APRESENTAÇÃO

Planejei traçar este perfil intelectual convencida de que, ao contrário de Flaubert, o cidadão Oswald de Andrade apresenta-se inteiramente visível na sua obra. Dividi a história do escritor em quatro grandes capítulos, na realidade, síntese de momentos radicalmente diferentes de uma trajetória agitada. Os títulos dos capítulos - A vida em mi bemol, O salão e a selva, O Solo das catacumbas e Para lá do trapézio sem rede - bem como a divisão cronológica foram emprestados de Oswald que pretendia escrever um diário também em quatro partes, com esses nomes. Procurei examinar as diferentes faces, inclusive aquelas não tão nobres, dessa controvertida figura, respeitando, antes de tudo, a história e a verdade, buscadas ou confirmadas primordialmente através de material escrito. Meu interesse por Oswald começou quando pesquisei sobre a Revista de Antropofagia (A vanguarda antropofágica. Ática,1984) e organizei parte da coleção do escritor, então depositada no Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Empenhei-me em reunir o maior número possível de documentos ligados a Oswald. Por meu intermédio, D. Adelaide Guerrini de Andrade, sua nora, depositou na UNICAMP a coleção que Nonê (Oswald de Andrade Filho) preservou com carinho. Os demais membros da família Andrade animaram-se com a possibilidade de ver o acervo de Oswald reunido e decidiram transferir para a aquela Universidade o material outrora depositado no IEB. A partir daí, dediquei-me, por muito tempo, a coordenar a catalogação de todo o acervo, cujo índice analítico da coleção foi concluído em 1988. Para marcar essa etapa do trabalho, organizei um número especial sobre Oswald da revista Remate de Males (1986) do Departamento de Teoria Literária da UNICAMP. Nesta revista, entre outros textos, publiquei o resumo desse perfil biográfico, através de fotocronologia, ilustrada com material do acervo e fotos emprestadas pela família. Ao comemorar o centenário de nascimento de Oswald, o suplemento CULTURA de O Estado de S. Paulo fez um número especial em janeiro de 1990. Nessa oportunidade foram publicados trechos do primeiro capítulo desse ensaio a cronologia detalhada do escritor. Todo esse material serviu e tem servido de fonte de informação, bibliografia básica e de apoio à pesquisa de outros estudiosos da obra desse importante modernista. Simultaneamente, desenvolvi outros trabalhos relacionados com Oswald. Como parte da coleção da sua obra completa, organizei os volumes de Entrevistas, o Dicionário de bolso e a reunião dos ensaios de Estética e Política. Durante o processo de exploração do fascinante universo oswaldiano, envolvi-me numa das tarefas mais prazeirosas de toda pesquisa. Juntamente com Timo de Andrade, montei o diário do artista plástico Oswald de Andrade Filho: Dias seguintes e outros dias. Esse diário forneceu dados reveladores do percurso oswaldiano sobretudo nos anos trinta. Durante o trabalho de montagem do livro de Nonê, tive satisfação de conviver com D. Adelaide. Por sinal, nora e cunhada de Oswald, D. Adelaide tornou-se, ainda nos tempos da rua Jurema e na paradisíaca Guaiuba (a pasárgada de Nonê) parceira incansável nessa biografia, recontituindo com humor os momentos vividos junto a Nonê, Oswald e Julieta Bárbara. Desencavou papéis e mais papéis que embasaram a construção desse perfil intelectual. À D. Adelaide minha gratidão pelos inumeráveis depoimentos e sobretudo pela confiança em ceder-me documentos de sua coleção particular. À Julieta Bárbara, irmã de Adelaide e mulher de Oswald, também gentil e irreverentemente forneceu detalhes sobre a vida do poeta nos anos 30/40 e emprestou material, meus agradecimentos. Devo também a Frederico Jaime Nasser, incentivador constante do meu trabalho, certeiras intervenções e a disposição de realizar o projeto gráfico do livro. Considerando que há uma extensa bibliografia sobre Oswald de Andrade no nº 06 da Revista Remate de Males, enumero apenas os livros citados no corpo desse ensaio. As obras de Oswald de Andrade estão arroladas na cronologia. Na realização do capítulo 2 - O salão e a selva - entre outros textos, utilizei-me primordialmente da excelente pesquisa de Aracy Amaral (Tarsíla sua Obra e seu Tempo).