MB pelo público?

A revista teve grande repercussão no Brasil. Foi vendida em todos os Estados onde tínhamos amigos escritores que trabalharam para MB divulgando e enviando artigos, acolhendo o apelo de libertação que lançávamos na literatura brasileira. Depois o modernismo venceu, não havia mais necessidade de propaganda. A propaganda era ele próprio e a afirmação dos grandes escritores modernos que apareceram depois: Jorge Amado, Jorge de Lima, Graciliano Ramos.

3 - Como era organizado o sistema de vendas?

Enviávamos os exemplares para nossos amigos que se tornavam assinantes e colocávamos nas livrarias para vender.

4 - Quais os fundadores da revista?

Podemos dizer que os fundadores foram Graça Aranha e eu. Publicamos uma coisa muito interessante, uma série de artigos chamados "Revisão de valores". Era um balanço para examinar o que tinha ficado dos grandes escritores das gerações passadas no modernismo.

5 - Quem fazia os artigos de abertura de revista e o repertório?

Estas seções eram redigidos umas pelo Graça outras por mim.

6 - Quem era o líder?

A participação de Graça Aranha foi decisiva, definitiva, era a cabeça orientadora do movimento.

7 - Ainda existe a Fundação Graça Aranha?

Esta Fundação deixou de existir quando acabou o dinheiro. Sem isto não se podia dar prêmios.

8 - A revista MB deu grande cobertura a visita de Le Corbusier ao Brasil. Como se deu o contato com o arquiteto?

Conversamos longamente com Le Corbusier que fez um artigo especialmente para MB sobre o Rio de Janeiro, tratando do processo de urbanização das encostas dos morros. Um pouco de fantasia, mas foi uma coisa bonita que mostrou o seu interesse pela realidade brasileira.

9 - A revista no 1.0 número fala de um incidente provocado por um escritor brasileiro e que envolveu o jornal li Piccolo. O senhor se lembra deste episódio?

Não me lembro.

10 - A revista atingiu os objetivos pretendidos?

MB atingiu os seus objetivos que eram sobretudo incentivar os jovens a olhar a realidade brasileira da qual queríamos ser verdadeiros intérpretes. Eu me sinto fruto direto disto, hoje trabalho na Campanha de Defesa do Folclore. Fomos nós os modernistas que iniciamos este movimento em prol do folclore. Mário de Andrade foi um dos grandes orientadores que como eu encarou a cultura popular como elemento essencial da vida cultural brasileira. O modernismo venceu completamente, basta hoje olhar a literatura brasileira e ver a influência que exerceu este movimento.

11 - Qual foi o programa de MB?

Resolvemos fazer a revista para prestigiar o movimento modernista, combatendo o passadismo. Os modernistas acabaram entrando para a Academia, embora sempre lutássemos contra as formas passadistas que existiam na .literatura brasileira.

12 - Havia uma orientação definida para a revista?

Tomamos todos a orientação moderna. Não se ditava regras. Cada um fazia o que queria, cada um dava o seu recado à sua maneira e dentro de uma única orientação: fazer coisa nossa e coisa nova. Este era o grande lema.

13 - O senhor acha que o pessoal de MB formava um grupo à parte dentro da Literatura Brasileira?

Nós nunca constituímos um grupo. Éramos todos amigos, estávamos sempre de acordo, conversávamos sobre os mais variados assuntos. Não constituímos um grupo no sentido que a palavra grupo está limitada a uma diretiva. A idéia principal era ser moderno.

14 - Quais os escritores ou intelectuais com quem o grupo mantinha mais contato?

Jackson de Figueiredo foi um intelectual que nos prestigiou muito.

15 - Como eram as relações do grupo de MB com os modernistas de São Paulo?

Nós eramos amigos de Oswald de Andrade e Mário de Andrade e toda aquela gente que dava grande impulso ao modernismo.

16 - Como o grupo de MB via as manifestações do movimento antropofágico?

Víamos com a maior simpatia, com o maior entusiasmo estas manifestações. Mas não podíamos concordar com tudo. Havia muita divergência entre nós, mas isto não nos afastava do ideal moderno.